Editorial
Bye-bye
Paulo Barriga
As sondagens dão vantagem ao “sim” no referendo que vai ditar a permanência da Grã-Bretanha na União Europeia. “Sim” que, neste caso concreto, quer dizer não. Um “não” que a Europa não está acostumada a ouvir. Que a Europa não está preparada para ouvir. Aliás, a política do unanimismo, comprado com cheques em branco nos corredores da tecnocracia, não contempla no seu ADN este tipo de avanço “subversivo”. A forma encontrada pela UE para atacar a crise das dívidas soberanas, com uma receita austera nada meiga para as populações, já vinha dando sinais de aproximação ao fim de um ciclo. O varrer para debaixo do tapete da questão dos refugiados e o recrudescer dos nacionalismos no centro-leste europeu confere a pitada de sal que faltava ao descalabro. Hoje, a Europa olha para o espelho e nele não encontra o reflexo da sua imagem fundadora. Melhor, nele não se reflete qualquer imagem de Europa, tal a pujança da crise identitária que a afeta. A Europa, afinal, não existe. Pelo menos para as pessoas, não existe. Não há uma ideia comum de Europa fora dos corredores das instituições. Não há um sentimento europeu. Não há uma opinião pública europeia. A Europa cresceu no vazio dos subsídios e dos fundos-perdidos e da arrogância do dinheiro. E cá está, nesta Europa em perfeita rota de naufrágio, mais um exemplo acabado de como o dinheiro não compra tudo. Onde sobrou economia e finança, faltou política e humanismo. Faltou partilha, solidariedade, respeito pela diferença. E só pode haver unidade em torno de um projeto europeu se existir conhecimento, consideração e aceitação das diversidades culturais, linguísticas e religiosas que são a matriz do velho continente. A verdadeira fotografia da Europa, por muito que nela insistam, não é, não pode ser, a preto e branco. Não é a Europa dos ricos e dos pobres. Dos contribuintes e dos beneficiários. Do norte e do sul. A verdadeira fotografia da Europa tem muitas matizes e nuances, tantas quantas os povos e as diferentes culturas que nela cabem. Esta Europa, a Europa que agora treme com a possibilidade de a Grã-Bretanha dizer bye- -bye, despertou tarde para a cidadania, se é que despertou. Mas jamais haverá uma Europa dos cidadãos, plena e legítima e a uma só velocidade, enquanto imperar o estigma da desconfiança entre os seus povos. Enquanto os nórdicos considerarem que os portugueses e que os gregos são malandros. Enquanto os franceses desconfiarem que os italianos são corruptos. Enquanto todos acreditarem que os alemães são arrogantes e insensíveis. Ou enquanto os ingleses se acharem deveras superiores a tudo isto.
24 de Junho de 2016 às 11:19
E a Escócia, a Irlanda e porque não a Turquia, a entrar ?
E a Holanda, Suécia e Filândia, a sair ?
O Futuro dos agora 27 na UE, é uma incógnita …
24 de Junho de 2016 às 16:18
Editorial
Bye-bye
Paulo Barriga
As sondagens dão vantagem ao “sim” no referendo que vai ditar a permanência da Grã-Bretanha na União Europeia. “Sim” que, neste caso concreto, quer dizer não. Um “não” que a Europa não está acostumada a ouvir. Que a Europa não está preparada para ouvir. Aliás, a política do unanimismo, comprado com cheques em branco nos corredores da tecnocracia, não contempla no seu ADN este tipo de avanço “subversivo”. A forma encontrada pela UE para atacar a crise das dívidas soberanas, com uma receita austera nada meiga para as populações, já vinha dando sinais de aproximação ao fim de um ciclo. O varrer para debaixo do tapete da questão dos refugiados e o recrudescer dos nacionalismos no centro-leste europeu confere a pitada de sal que faltava ao descalabro. Hoje, a Europa olha para o espelho e nele não encontra o reflexo da sua imagem fundadora. Melhor, nele não se reflete qualquer imagem de Europa, tal a pujança da crise identitária que a afeta. A Europa, afinal, não existe. Pelo menos para as pessoas, não existe. Não há uma ideia comum de Europa fora dos corredores das instituições. Não há um sentimento europeu. Não há uma opinião pública europeia. A Europa cresceu no vazio dos subsídios e dos fundos-perdidos e da arrogância do dinheiro. E cá está, nesta Europa em perfeita rota de naufrágio, mais um exemplo acabado de como o dinheiro não compra tudo. Onde sobrou economia e finança, faltou política e humanismo. Faltou partilha, solidariedade, respeito pela diferença. E só pode haver unidade em torno de um projeto europeu se existir conhecimento, consideração e aceitação das diversidades culturais, linguísticas e religiosas que são a matriz do velho continente. A verdadeira fotografia da Europa, por muito que nela insistam, não é, não pode ser, a preto e branco. Não é a Europa dos ricos e dos pobres. Dos contribuintes e dos beneficiários. Do norte e do sul. A verdadeira fotografia da Europa tem muitas matizes e nuances, tantas quantas os povos e as diferentes culturas que nela cabem. Esta Europa, a Europa que agora treme com a possibilidade de a Grã-Bretanha dizer bye- -bye, despertou tarde para a cidadania, se é que despertou. Mas jamais haverá uma Europa dos cidadãos, plena e legítima e a uma só velocidade, enquanto imperar o estigma da desconfiança entre os seus povos. Enquanto os nórdicos considerarem que os portugueses e que os gregos são malandros. Enquanto os franceses desconfiarem que os italianos são corruptos. Enquanto todos acreditarem que os alemães são arrogantes e insensíveis. Ou enquanto os ingleses se acharem deveras superiores a tudo isto.
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