Mai 07 2010
Crónicas na Praça – “Mudanças”
(crónica publicada na revista “30 dias“, de 23/4/2010)
Diferentes em tudo da esperança;
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem, se algum houve, as saudades.”
Luís Vaz de Camões
1ª – Em Outubro passado a cidade de Beja mudou de governo. Após mais de três décadas de executivos liderados por comunistas, as eleições autárquicas ditaram novas vontades. Principalmente a de mudar. Quando se completam seis meses deste novo poder, há quem se questione:
Terá valido a pena votar na mudança?
Afinal o que é que mudou?
Obviamente que são os apaniguados do anterior regime aqueles que mais reclamam pela urgente mudança. Curioso: os que assim protestam deveriam estar satisfeitos, pois se nada mudou é sinal de que tudo está como antigamente. Isto é, os responsáveis pelo estado de marasmo a que deixaram chegar a cidade, sem nunca se lhes ouvir uma voz ou ler um parágrafo a reclamarem por mudanças, erguem agora a sua voz a, pasme-se, exigir mudanças.
Por outro lado – o que também é curioso – os que apostaram e se empenharam na mudança são os que menos protestam, são aqueles que não exigem, ainda, o cumprimento das promessas em que acreditaram e votaram. O bom senso dita-lhes que, em seis meses, é irrealizável mudar uma estrutura caduca e burocrática, que é difícil a tarefa de desconstruir uma teia tecida ao longo de décadas. Que é empreitada hercúlea transformar hábitos e comportamentos imbuídos de letárgicos vícios.
Porém, os novos donos das cadeiras da Praça da República, em Beja, não poderão pensar que a divulgação, quase exaustiva, dos erros e pecados dos seus antecessores irão anestesiar quem, realmente, votou na urgência da mudança. Por isso, é conveniente relembrar que os degraus das escadas dos Paços dos Concelho que conduzem à presidência são os mesmos que, em dia de eleições, devolvem à procedência os que tudo prometeram e não souberam cumprir.
2ª – O PSD de Beja, se efectivamente existisse, teria um papel fundamental no processo de mudança que se exige para a cidade e para a região.
Mas o PSD está ausente.
E esta ausência tem dois rostos.
Um destes rostos é responsável pela derrota, quase humilhante, onde a sua estratégia fez com que o PSD deixasse de ter um vereador no executivo camarário bejense e visse a representação social-democrata na respectiva Assembleia Municipal reduzida a dois elementos. Ignorar o erro e não assumir a responsabilidade do desastre é, perdoem-me, uma tentativa de aniquilar uma força que, indiscutivelmente, pode contribuir para o desenvolvimento desta região.
O outro rosto da derrota regional social-democrata, e que teima em ser o timoneiro da Distrital laranja, ignora os tempos de mudança e não concebe que o PSD de Beja possa existir sem a sua liderança.
No dia em que ambos assumirem as suas derrotas e, humildemente, deixarem crescer o PSD, a cidade e a região irão contar com o contributo de quem quer o melhor para a sua região.
3ª – Pedro Passos Coelho pode ser o próximo primeiro-ministro. Quando há dias, no encerramento do último Congresso do PSD, se cantava o hino nacional e se entoava “contra os canhões, marchar, marchar”, imaginei que se pudesse entoar “contra os barões, marchar, marchar”. Também percebi que, ali, nascia a vontade de marchar contra os polvos.
7 de Maio de 2010 às 9:03
[…] This post was mentioned on Twitter by João Espinho. João Espinho said: #Crónicas na Praça – “Mudanças” http://goo.gl/fb/MysF1 […]
7 de Maio de 2010 às 23:50
Todos os que tem ansiedade em excesso da mudança e exigem em 6 meses o que não fizeram em 36 anos, existe uma resposta simples.
Milagres políticos ninguém o fez ou faz, o discurso tem de ser positivo e discutir como, quando e onde é possível concretizar o óbvio.
Todos nós estamos a sentir na pele a crise nacional/internacional e é lamentável neste cenário actual a demagogia e o populismo seja real .
O futuro não é o que muitos de nós desejariamos, mas é e será o que a Europa desejar, e tudo o resto são conversas sem contéudo.
9 de Maio de 2010 às 22:40
É, é! Esta crise veio dar cá um jeitaço… Sobretudo quando o conteúdo é profundamente filosófico e perceptível como o que acabo de ler.