Célia -37-
25 de Agosto de 2004O seu olhar nada tinha de sereno. Apesar de me dizer que sim, que estava calma, vi-lhe no rosto marcas de noites de sem dormir, os olhos sem o brilho dos outros dias e noites, uma sombra toldava-lhe a expressão.
Tens a certeza que é mesmo esse o caminho que queres seguir, tentei eu indagar do que mais a atormentava. Pela primeira vez, naqueles quinze minutos de café, agarrou-me uma das mãos, com uma intensidade que me fez estremecer. As lágrimas assomaram-se e os seus olhos tomaram uma beleza que eu nunca lhe tinha visto. Eu não a queria ver chorar, mas aquele súbito encantamento que o seu rosto tomou, fascinou-me. Contive uma forte vontade de a beijar. Não estava ali para a confortar. Célia é forte demais para aceitar um conforto.
“João, ajuda-me! Tenho que partir, mas precisava de ficar”.
Que espécie de ajuda se pode oferecer a quem escolhe um caminho que não quer seguir?
Não lhe podia dizer não vás, e também nunca lhe diria fica!
Tentei articular algo que lhe desse alguma força. Mostrar-lhe que eu estaria sempre ao seu lado, que a ajudaria. Mas até eu estava a sentir-me fraquejar nessa minha vontade. Não sei se o meu ânimo não seria derrotado pelo tempo e pela distância.
Sem perder a determinação que a faz ser uma mulher especial, mas vendo-me afundar, e quase em jeito de súplica, sacudiu-me com um “Não desisto. Mesmo que tu desistas. Aguenta, João!”
Não sei se lhe fiz alguma promessa, se lhe transmiti algum sinal, mas fiquei com o sentimento de que ela acredita que eu não vou desistir.
Coincide com o meu.