Jan 25 2019

Saneamento, mentiras e vídeo

Publicado por as 21:14 em A minha cidade

Editorial de Paulo Barriga

    Ao Pedro Ferro, meu bom mestre e eterno amigo.

“Saneamento, mentiras e vídeo

É em si, estimável leitor, e apenas em si que penso nesta hora de abalar. Porque foi a pensar em si, e apenas em si que nos lançámos há oito anos na tarefa de “refundar” o “Diário do Alentejo”. Aqueles a quem restar um pedaço de lembrança reconhecerão que não se comete grande exagero quando se fala em “refundação” para referir o que aconteceu nos últimos anos ao último jornal público do País. Até então, e desde o momento em que os municípios do Baixo Alentejo se associaram, no início dos anos 80 do século XX, para adquirir o título, que o “Diário do Alentejo” se transformou num autêntico pasto para a piromania político-partidária regional. À sua vez, e dependendo dos equilíbrios das forças em parada, comunistas e socialistas disputaram-no, usaram-no, instrumentalizaram-no. Com mais ou menos pudor. Com mais ou menos decência. E só um milagre eleitoral, como aquele que ocorreu em 2009, em que PS e CDU obtiveram o mesmo número de autarquias e o PSD se constituiu como fiel da balança através do município de Almodôvar, se pôde interromper a alternância sectária que até então grassou no jornal. É daí que vem a direção agora cessante, posta, pela primeira vez, por intermédio de um concurso público que valorizou o currículo dos proponentes e a natureza do projeto editorial. E a natureza do projeto que hoje finda, isso o saberá melhor do que ninguém o bom e fiel leitor, assentou apenas num pressuposto: no jornalismo, enquanto força motriz fundamental dos sistemas democráticos. Simbólica, é um facto, mas a primeira iniciativa que se tomou nesse sentido foi, após a apresentação do novo diretor aos jornalistas, convidar os presidentes de câmara a abandonar a sala da redação. Nesse dia inaugural ficaram logo muito bem definidas as fronteiras. E ainda melhor o ficaram quando se prescindiu de todos os cronistas políticos que asseguravam uma espécie de equilíbrio podre entre as partes conflitantes. O combate político sanguíneo e o comunicado partidário de gaveta deram, desde então, lugar às pessoas. Às suas realizações, aos seus conseguimentos individuais e coletivos, aos seus méritos, às suas aspirações, às suas necessidades. A cultura tomou o lugar da desgraça. As aldeias, mesmo as mais ínfimas e remotas, tornaram-se para nós o centro do mundo. A história de vida do indivíduo anónimo passou a importar. A identidade de um povo impôs-se às clubites e às partidarites. A valorização das pessoas em si, em vez do enaltecimento do poder que algumas pessoas em particular detêm, foi, pode dizer-se agora, a matriz editorial deste projeto. O seu fundamento. A sua razão de ser. Um jornal, qualquer que seja, porque tenta fixar a história num tempo presente, é necessariamente um álbum de erros. Já um bom jornal, sabendo o erro como companheiro inevitável, tenta escapar-lhe o mais possível, investigando, confrontando, parando para pensar e para questionar. Foi o que fizemos (ou tentámos fazer). Isso, lá fora, valeu-nos prémios e reconhecimento. Cá ao perto, pressões indizíveis e censura. Ao termos estabelecido a nossa própria agenda, absolutamente marginal à agenda oficial, experimentámos algo de libertador para o jornalismo que talvez nunca antes tenha sido experimentado em Portugal. E isso deixa-me tão feliz nesta hora de abalar como o facto de o ter tido e sentido, estimado leitor, sempre por perto.”

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9 Resposta a “Saneamento, mentiras e vídeo”

  1. alentejano diz:

    1 – Saneamento

    Só tem a fazer uma coisa em caso de ter provas do que afirma no editorial PB, participação ao Ministério Público

    2 – Mentiras

    Durante este mês saíram 4 edições, no editorial que sempre teve à disposição PB, era clarificá-las e dar conhecimento aos leitores

    3 – Vídeo

    Penso que se refere a um dos itens do concurso no Diário da República, só pode ser contra a eventual abertura de um site de qualidade.

    Gostei do texto de despedida magoada e sentida, mas o auto-elogio é feio, deixe-o para os leitores e felicidades para o futuro próximo.

  2. João Espinho diz:

    @alentejano- quando não há argumentos para atacar a mensagem, ataca-se o mensageiro. Lê o editorial e depois volta cá. Uma sugestão: quando tenho dificuldade em compreender um texto, lei-o em voz alta. À segunda, costuma fazer-se luz.

  3. Paulo Barriga diz:

    Caro João, este texto tem uma epígrafe que é fundamental para a sua compreensão e que, pelos vistos, não foi publicada no Facebook do “Diário do Alentejo” : “Ao Pedro Ferro, meu bom mestre e eterno amigo”.
    Cumprimentos do PB

  4. João Espinho diz:

    @paulo – obrigado pelo alerta.

  5. Carlos diz:

    Bla bla bla, Bla Bla Bla…. Já passou, vida nova!!! Nada é eterno.
    Saúde e passe bem!

  6. SERGIO diz:

    @Espinho— o Pedro Carmo já alargou a coleira ao Xuxas , pois já voltaram à blogosfera .

  7. Mais Beja diz:

    Ficou, nesta nota de despedida, o que foi o Diário do Alentejo com o Paulo Barriga: tirou os políticos e os partidos e meteu as pessoas comuns, apartidárias, livres e esquecidas. E isso, é muito.

  8. Carlos diz:

    Mais Beja, essa é mesmo mas mesmo para rir!!!

  9. João Espinho diz:

    @carlos- não percebi. Se discorda, desenvolva.

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