Jul 31 2009
Ensaio sobre a cegueira
(Crónica publicada no Correio Alentejo de 31/7)
Hesitei sobre o título desta crónica, com receio de o mesmo ser mal entendido num momento em que, num hospital português, pacientes de oftalmologia sofrem o drama da cegueira por razões ainda mal apuradas.
Mas foi aquele que logo me ocorreu quando li a crónica com que Rodeia Machado, quadro do PCP de Beja, me brindou nas páginas deste jornal, sob o tema “O esquecimento e a cegueira política”.
O título, como sabem, pertence a um livro do militante comunista e premiado com um Nobel literário José Saramago. Julgo que Rodeia Machado não se ofenda com a minha escolha.
Vamos então ao que interessa e começo pelas intenções.
Rodeia Machado, e/ou o PCP, pensa que o que escrevi tem intenções eleitoralistas. Isto é, escrevi o que escrevi porque estamos em pré-campanha eleitoral. É coisa que me merece uma forte gargalhada. É que, desde há 6 anos que escrevo no meu blog Praça da República, as minhas crónicas neste jornal têm sido críticas dos executivos comunistas da Câmara Municipal de Beja tal como as minhas intervenções na Assembleia Municipal. Responder e reagir agora, isso sim, tem a ver com eleições e com a estratégia eleitoral do PCP.
O deputado municipal Rodeia Machado, por razões que desconheço, atribui-me afirmações que claramente não fiz.
Eu não escrevi que “pela primeira vez, num programa político de candidatura à Câmara Municipal de Beja, o de João Paulo Ramôa, existiu uma clara referência ao Plano Estratégico de Desenvolvimento”. O que escrevi, e repito, foi que “já em 2002, João Paulo Ramôa (PSD) escreveu sobre o assunto – o cluster aeronáutico – e as referidas ideias constavam do programa eleitoral do PSD nas autárquicas de 2005”.
Mas Rodeia Machado, para além de dar provas de não ter lido a minha crónica, quer agora, e mais uma vez, atribuir ao PCP a “bandeira” da construção do aeroporto civil de Beja. Seria bom que Rodeia Machado, e o PCP, não tentassem apagar a História. É que a história da construção do aeroporto civil de Beja está intimamente ligada à história da própria Base Aérea. Numa rápida pesquisa a documentos que me foram disponibilizados, a primeira referência (conhecida) à utilização civil daquela infra-estrutura militar foi feita em 1969. Posso garantir a Rodeia Machado que não foi o PCP nem qualquer dos seus militantes a fazer tal sugestão. Posteriormente, já na década de 90 do século passado, a par das propostas avançadas pela AIP, o PCP falava em terminal de carga, evoluindo posteriormente para a ideia de criação de um aeroporto civil.
Quanto ao Plano Estratégico de Desenvolvimento, escrevi que Beja não o tem. Erro meu. Eu deveria ter escrito: a Câmara Municipal de Beja encomendou a uma empresa, há mais de uma década, a elaboração de um Plano Estratégico para o concelho mas meteu-o numa gaveta e raramente é tido em conta. Também eu já li esse documento, mas como o mesmo é constantemente ignorado pelo executivo comunista, é como se não existisse.
Diz também Rodeia Machado que o candidato socialista à Câmara Municipal de Beja mudou de opinião relativamente ao aeroporto. Julgo que mudar para melhor é salutar. O próprio Rodeia Machado deve estar de acordo comigo pois ele é um dos exemplos de como as pessoas mudam. Recordar-se-á Rodeia Machado das posições tomadas por si próprio e pelo Partido a que pertence sobre uma matéria como a gestão das águas. Mudaram, certo? Felizmente que foi para melhor. E, já que estamos em maré de mudanças, veja-se o nobelizado comunista que decidiu apoiar a candidatura de um socialista à CM de Lisboa. Só as estátuas é que não mudam e por isso estão tantas vezes cheias de cagadelas de pássaros e pombos.
Ainda na sua crónica, Rodeia Machado relata que Beja é uma cidade desenvolvida, louvando os sucessivos executivos comunistas pela obra feita. Ninguém lhes tira o mérito do que fizeram em matéria de saneamento básico, alcatroamento de caminhos municipais e outras coisas que, outros lá estivessem, também teriam sido feitas. O desenvolvimento a que se refere Rodeia Machado não é, pois, aquele de que a cidade e o concelho precisam. Há muito por fazer. E para se avançar é necessária vontade política e abandonar a inércia. Obviamente que o PCP não poderá ser o motor do desenvolvimento.
Pelo menos em 35 anos não o conseguiu ser.
