Ainda o Diário do Alentejo
20 de Dezembro de 2018Transcrevo na íntegra, e com a devida vénia, texto que Bruno Ferreira publicou no Facebook:
“DIÁRIO DO ALENTEJO
Não consigo retirar do palato este travozinho a saneamento relativamente ao que se está a passar com direcção do jornal Diário do Alentejo. Cheira mesmo a manobra concertada de afastamento de um director que há cerca de dez anos ajudou a levantar um jornal moribundo, retirando-o de um charco de política lamacenta, e fazendo de um mero pasquim propagandístico (sem ofensa a quem lá trabalhava, que outro remédio não tinha se não o de cumprir ordens), um marco de jornalismo regional do Baixo Alentejo, que tem conquistado sucessivos prémios nacionais e mesmo fora de portas, relativos a tantas matérias abordadas pelos seus jornalistas. Pela mão do Paulo Barriga, que ainda o mês passado ganhou uma bolsa da Gulbenkian para investigar a mudança fundiária em zona do Alqueva (entre 75 projectos), o Diário do Alentejo é hoje um jornal de referência, com conteúdo desenvolvido, como qualquer semanário, com informação interessante e diversa, e com opinião livre.
Este órgão de Comunicação Social, com mais de 80 anos de história, faz parte das semanas dos alentejanos que ainda resistem a sair do Baixo Alentejo mas também, e cada vez mais, é veículo da informação e cultura baixo alentejanas para muitos dos que se viram obrigados a litoralizarem-se, como é o meu caso, pela falta crescente de condições com que os Governos da Nação se habituaram a premiar o Baixo Alentejo. E essas mesmas denúncias foram sendo, ultimamente, e de forma transparente, vertidas nas suas páginas, sem favorecimentos partidários, fugindo a clientelismos e a jogos de poder, chamando os bois pelos nomes e, sobretudo, mantendo a isenção requerida pelo código de ética e deontologia jornalística, da qual o Paulo Barriga é um ilustre baluarte.
Pois toda essa massa crítica, todo esse custoso trabalho e isenção jornalística, estão prestes a escapar-se dos seus leitores como areia fina por entre os dedos de uma mão. Não trata esta minha análise de criticar a saída do Director Paulo Barriga, apenas por ser quem é: é natural que as pessoas se sucedam umas às outras em cargos que, sendo rotativos, apenas promovem novas abordagens e formas de olhar o mundo, ao mesmo tempo que afastam vícios característicos da cristalização do poder. Desde que o ponto de partida seja manter uma linha que valorize o que está bem feito, melhorando o que possa não estar tão bem.
Contudo, e metodologicamente, a questão vai muito para além deste aspectos práticos. É necessário que o método dessa alternância se cumpra com independência, justiça, transparência e imparcialidade. Que se talhem caminhos livres e democráticos na atribuição de cargos e na escolha dos seus titulares. Que não surjam pelo caminho manipulações de clientelismos e caciquismos. Que quem escolhe e selecciona tenha capacidades, conhecimentos e vocação válidos para o fazer. E a minha preocupação, dúvida e incerteza, esbarra justamente nestas etapas.
Pelo que leio do Anúncio de procedimento n.º 10865/2018, publicado no Diário da República número 242, de 17 de Dezembro de 2018, Parte L, para contratos Públicos, da responsabilidade da CIMBAL – Comunidade Intermunicipal do Baixo Alentejo, e proprietária do Diário do Alentejo, ficam várias dúvidas no ar, e que parecem conduzir para uma candidatura pré-formatada à partida. Quero acreditar que não. Quero acreditar que haja um processo de recrutamento justo, democrático e transparente; um júri qualificado e honesto, sem tentações partidárias; candidatos de valor e, sobretudo, que impere a lisura em todas as etapas da escolha do futuro Director do Diário do Alentejo. Deixo a minha declaração de intenções: sou amigo leal do Paulo Barriga; sou colaborador do Diário do Alentejo desde 2008, sempre a título gracioso; sou fiel aos princípios da justiça e honradez.”