Set 18 2009

Asfixias

Publicado por as 10:53 em Crónicas

(Crónica publicada no Correio Alentejo de 18/9/2009)

1. Não se tivesse dado o caso de Manuela Ferreira Leite (MFL), líder do PSD e candidata a primeira-ministra, ter ido em viagem eleitoral até ao arquipélago da Madeira, abençoar o presidente regional, e a expressão “asfixia democrática” teria ficado nos cadernos de apontamentos de alguns estudiosos do fenómeno político português.

Porém, a líder da oposição continental decidiu que seria ali, nas ilhas de Alberto Jardim, que iria ressuscitar essa coisa estranha e sufocante da democracia. A asfixia democrática, garantiu a líder do meu Partido, não existe na Madeira.
Seguramente que MFL deve ter recordado, no momento em que o disse, que o Presidente da República não teve direito a sessão solene na Assembleia Regional, recordou a ausência de comemorações parlamentares madeirenses do 25 de Abril, do congresso do PSD local encerrado à comunicação social e o impedimento de um deputado entrar no Parlamento local. Ferreira Leite deve falar na tal asfixia democrática, mas não a deve referir como exclusiva do território continental.

2. As eleições legislativas estão a bater à porta e as campanhas estão nas ruas. Nas ruas e nas rotundas. A cidade de Beja, como outras pelo País, inundou-se de cartazes e propaganda política, havendo sítios onde a osmose legislativas/autárquicas está bem patente. Lado a lado podemos encontrar futuros deputados e candidatos a presidentes de câmara. Poucos virão a saber quanto custam estas campanhas. Poucos alterarão o seu sentido de voto em função da gravata do Jerónimo ou do cabelo grisalho de Sócrates. Também, digo eu, não serão os slogans dos referidos cartazes que irão determinar o voto de cada um de nós. Haverá algum português que se sinta motivado com o apelo socialista “Avançar Portugal”, onde aparece a fotografia do actual primeiro-ministro? O grito “Ruptura e Mudança”, que o PCP ilustrou com a cara de Jerónimo de Sousa, com e sem gravata, convence alguém para além dos submissos eleitores comunistas?
Obviamente que não!
Assim, assistimos a ruas, avenidas e rotundas que nos asfixiam com mensagens e retratos pagos pelos nossos bolsos e que nada nos trazem de valor.

3. Como eleito, pelo PSD, estive na Assembleia Municipal de Beja durante o mandato autárquico 2005/2009 que agora termina Fui, e ninguém o pode desmentir, uma das vozes mais críticas do actual executivo camarário. Fui, também, dos poucos que questionou o presidente da CMB sobre diversos assuntos. O PSD e a sua bancada municipal terão sido quem mais cumpriu com os seus deveres de fiscalizar as actividades do executivo bejense. Porém, uma lei que teima em não ser revista, cria maiorias que não foram sufragadas pelos munícipes eleitores. Falando claro: com direito a voto, os presidentes das juntas de freguesia têm assento nas assembleias municipais e, no caso de Beja, o PCP/CDU tem uma maioria absoluta que não foi expressa nos votos directos dos eleitores. Quem participou ou assistiu às sessões da Assembleia Municipal sabe como foi asfixiante esta maioria absoluta, onde não faltaram episódios reveladores de um certo espírito absolutista e pouco educado.
4. Aproxima-se um ciclo eleitoral da maior importância para todos nós. Legislativas e autárquicas vão trazer-nos novos rostos às governações do país e das cidades. Apesar do crescente descrédito a que a classe política tem vindo a ser adjectivada, esta é uma boa ocasião para nos manifestarmos contra as várias asfixias. Através do voto e sem gritarias. Ficar em casa à espera que os outros decidam por nós é uma forma de legitimar a asfixia. Depois não se queixem.

Share

Uma Resposta a “Asfixias”

  1. Reinaldo Louro diz:

    Temos a obrigação moral e cívica de admitir, que em muitos sectores da sociedade portuguesa existe ” asfixias democráticas “, das mais variadas formas e feitios, é um mal da democracia, e nada é perfeito !

    Mas eu na minha humilde participação tento combate-la com as ” armas ” que tenho e convido todos a faze-lo também.

    Conhecemo-nos JANECA ( talvez desde os tempos da natação no Desportivo, tu com 10/12 eu com 15/17 anos ) à decadas, temos algumas diferenças e ainda bem para os dois, somos pessoas adultas mas respeitamos pensamentos diferentes, tu és militante e eu sou independente, mas é já com saudade que registo a falta da tua voz e a necessidade das tuas questões críticas e com contéudo na Assembleia Municipal de Beja.

    Que voltes depressa o concelho e a cidade de Beja, precisam do teu exemplo e da tua contribuição !

    A vida continua … E cá estaremos para lutar nas várias frentes, em prol da nossa cidade e em tudo a que ela diz respeito !

Deixe Uma Resposta