31 de Julho de 2009 às 17:00
Quem tem uma visão do país, fácilmente vê as diferenças entre a gestão do PCP e a dos outros e como você bem sabe compadre Janeca, aqueles nossos amigos, essencialmente que vêm do norte do País onde o PSD especialmente e o PS dominam, que as nossas cidades estão melhor estruturadas, em termos de urbanismo acham-nas mais equilibradas, em relação ao saneamento básico acham-nas muito melhores, relativamente à cultura acham que as autarquias CDU a valorizam muito mais, em relacção ao desporto a mesma coisa, penso que não vale a pena citar nomes de amigos comuns que tem manifestado esta opinião.
O Aeroporto, sabe tão bem quanto eu que se não fosse a CDU estar no poder em Beja, o Aeroporto e a barragem de Alqueva tinham caído no esquecimento, e isto ainda é do tempo em que voc~e não estava na assembleia Municipal, so éstava na Assembleia de Freguesia de Santiago Maior.
No entanto folgo em vê-lo a defender o aeroporto de Beja, você que tinha sérias dúvidas acerca desta matéria, pelo que percebi nalgumas conversas nossas.
Um abraço
31 de Julho de 2009 às 17:55
@camarada e amigo maltês – se não for por esta via, não há meio de a gente se ver!
Vamos lá então por partes e como a gente já se conhece há tanto tempo, seguramente que as nossas conversas não irão fazer aumentar os 6 metros de entulho sobre os quais se ergue a nossa cidade.
E o primeiro ponto é que gostava de realçar que o que me motivou esta crónica foi a súbita vontade de contraditório do seu camarada Machado (RM). Ele diz que eu escrevi com motivações eleitoralistas, e eu respondi-lhe como respondi. Tenho a vantagem, relativamente a RM, de não ser candidato a nada e de não pertencer a qualquer órgão do meu Partido. E sou um indisciplinado, como sabe. Porém, caríssimo, não deixo de ser um forte opositor às políticas propostas pelo seu Partido (PCP) e aos sucessivos executivos comunistas (pintados de CDU, mas ainda não vi vereadores das outras forças da Coligação) que governam o concelho desde que estamos em Democracia.
Recordo-lhe, relativamente a Alqueva, que foi no governo de Cavaco Silva que a obra foi lançada e que Beja recebeu a sede da Comissão Instaladora do projecto (hoje EDIA). Sabe quantas vontades existiram para que a referida sede fosse para outras cidades? (À volta dum gaspacho eu explico-lhe).
Quanto ao aeroporto, posso confirmar o meu cepticismo. Que, neste caso, é comum ao seu Partido. O futuro do Aeroporto de Beja não depende das intervenções do PCP. Depende da habilidade em atrair investimentos para a nossa região.
Por agora, ficamos assim. Um abraço
1 de Agosto de 2009 às 11:39
Muitos ” cães ” ladram mas não mordem e a caravana vai passando, a posição de uns e só alguns ( cerca de 10 % ), não impede todos os outros ( 90 % ) de opinar e essenciamente escrever e dizer em espaços de liberdade plural como o ” PRAÇA DA REPÚBLICA “, o que pensam e do que gostam ou simpatizam, e dizer as verdadas da nossa região e não só !!!
A alternância e a mudança, são valências vitais em democracia e eles ( PCP / CDU ), têm ” ódio ” de pensar que isso é possível , em Beja, no próximo dia 11 de Outubro, mas creiam que com união e voto útil é possível e daí os posicionamentos, as iniciativas que ultimamente querem realizar para tentar esquecer a gestão de 35 anos.
Amanhã dia 2 de Agosto, faz 80 anos, que nasceu o Zeca Afonso, imortalizando com a ” Grândola Vila Morena ” a senha do 25 de Abril de 74, e com outras canções populares e de textos e letras de intrevenção, que dinamizaram uma geração e abriram caminhos de esclarecimento nas camadas estudandis, com as guerras coloniais e perante a ditadura que nos governavam à época.
Um abraço solidário e de agradecimento pelo que desinteressadamente fizeste Zeca, estejas onde estiveres, e pelo gozo que tive de cantar contigo e outros cantores populares ” A Grândola “, ” Trás outro amigo também “, ” Venham mais cinco ” e tantas outras no ínicio da década de 1970, toda elas proíbidas e repremidas pela força da PIDE !!!
Já nessa altura também se tinha esperança na mudança e a união fez a força, porque não agora também !!!
2 de Agosto de 2009 às 17:51
Recordar o nome de um ser como o José Afonso, em dia do seu aniversário, que através das palavras que compunham as suas canções, é um pouco de história de vida no tempo da ditadura de estado a que Portugal esteve sugeito durante 48 anos, e de quem nos ensinou de uma forma simples mas concreta, a aprender e a amar, a liberdade com responsabilidade.
Não ignorar que muitos de nós estiveram na altura mobilizados para as guerras coloniais e infelizmente bastantes deram a vida e outros trouxeram sequelas mentais e físicas.
INSISTIR E PERSISTIR !
para:
MUDAR E GANHAR !
Quatro palavras apenas que se podem e devem aplicar, em Outubro …