Jan 25 2016

Hospitais

Publicado por as 12:07 em A minha cidade

Comentário deixado aqui:

Sobre este assunto já em 16 de junho de 2015 publicitei a minha posição. A saber:
“Temos vindo a assistir a um constante processo de amputação e desagregação do Hospital de Beja, numa lógica conducente a reservar-lhe um papel apenas residual na prestação de cuidados de saúde no nosso distrito. Certamente, tal situação não seria a que melhor serviria a população do Baixo Alentejo. Diz-me a minha intuição que foi algures concebida uma estratégia visando retirar financiamento à Saúde no nosso distrito. Na vertente da capitação, foi reduzida a população assistida: primeiro a do concelho de Odemira, depois os da margem esquerda do Guadiana. Na vertente da contratação de serviços produzidos, as reduções de capacidade produtiva e de qualidade resultam em menor financiamento. Na sequência das “amputações”, indaguemos se os lóbis terão força para retirar mais um concelho a norte e outro a sul. O Baixo Alentejo seria “esquartejado”, ficando apenas a zona central, para o que bastaria ter um “hospitalzinho”. Numa lamentável sucessão de irracionalidades e degradação (em que podemos classificar 2013 como o ano da capitulação), tudo sugere um “empurramento” direcionado para uma situação de factos consumados, de obsolescência e downsizing. Do nosso lado, os excessos de expectativa e “prudência” resultaram em menorização das capacidades de resistência a essa ofensiva contra o Hospital de Beja. Factos como o adiamento sine die da renovação do parque tecnológico, a redução forçada de camas, a incompreensível entrega do Hospital de Serpa à Misericórdia e a inviabilização de valências, parecem conjugar-se para que um “pequeno Hospital de Beja” antes de o ser já se configure como tal. No limite, estabelecer-se-ia uma situação comprometedora para a prestação de cuidados de saúde de qualidade e acessíveis a todos os utentes do nosso distrito.
Finalmente, esclareço que considero que o projeto de construção de um Hospital Central para o Alentejo interessa consensualmente a toda a população da Região. No entanto, no meu entendimento o conteúdo funcional de tal projeto tem de ser – imprescindivelmente e desde já – compatibilizado com a qualidade dos cuidados hospitalares no distrito de Beja.
Define-se pois como necessário um novo ciclo político que inverta o caminho suicida encetado, e em que se torne possível um futuro digno para o Hospital de Beja e para a ULSBA, integrado numa estratégia regional coerente.”

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3 Resposta a “Hospitais”

  1. Hugo Rego diz:

    Como em quase tudo na vida, nestes processos, a “culpa” raramente reside apenas num dos lados. Começando pela lógica dominante quando se aborda a ULSBA, que quase se resume, por um lado, a uma espécie de Norte vs Sul, versão Norte vs Baixo Alentejo, e por outro a uma lógica hospitalocentrista e sectorial.
    Acontece que nem a ULSBA se resume apenas aos cuidados hospitalares, nem as expectativas dos profissionais da ULSBA devem nortear qualquer debate e análise. Porque a ULSBA, tal como qualquer organismo público, existe em função dos cidadãos e não o oposto.

    Na evolução deste processo também não foi alheio um conjunto de circunstâncias que, não tenho grandes dúvidas, minaram qualquer debate e definição de defesa de uma política de Saúde para o Alentejo. É que, para além da compartimentação do debate em “O que é de Beja deverá ser sempre de Beja”, mesmo que tal nem sempre tenha sentido lógico, também se assistiu a uma compartimentação entre os interlocutores internos do debate, alheando todo um conjunto de profissionais que constitui o verdadeiro tecido da ULSBA e que pelo caminho, passaram parte do seu tempo, mais a digladiar egos e preponderâncias do que verdadeiramente a debater, reflectir, envolver e criar.
    Por isso é que hoje, perante já tantos factos e realidades constituídas, não se vislumbra a existência de uma massa crítica pensante coesa, nem tão pouco uma definição clara de um projecto de política de saúde devidamente estruturado, transparente e voltado para a sociedade.
    E para isso bastará uma questão: a ULSBA, enquanto Unidade Local de Saúde, que pressupõe a existência de uma rede de cuidados de saúde articulados, funciona, efectivamente, enquanto rede verdadeiramente articulada ? Ou o que existe é uma mera gestão, também ela compartimentada, de utentes ? Onde está a função social da ULSBA, numa região a braços com uma crise profunda e sem fim à vista ?

