Jan 07 2009

A Escola

Publicado por as 2:08 em Geral

Estive ontem (dia 6/1/2009) em mais uma reunião para a qual são convocados os pais/mães/encarregados de educação/tutores onde se dá conta do que foi a avaliação feita pelos professores aos alunos da turma e onde os pais poderão, e devem, tirar algumas dúvidas sobre o que ali se deve tratar.
Tenho alguma experiência neste assunto: já passei por ser representante dos pais/encarregados de educação (durante 5 anos) da turma de uma das minhas filhas, já pertenci a associações de pais, a federações das mesmas associações, já assisti a conselhos pedagógicos, disciplinares, de turma, etc…
Considero-me um pai presente.
A reunião de ontem, porém, e mais uma vez, desgostou-me. Tive vontade de explodir a minha indignação.
A Directora de Turma fez o que lhe competia e relatou os factos mais relevantes da classe: assiduidade, participação dos alunos, disciplina, motivação, etc…. Isto é, transmitiu aquilo que ouviu dos professores da turma.
Julgo que, para qualquer pai/encarregado de educação (P/EE), nada tenha constituído surpresa.
Porém, a atitude dos P/EE foi fazer um julgamento público de alguns professores. Porque os seus filhos/educandos haviam obtido notas inferiores às desejadas; porque os seus educandos se queixavam dos comportamentos dos professores – uma mãe disse ” a minha filha não dá graxa e por isso tem nota baixa” -; outros afirmaram que as avaliações eram injustas, etc, etc…
Um dos professores visados esteve presente nessa reunião e levou com uma carga de críticas durante mais de meia hora. Sou incapaz de avaliar pedagogias, parâmetros de avaliação ou seja lá o que for no que respeita à condição de ser professor numa escola do ensino secundário (11º ano). Reparei, no entanto, que alguns P/EE se sentem no direito de saber mais que os professores, exigirem dos professores que os substituam na sua condição de pais, que os professores levem ao colo os/as meninos/as ao êxito de serem os melhores.
Sei qual o empenho que a minha filha (neste caso a do secundário) tem em determinadas disciplinas, sei como e quando se esforça mais, sei quando ela está a precisar de um aconselhamento e de uma ajuda caseira.
Mas ontem calei-me.
Porque percebi que a maior parte dos pais desconhece – evita – o que é dar aos seus filhos a autonomia que lhes vai permitir, no futuro, ser aquilo que nós, pais, para eles desejamos.
Voltarei a este tema.

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12 Resposta a “A Escola”

  1. b@be diz:

    Não sou mãe, mas vou falar como filha sobre o que dizes aqui no último parágrafo “…no futuro, ser aquilo que nós, pais, para eles desejamos.” A diferença é no conceito do que se deseja… Os pais “devem” desejar que os filhos no futuro consigam atingir os seus objectivos! (entenda-se dos filhos).
    Mas… como “uma história real” que eu conheço devem existir muitas…
    Pais com cerca de 31 anos, uma filha com cerca de 13. A mãe, “garreia” com a filha para ela ter boas notas… e a filha… queixa-se às amigas… que a mãe sabe chateá-la… mas é incapaz de se sentar ao seu lado para a ajudar…

    E como só sou filha… e como desconheço também o que é ser professor… Não digo mais nada para não errar…

  2. vitor encarnação diz:

    Um abraço pela sua lucidez.

  3. Epaminondas J. J. diz:

    São sinais dos tempos, fruto da política governativa actual e tal como desejado e programado, tem o objectivo destruir o ensino público tal como o conhecemos.

    O Estado Social clássico está falido. E o Orçamento de Estado não tem verbas para manter o ensino, a saúde, a seg. social e outras regalias do povo tal como estão.

    Assim há apenas duas formas de implodir o actual estado das coisas. Ou se assume a sua destruição, o que implicaria perder as próximas eleições. Ou fingir que se está a legislar no sentido da sua perservação, mas ao contrário, está de facto a contribuir para a sua morte lenta.

    Ninguém tem dúvidas que o que se pretende é que quem tenha dinheiro, tire os filhos da escola pública e os ponha em colégios ou outras instituições particulares

  4. escroque@ diz:

    e viva a escola

  5. Regina diz:

    Ai que tema…ai se eu começo a falar…:p
    Compreendo-te João,se compreendo…eu também já fico calada…Se a educação está como está ninguém está isento de culpas. A indiferença dos pais “deu no que deu”,e agora há que apontar o dedo e julgar sem argumentos os “mestres”, que infelizmente, dados os dissabores da profissão, a falta de entusiasmo, a desmotivação crescente, só desejam a reforma e pôr-se a milhas da sala de aula.
    Tudo junto dá numa salada russa, onde quem mais sofre são as crianças e os jovens.
    A minha filha adolescente, tem professores que choram (literalmente) nas aulas, outros que gritam: “mas que vêm vocês fazer à escola?!” É o desespero total…impensável a um educador que se preze, pois des-respeito só pode gerar o mesmo.
    Os pais por sua vez, fazem o que a B@be referiu precisamente…exigem, mas não apoiam; além disso que exigências fazem eles? Notas, notas, notas…avaliações exteriores que nada representam senão que se sabe memorizar a papaguear bem! Alguem avalia aprendizagens?Of course not…
    A continuar neste sistema, que o estado teima em des-orientar, prevê-se a curto prazo um enterro…E que venha ele, para que se renove e se eduque…como propunha o “mestre” Pestalozzi…educar com amor!

