
A cidade de Beja acordou há dias com vários testemunhos e relatos de alegadas tentativas de assaltos, abusos sexuais, perseguições supostamente levadas a cabo pela comunidade imigrante.
Tem sido uma constante nos últimos tempos este tipo de relatos, o que não é necessariamente correlato de veracidade, pelo que a ESTAR quis saber, junto das autoridades, o que verdadeiramente acontecia, designadamente se haviam sido apresentadas queixas. Concomitantemente, demonstrámo-nos disponíveis para colaborar em tudo o que as autoridades entendessem necessário. Há já um ano que trabalhamos direta e diariamente com a comunidade imigrante. Através do projeto Marmita, temo-la conhecido, apoiado e sensibilizado para as nossas tradições, sem nunca desrespeitar as dos seus países de origem, dado que todo o ser humano tem direito inexorável à sua cultura, desde que esta, obviamente, não viole a lei da do país acolhedor.A Associação ESTAR logo teve conhecimento de que todas as acusações eram infundadas e não se baseavam no apuramento de quaisquer factos, logo se demonstrando profundamente preocupada com um grupo criado no Facebook que vinha ganhando alguma força e que partilhava os alegados ataques, reunindo inúmeras publicações e comentários de cariz xenófobo. Para alémde termos procedido à capturas de ecrã, na eventualidade de as ditas publicações serem apagadas, logo tratámos de denunciar os seus conteúdos, bem como os comentários a que deram origem, identificando cada um, antes de mais para memória futura.Jamais esqueceremos o que se passou nesta última semana onde estava inclusivamente programada uma manifestação, em que se pretendia gritar nas ruas por mais segurança e onde se traçava um percurso que passaria pelas residências de muitos dos imigrantes falsamente acusados. Reforçamos o falsamente acusados uma vez que não foi, formalmente, apresentada qualquer queixa na PSP.
A Associação ESTAR repudia sem reservas e em absoluto este tipo de ações e acusações e pugnará, como tem feito desde sempre, pela defesa da igualdade e pela garantia de melhores condições de vida para todos aqueles que nos procuram.Mais informamos que somos um país de acolhimento de refugiados e que em breve a cidade de Beja irá acolher duas famílias que procuraram o melhor para os seus, fugindo da guerra, atravessando o Mediterrâneo em botes de borracha, com filhos nos braços, sem mais do que esperança de acabar a jornada todos vivos, em terra firme — terra firme essa que consistiu primeiramente em campos de refugiados e muito em breve será Beja, com a Associação ESTAR.
Todos os dias nos orgulhamos do nosso trabalho e, por vezes, a nossa cidade não corresponde; não obstante, estamos preparadas, para que, ainda que seja no porta a porta, explicar a cada bejense que há atitudes inaceitáveis no século XXI e que todas elas têm consequências. Sabemos também que foi perdida uma oportunidade relevante para discutir de forma séria a violência sexual, a partir do momento em que usaram os imigrantes como bodes expiatórios.
Não esqueceremos igualmente que o grupo de Facebook que nasceu para causar este alarme social era dirigido e composto por pessoas que considerávamos esclarecidas, que têm profissões de responsabilidade na educação das nossas crianças e jovens; dele constavam comentários abonatórios de pessoas com responsabilidades em instituições respeitáveis e despeitadas da nossa cidade. Não olvidaremos também que este alarme levou a que alguns senhorios quisessem desalojar os inquilinos imigrantes: não bastando já as condições em que vivem e trabalham, iriam ainda para a rua com tudo o que isso acarreta. Todos os atos têm consequências e esta situação não terminou quando o grupo foi eliminado. O pensamento existe, as pessoas são reais. E nós, ainda incrédulas, sugerimos a todos que vejam e assistam com olhos de ver e sentir, a série que começou ontem na RTP, onde estão relatos, na primeira pessoa, de imigrantes que vivem entre nós. Olhar e ver não é para todos, mas nós cá estamos e estaremos para ajudar, ao menos para elucidar e denunciar com provas quando os indícios são de crime. Venha ele de onde vier.
A todos aqueles que têm receio de procurar as autoridades, estamos cá para ajudar.A todos aqueles que precisam de ajuda para melhor compreender o que se passa à sua volta, também estamos cá.
Só uma última nota, se as crianças e jovens estão assustados com tudo o que se tem passado é imperioso que se faça uma avaliação do que verdadeiramente está na origem desse medo. Que se elucidem com quem realmente sabe o que se passa e com a realidade.