Mar 09 2009
O Olhar de… Jorge Barnabé
foto: joão espinho
Desço a rua empurrado pela saudade e firme no desejo de acreditar que ao fundo um campo de esperança se abre ao encontro dos meus braços. O caminho empedrado e as casas rasas que servem de encosto aos cansaços conduzem os meus passos desacertados. O silêncio da tarde que se perde nas casas cerradas, no branco lavado da cal, desafia a ambição de um dia seguinte. Pergunto pelo futuro, questiono os caminhos para além deste – passivo e incómodo – e respondem-me os postigos emperrados, as vozes caladas e as gentes acomodadas, os rostos gastos na desesperança e um céu azul que ilustra o nada de uma vida inteira. Ao chegar ao fim da rua uma outra ruela me trava, uma linha branca de moradas perdidas me separam dos campos abertos e verdes que procuro. Como a esperança do futuro. Olho para trás, para o cimo da aldeia que desci e um ou outro corpo se atreve no caminho empedrado, encostados à brancura da cal, desanimados como a confiança. Terá esta terra futuro? Pergunto ao meu íntimo pensamento. Não, enquanto existirem os labirintos, disfarçados de lugares comuns.
Jorge Barnabé
3 de Abril de 2009 às 14:47
O tempo é uma coisa de pedra a descer.