  6. jose chicharo diz:

    Caro Sr. João espinho, concordo plenamente com a sua opinião, dei aulas de formação profissional no IEFP durante 11 anos, sei o quanto dificil é aturar os meninos, e sei também a falta de educação que os paizinhos têm, por isso meu caro, o que falta a este pais é educação e principios morais,, tal como voce escreveu e bem, são todos espertos, não sabem educar em casa e depois exigem que os profesores corrijam os seus erros nas escolas.
    Se eu não tivesse passado por uma formação forte no serviço militar que me proporcionou conhecimentos sobre como orientar e comandar homens, desculpe o termo tava bem lixado, até porradas levava, se não fose dos meninos seria dos paizinhos.

    uma boa noite pra todos

  7. Hugo diz:

    Estou totalmente de acordo com o que diz o Sr. João, e também concordo em parte com o que diz o Sr. José Chicharo, não acho que seja necessária formação militar para ter um sistema de ensino mais eficaz. Nota-se grande desmotivação nos professores com já alguns anos de carreira mas nos professores com pouco tempo essa desmotivação não se nota, não sei se ainda ou se nunca se virá a notar. Dois dos problemas que eu encontro para uma Escola mais eficiente, na prática, e não só em termos de resultados finais é um total desligar de muitos dos pais da actividade escolar dos filhos e a alteração da noção de educação que a sociedade sofreu nos últimos 15-20 anos. Hoje em dia parece que um bom pai ou mãe é aquele que permite que o seu filhinho faça tudo o que lhe der na cabeça e deixaram de haver limites seja para o que for, mas feliz ou infelizmente essas criançinhas têm de ser inseridos numa sociedade onde têm de cumprir regras e onde os outros elementos não estão e nem têm nada de aturar os caprichos de meninos que deixam de ser os chamados mimados e passam a mal educados. A escola é uma comunidade onde tal como em tudo há direitos e deveres, quando estes não são bem definidos e respeitados a comunidade entra em crise e afunda. Não quero com isto dizer que o estado da “escola ” tal como está se deve só aos factos relatados atrás mas em boa parte certamente saõ os responsáveis.

  8. JS diz:

    A resposta para este mal só pode pode ser uma! Criar uma escola de pais.
    Este nosso ministério deseja à força sucesso educativo acabrunhando os professores…resultado=falência da escola pública.

  9. isabel de brito diz:

    Ontem fui ver um filme óptimo: a turma. Recomendo-o. O que vemos vendo o filme? Uma sala de aula repleta de alunos com diferentes nacionalidades (o que agora não é pertinente), uma sala de aulas com alunos desmotivados entretidos com telemóveis e afins. Professores em desespero por não saberem lidar com os alunos tão diferentes daquilo que eles foram enquanto tal. Professores a delinear regras, castigos, punições no sentido urgente da definição dos limites. Professores que assentam a sua estratégia no afecto e que com isso obtêm melhores resultados. Vemos o dia-a-dia de uma escola francesa, mas que podia muito bem ser portuguesa. Tal e qual como uma qualquer ao nosso lado.

  10. vitte diz:

    Agradeço desde ter colocado este tema para debate.
    Todos estes problemas a nossa “querida” ministra não vê.
    A escola é um mar de rosas… tudo corre bem!
    Não dou culpa a ela, dou culpa a senhores professores como o Vitor Igrejas quer anda há anos á procura de um tacho oferecido pelo PS que intimída os professores da Mário Beirão e não os deixa falar dos problemas da escola do ensino e fundamentalmente dos alunos….. falo da professora Teresa da escola D. Manuel I que como é amiga íntima da querida ministra, coloca a amizade á frente do profissionalismo e não permite professores expressarem os problemas da sua escola (basta ir lá para ver a confusão) e da sua carreira e mais uma vez dos alunos!
    Estas duas pessoas são apenas presidentes dos concelhos executivos da sua escola….
    Dar culpa à ministra quando os “chefes” das escolas da nossa cidade são vergonhosamente iguístas e …. é melhor não falar mais porque tinha muita coisa para dizer do senhor presidente do concelho executivo da Escola Básica 2/3 Mário Beirão, porque sei do que falo!!

  11. Praça da República » A Escola diz:

    […] publicada no Correio Alentejo de 23/1/2009 e onde escrevo mais alguma coisa do que já aqui […]

  12. Conteudovip diz:

    Existe o lado de a educação vir de casa, como também tem o lado de alguns pais acharem que o que o professor fala é lei.
    Mas enfim, vão ensinando os filhos a botar a culpa nos outros pela própria incompetência. Nada construtivo, diga-se de passagem.

    “cursos pré-vestibulares servem para ensinar aquilo que seu filho estava olhando para o lado enquanto o professor falava”.

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