Jun 11 2017

Beja – uma herdade murada?

Publicado por as 10:00 em A minha cidade,Blogosfera


foto: joão espinho

Sobre o que aqui escrevi, comentou um leitor:

“Vivi em Beja na década de 80.
Lembro-me do desperdício gerado pelos fundos europeus da PAC. E dos marcos da Luftwaffe.
A Belle Epoque alentejana, esses saudosos anos 80.

Em jipes, barcos, e montes alentejanos, foram parar os dinheiros europeus. Não na modernização do tecido produtivo.

Fala em mais Estradas? Ou em acabar as projectadas? Fala na locomotiva? No avião?
Vá a Trás os Montes e veja o que por lá se passa, ou que deveria passar não com a pressa alentejana. Beja e o Baixo Alentejo já estão mais que servidos. Na Primavera-Inverno quando por lá vou, nem um carro vejo na Autoestrada que a serve, antes de entrar no IP-8. E nesta mesma estrada circula-se velozmente. Para quê então mais estradas? Tapem-se antes algumas.

Fale antes nos Serviços de Saúde medíocres que Beja oferece aos seus cidadãos (O Hospital Distrital até há pouco tempo teve a sua maquineta de TAC avariada durante semanas. Cardiologistas até há bem pouco tempo era um ou dois, etc – Quem lucra com isso? As clinicas privadas e os consultórios que abundam nessa vila despida?)

Beja….
O latifundiário, de peito aberto mostrava o pelo com que era feito. Do bordão, junto à cruz do peito, mostrava o santinho em que não acreditava, mas que lhe dava jeito. A sua oração era a do pito. A mulher, tida ou mantida, aprimorada e vestida à espanhola, fazia da loja, no centro da cidade, não um negócio, mas uma sala de chá, onde se bebericava laudações à maledicência. E se mostrava, da montra fez lema de vida.

Os grandes beneficiários? As mesmas famílias que fizeram e fazem (?) de Beja, há décadas, a sua herdade murada – Em Beja a ascensão social é inexistente. Call centers, manicuras, ou cafés são as suas Novas Oportunidades. Até os Serviços, Beja tem perdido para Évora….em Beja é o apelido e não a mão que marca o destino.

Beja definhou desidratada de vontades e abandonada de valores…

Uma cidade que fez da sombra e dos cantos, a sua mesa de operações. Pelos Partidos, pelo “conhecimento” do apelido, e pela informação privilegiada traficaram-se sinecuras- ex: EDIA/PSD, Câmara Municipal/PS/PCP,etc

Quem chupou Beja até ao osso? Os mesmos que nesses anos olhavam para o lado quando se falava em voz baixa, num misto de indignação e ironia, ao som de um fado árabe a tinto, as indignidades que por lá se pavoneavam – durante muito tempo Beja teve no pavão do jardim publico o seu totem.

Mas era a Belle Epoque, e todos, de uma ou outra forma lucraram com o roubo concedido. Mataram a terra e as suas gentes. Mas ninguém os pode levar a mal. Era a Belle Epoque.

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3 Resposta a “Beja – uma herdade murada?”

  1. enxoe diz:

    Mataram e continuam a matar…a matança ainda não acabou!mas já me vou sentindo culpado de qualquer coisa!não sei bem o que^mas cada vez me sinto mais mal!já não temos actualmente a desculpa dos grandes latinfundiários.Esta porra mudou mas não foi para melhor,mudou de forma…!

  2. ATENTO diz:

    Concordo com muito do que aqui está dito, não concordo com o todo.
    Dizer que Beja e o Baixo Alentejo “já estão mais que servidos”, entendo que de estradas e transportes, sugerir inclusive que se tapem autoestradas, parece-me um tanto exagerado. No presente, não temos autoestradas que nos sirvam directamente, por isso é impossível ver nelas, as inexistentes, qualquer circulação; a ferrovia é obsoleta e desajustada das novas realidades; o avião (aeroporto) é um elefante branco que de nada nos serve, precisamente por ser, pomposamente, um Aeroporto Internacional. Vem também uma sugestão comparativa com Trás-os-Montes. Se recuarmos 40 anos, estávamos melhor, mas hoje, comparar Beja com as suas administrativamente iguais Vila Real e Bragança, ficamos mal colocados. Acrescente.se também Chaves, embora com menos diferença. O Trás-os-Montes do Marão (para cá do Marão mandam os que cá estão) já passou. A última fronteira foi eliminada com a abertura do túnel, como devido. Hoje a acessibilidade é total.
    Quanto ao restante do comentário, subscrevo. Está aí o cerne do estado a que chegámos. O mais aflitivo é que as mentalidades não mudam, sinto até que se agravam-
    Para terminar, só me resta dizer que o pretendido é que se atenuem as desigualdades dos olhares da Administração Central e que se construa um país mais harmonioso. Nós, Baixo-Alentejanos, precisamos disso.
    Por favor, não nos venham dizer que já temos o suficiente ou até demais.

  3. Praça da República » Beja – as mentalidades não mudam diz:

    […] joão espinho Comentou um leitor: “Concordo com muito do que aqui está dito, não concordo com o todo. Dizer que Beja e o Baixo Alentejo “já estão mais que […]

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