Jun 02 2009
Eleições Europeias – Entrevista com Maria da Graça Carvalho
Maria da Graça Carvalho, nascida em Beja, é actualmente conselheira de Durão Barroso, membro da Assembleia Municipal de Beja e integra a lista candidata (em 3º lugar) do PSD ao Parlamento Europeu.
O Praça da República entrevistou Maria da Graça Carvalho.
As perguntas:
1 – Que balanço faz da sua participação enquanto conselheira na Comissão Europeia?
2 – Que razões a levam a aceitar ser eurodeputada?
3 – O que é para si, enquanto cidadã portuguesa, a Europa?
4 – Que desafios se colocam à Europa nos próximos tempos, nomeadamente o seu relacionamento com a nova administração norte-americana, com a Ásia e com a África de língua portuguesa?
5 – Defende a integração da Turquia na UE? Porquê?
As respostas:
1 – Que balanço faz da sua participação enquanto conselheira na Comissão Europeia?
Exerço funções de Conselheira Principal do Grupo de Conselheiros do Presidente Durão Barroso desde 2005, coordenando o grupo de conselheiros da área social. Tenho sob a minha responsabilidade o acompanhamento das políticas de energia, ambiente, alterações climáticas, educação, ciência, inovação e assuntos sociais. Tenho trabalhado em energia e alterações climáticas desde sempre e fiz o curso, doutoramento, agregação e todo o meu trabalho de investigação científica e actividade de ensino nestas áreas e tive o privilégio, já na Comissão Europeia, de participar no desenvolvimento da Estratégia Europeia de Energia e luta contra as Alterações Climáticas desde o seu início. Esta Estratégia é, na minha opinião, de grande importância para a Europa. Importância semelhante às políticas do Mercado Interno ou do estabelecimento da Moeda Única. Esta Estratégia é um grande marco desta Comissão presidida pelo Dr. Durão Barroso. Trabalhei também as políticas de Ensino Superior e Ciência, como por exemplo o estabelecimento do Instituto Europeu de Inovação e Tecnologia.
2 – Que razões a levam a aceitar ser eurodeputada?
Foi com muito gosto e honra que aceitei o convite que me foi dirigido pela líder do PSD, Dra. Manuela Ferreira Leite. Tenho, pela Dra. Manuela Ferreira Leite, uma grande admiração e amizade. Integrámos ambas o XV Governo chefiado pelo Primeiro-ministro, Dr. Durão Barroso. Aceitei agora o desafio de me candidatar ao Parlamento Europeu, o que me permite continuar um projecto de trabalho nas áreas às quais me tenho dedicado desde o início da minha vida profissional, há mais de 30 anos: energia, ambiente e alterações climáticas e as políticas de ensino superior e ciência. No Parlamento Europeu espero continuar o desenvolvimento de políticas nestas áreas e o meu trabalho que tem sido desde sempre de Serviço Público. Fundamentalmente, continuarei a trabalhar para o projecto Europeu – no qual acredito profundamente – os valores Europeus, da anti-discriminação, protecção ambiental, qualidade de vida, solidariedade, coesão, liberdade e defesa do consumidor, defesa dos direitos humanos, são valores pelos quais me bato desde sempre. Este novo desafio permitir-me-á continuar um trabalho de serviço público em prol da defesa destes valores, com o objectivo de contribuir para uma vida melhor dos Portugueses e dos Europeus.
3 – O que é para si, enquanto cidadã portuguesa, a Europa?
A Europa representa um valor acrescentado à cidadania nacional. A Europa representa mais e melhor emprego, fortalecido pelo mercado interno, pelo euro, pela aposta no investimento no capital humano e pela adequada utilização dos fundos estruturais. E porque os grandes desafios não terminam nas fronteiras nacionais, a União Europeia é a resposta a esses desafios. A União Europeia promove a liberdade e o desenvolvimento em todo o mundo e é fundamental que continuemos a ter um papel de liderança nessa luta. Liderança através do modelo social europeu, enquanto espaço de liberdade, segurança e justiça, que promove e combina a coesão económica e a responsabilidade social. Liderança ao nível das políticas de energia e clima no combate às ameaças das alterações climáticas em todo o mundo, contribuindo, deste modo, para a criação de uma nova economia e para a criação de um futuro sustentável.
4 – Que desafios se colocam à Europa nos próximos tempos, nomeadamente o seu relacionamento com a nova administração norte-americana, com a Ásia e com a África de língua portuguesa?
A UE é hoje um actor internacional com influência política e económica. O alargamento a 27 países tem acompanhado o aumento do poder da política externa da UE e tem permitido um papel activo em diferentes regiões do mundo. O eixo transatlântico está no centro das relações externas da UE. As duas Partes partilham os mesmos valores, possuindo, em muitos casos, interesses comuns. Para além das cimeiras, os dois parceiros prosseguem contactos a todos os níveis: diálogos entre as empresas, reuniões a nível de funcionários ou de ministros, entre membros do Parlamento Europeu e do Congresso dos Estados Unidos, bem como grupos especializados. A UE definiu igualmente parcerias estratégicas com outros dos seus principais parceiros como, o Japão, a Rússia, Canadá, China, e realiza cimeiras regulares e dialogo político ao mais alto nível. A relação entre a EU e EUA é fundamental para o progresso mundial, mas esta cooperação já não é suficiente perante a magnitude da globalização e dos problemas. É necessário, por isso, incorporar outros actores internacionais como o Brasil, a China, a India e organizações supranacionais como a União Africana. A crise financeira mundial é o exemplo de como todos os actores têm de ser envolvidos, como foi o caso da Cimeira do G20 que vem demonstrar que só através da cooperação e do multilateralismo se consegue dar resposta aos problemas mundiais. Também a África e a UE estão a dar passos no caminho de lidar com uma nova agenda global perante os grandes desafios de hoje, como o preço dos alimentos, as alterações climáticas e a segurança energética. A parceria estratégica UE-África, assim como o desenvolvimento da cooperação entre a Europa e o continente Africano nas áreas do Ensino Superior, da Energia, Alterações Climáticas, Ambiente e Sociedade da Informação vem contribuir para a realização dos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio. Mas a África, nomeadamente a África lusófona representa um valor acrescentado para a língua portuguesa, que tem cada vez mais peso na rede económica comercial e de intercâmbios culturais. Perante os acontecimentos económicos e financeiros do mundo ocidental assim como do mundo oriental, a abertura e a educação linguística e cultural é um elemento fundamenal de desenvolvimento.
5 – Defende a integração da Turquia na UE? Porquê?
Portugal, que beneficiou da solidariedade europeia e se integrou com sucesso na Comunidade, não negará idêntica solidariedade a outros países europeus que quiserem e puderem seguir o nosso exemplo. No entanto, temos de alargar com prudência. Ao longo dos anos a Comunidade cresceu em pequenos passos: 1, 2 ou 3 novos países em cada um dos “alargamentos”. Recentemente a UE passou de 15 para 25 Estados Membros e logo a seguir para 27 e agora temos de digerir este último grande alargamento e resolver os problemas institucionais, antes de prosseguir de imediato para a aceitação de mais Estados na União. Relativamente ao processo de adesão da Turquia, existe a preocupação com a protecção de direitos fundamentais, com diversos casos de violação de liberdade de expressão e de imprensa, de associação política e questões relacionadas com os “crimes de honra”. Uma solução para a questão do Chipre e para a questão curda também parece estar distante, o que só ajuda à paralisação das negociações. Mas devemos realçar a importância da adesão turca para a questão do gasoduto Nabuco, e os seus esforços de mediação na questão Rússia-Geórgia.