    Pelo caminho, aliena-se todo um corpo de profissionais, cuja maior parte tem suportado, com resiliência, diligência, profissionalismo e dedicação, a prestação desses cuidados, tentando contornar e compensar falhas estruturais de um sistema desadequado, frágil, por vêzes arcaico, e limitado. Com resultados visíveis: a dificuldade em captar, manter e incentivar a fixação de bons profissionais, pressionando negativamente até aqueles que desejariam manter-se na região.

    Pessoalmente, recuso-me a aceitar que o debate se restrinja à mera discussão do “com que vamos ficar e em que condições” e que se cinja à dignidade do Hospital de Beja e da ULSBA. Uma verdadeira política de desenvolvimento regional (e nacional) tem que ser transversal, articulada e em função daqueles que, nestas equações, raramente são tidos em conta quando, na verdade, são os que verdadeiramente contam – os cidadãos. Que, por cá, também têm a sua quota de responsabilidade na condução dos destinos da coisa pública. Que é o que significa democracia…

  2. Munhoz Frade diz:

    Muito bem, Sr. Hugo Rego. Menciona algumas das questões críticas. De facto, a Unidade Local pressupõe a integração funcional dos diversos níveis de cuidados que estão “presentes no terreno”. Essa integração trará, quando plena, ganhos de eficiência, para que os cidadãos fiquem melhor servidos. Quando se propugna um sentido estratégico novo para a ULSBA é precisamente uma visão de futuro. E quando se configura nessa visão uma organização gestionária do tipo que o Programa do Governo contempla, não é nenhum “hospitalocentrismo” o que se pretende. A integração horizontal imaginada pelos criadores das Unidades Locais terá sustentabilidade evoluindo para outras formas de integração, desenvolvendo racionalmente as fileiras produtivas. Porém, é um equívoco pensar que estamos a jogar com bairrismos, ou regionalismos. Estamos sim a contribuir para a continuidade do Serviço Nacional de Saúde.

  3. Hugo Rego diz:

    Creio que terá interpretado mal alguns dos pontos que foquei já que não afirmei que o novo programa do Governo pressupõe uma visão hospitalocêntrica e sei bem que o Dr. Adalberto defende algo bastante diferente.

    O que eu critico é o (pouco, reduzido e limitado) debate perfeitamente hospitalocêntrico a que se tem assistido até hoje e que, mesmo assim, acabou por ficar contaminado por questões de índole mais pessoal, personificando o que não o deveria ter sido.
    Em grande medida, o debate interno continua a ser hospitalocentrico e a prova disso está bem patente na questão de um Hospital Central do Alentejo (inevitavelmente, em Évora) e, sobretudo, nas preocupações sublimadas no Hospital vs Hospitalzinho. Como é que vão os CSP ? Vão bem de Saúde ? Qual é a realidade para além dos números ? E a evolução dos mesmos ? Que impacto está a ter na confiança dos utentes, dos habitantes dos pequenos focos populacionais ? Há gestão do doente ou gestão de meios apenas ?

    Quanto à lógica assente na racionalidade dos meios produtivos, por muito sensato que tal possa parecer nos tempos que correm, corre-se o risco de se ser atropelado pela realidade, baralhando todas as expectativas, legítimas ou não, na região, sobre a região, os meios e sua dimensão.

    Se, na região, já houve massa crítica para debater e trabalhar, neste momento, tenho sérias dúvidas.

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