
Ontem à noite, ao ler o Expresso, fui ver o que João Vieira Pereira (director) escrevia sobre “Do populismo e falta de moralidade”.
E escrevia ele: ” Os números mostram que mais de 420 mil pessoas já estão lay-off, com respectiva perda de rendimento. O desemprego vai disparar e as perspectivas de criação de emprego são terrivelmente desanimadoras”.
Depois JVP saltou para o Estado e, claro, desabafou o que lhe vai na alma sobre os funcionários públicos. E não poupou nas palavras: ” O Governo devia avançar rapidamente para o lay-off temporário também na Função Pública”.
Não tive insónias mas pensei cá para mim, “não te vais sem resposta”.
E a resposta chegou-me, durante a manhã, pela pena de RuiMCB, do Economia e Finanças. Transcrevo na íntegra:
Ode a João Vieira Pereira: Lay On para os FP
Ode a João Vieira Pereira! O João, no seu editorial de hoje no Expresso indigna-se por os funcionários do Estado não estarem a contribuir para o sacrifício nacional pois não há um único em lay off com corte de salário (que seria pago pelo mesmo Estado). De quem falará ele?
Diz que não é dos 30.569 médicos, nem dos 49.022 enfermeiros. Nem será dos 9.670 técnicos de diagnóstico e terapêutica. Bem como dos 1.962 técnicos superiores de saúde. Também não será dos 51366 polícias das forças de segurança ou dos 1.548 polícias municipais. Ou dos 2.292 Bombeiros.
Se bem percebi também não fala dos 136.150 professores dos vários níveis de ensino básico e secundário que continuam a dar aulas à distância e a preparar o que aí vem. Ou dos 15.241 docentes universitários e 10.470 docentes superior politécnico que continuam com aulas não presenciais.
Mesmo os políticos nacionais, regionais, locais estarão em overdrive como nunca pelo que também não será desses 2 374 que fala ou sequer dos autarcas que na larga maioria não contam para este totobola pois recebem senhas e não salário.
Será que fala dos 157.990 assistentes operacionais/operário/auxiliar (aqueles que constituem, no Estado, o grupo com mais infetados) que contém, lá pelo meio, a malta que está nos hospitais, centros de saúde, que nas autarquias continuam a desinfetar ruas e enterrar mortos? Se calhar não.
Talvez sejam os 87.448 assistentes técnicos/administrativos bom, mas também nesses os há que estão em teletrabalho a apoiar os 67.965 técnicos superiores que desenham e acodem a empresas e particulares com todas as medidas de exceção.
Já sei, são os dirigentes, os 11 107 dirigente intermédios e os 1 713 dirigentes superiores. Mas espera, quem define trabalho, organiza o trabalhado à distância, distribui pessoas para outras áreas críticas neste período? Não também não devem ser esses.
Talvez os 5 181 informáticos? Eh pá, também não! Esses andam completamente debaixo de água a tentar que tudo funcione à distância e a trabalhar como nunca. Os 403 diplomatas? Bom, esses andam em roda viva à procura de garantir equipamentos e razoabilidade entre pares
Serão os magistrados, todos os 3 801? Bom, parece que há muitos processos ainda em curso e muito trabalho acumulado que implica ler, estudar e despachar. Ná. Também não andam a coçar a micose.
Estão -se-me a acabar os suspeitos. Mas… serão os 3 441 tipos da Investigação Científica? Os de biomédicas? Os de economia? Quais? Sim, haverá alguns que ficaram em casa mas até esses estão de prevenção e podem ser chamados a qualquer momento como determina o Estado de Emergência.
Pois é JVP, provavelmente NUNCA em tempo de paz os mandriões do Estado mandriaram tão pouco. Se calhar NUNCA tantos sentiram o peso e importância de cumprirem e se calhar NUNCA os que eles servem reconheceram tão facilmente quão importante é o seu trabalho para comunidade.
Saúde!”