Jan 25 2016
Ainda sobre hospitais
foto: radio-pax
Outro comentário deixado aqui:
“Como em quase tudo na vida, nestes processos, a “culpa” raramente reside apenas num dos lados. Começando pela lógica dominante quando se aborda a ULSBA, que quase se resume, por um lado, a uma espécie de Norte vs Sul, versão Norte vs Baixo Alentejo, e por outro a uma lógica hospitalocentrista e sectorial.
Acontece que nem a ULSBA se resume apenas aos cuidados hospitalares, nem as expectativas dos profissionais da ULSBA devem nortear qualquer debate e análise. Porque a ULSBA, tal como qualquer organismo público, existe em função dos cidadãos e não o oposto.
Na evolução deste processo também não foi alheio um conjunto de circunstâncias que, não tenho grandes dúvidas, minaram qualquer debate e definição de defesa de uma política de Saúde para o Alentejo. É que, para além da compartimentação do debate em “O que é de Beja deverá ser sempre de Beja”, mesmo que tal nem sempre tenha sentido lógico, também se assistiu a uma compartimentação entre os interlocutores internos do debate, alheando todo um conjunto de profissionais que constitui o verdadeiro tecido da ULSBA e que, pelo caminho, passaram parte do seu tempo, mais a digladiar egos e preponderâncias do que verdadeiramente a debater, reflectir, envolver e criar.
Por isso é que hoje, perante já tantos factos e realidades constituídas, não se vislumbra a existência de uma massa crítica pensante coesa, nem tão pouco uma definição clara de um projecto de política de saúde devidamente estruturado, transparente e voltado para a sociedade.
E para isso bastará uma questão: a ULSBA, enquanto Unidade Local de Saúde, que pressupõe a existência de uma rede de cuidados de saúde articulados, funciona, efectivamente, enquanto rede verdadeiramente articulada ? Ou o que existe é uma mera gestão, também ela compartimentada, de utentes ? Onde está a função social da ULSBA, numa região a braços com uma crise profunda e sem fim à vista ?
Pelo caminho, aliena-se todo um corpo de profissionais, cuja maior parte tem suportado, com resiliência, diligência, profissionalismo e dedicação, a prestação desses cuidados, tentando contornar e compensar falhas estruturais de um sistema desadequado, frágil, por vezes arcaico, e limitado. Com resultados visíveis: a dificuldade em captar, manter e incentivar a fixação de bons profissionais, pressionando negativamente até aqueles que desejariam manter-se na região.
Pessoalmente, recuso-me a aceitar que o debate se restrinja à mera discussão do “com que vamos ficar e em que condições” e que se cinja à dignidade do Hospital de Beja e da ULSBA. Uma verdadeira política de desenvolvimento regional (e nacional) tem que ser transversal, articulada e em função daqueles que, nestas equações, raramente são tidos em conta quando, na verdade, são os que verdadeiramente contam – os cidadãos. Que, por cá, também têm a sua quota de responsabilidade na condução dos destinos da coisa pública. Que é o que significa democracia…”
25 de Janeiro de 2016 às 22:54
Muito bem, Sr. Hugo Rego. Menciona algumas das questões críticas. De facto, a Unidade Local pressupõe a integração funcional dos diversos níveis de cuidados que estão “presentes no terreno”. Essa integração trará, quando plena, ganhos de eficiência, para que os cidadãos fiquem melhor servidos. Quando se propugna um sentido estratégico novo para a ULSBA é precisamente uma visão de futuro. E quando se configura nessa visão uma organização gestionária do tipo que o Programa do Governo contempla, não é nenhum “hospitalocentrismo” o que se pretende. A integração horizontal imaginada pelos criadores das Unidades Locais terá sustentabilidade evoluindo para outras formas de integração, desenvolvendo racionalmente as fileiras produtivas. Porém, é um equívoco pensar que estamos a jogar com bairrismos, ou regionalismos. Estamos sim a contribuir para a continuidade do Serviço Nacional de Saúde.
26 de Janeiro de 2016 às 7:14
Será por isso que os seguristas cá do burgo tentam evitar que este Dr. seja nomeado para o CA da ULSBA?
26 de Janeiro de 2016 às 9:17
Virgolino, seguristas, costistas e qualquer pessoa com o mínimo de bom senso.
26 de Janeiro de 2016 às 9:40
Muitas vezes as dúvidas são consequência da nossa pressa em rotularmos as pessoas, porque não queremos dispender tempo para entender o seu pensamento.
26 de Janeiro de 2016 às 11:32
@virgolino – mantém-se a tradição de mudar os CA’s sempre que muda a cor dos governos? Afinal, tudo na mesma….
26 de Janeiro de 2016 às 11:39
Como se tem visto, a tradição já não é o que era… Há melhores razões para mudar o dito do que a lógica que invoca. Substituir incompetentes por gente sabedora. A resistência à mudança esconde-se por trás de “argumentos” como o “bom-senso”. Para esses que assim fazem, mantinha-se tudo como está. João Espinho, não o tenho na conta dos que querem mais do mesmo…
26 de Janeiro de 2016 às 12:04
@virgolino – “mais do mesmo” é a única garantia que temos; mudam-se os rostos, mas as políticas mantêm-se. Aguardemos serenamente pelas “mudanças” propagandeadas pelos guardiões deste “tempo novo”. E não, não sou favorável a que tudo fique na mesma.
26 de Janeiro de 2016 às 12:07
Pois é, amigo Espinho. Discutem-se os rostos quando não se quer analisar os conteúdos…