Jun 18 2008
Marx em Beja
Pela mão da DORBE do PCP, para reflectir sobre o Manifesto do Partido Comunista*.
Seguramente que hoje, na Biblioteca Municipal de Beja, serão passadas em revista todas as atrocidades cometidas em nome do socialismo científico, não se perderá a oportunidade de elencar as ditaduras erguidas em nome do proletariado, para além de todos os desvios leninistas, stalinistas e da era dos gulags.
A sessão será, obviamente, muito concorrida.
* Manifest der Kommunistischen Partei (1848)
18 de Junho de 2008 às 18:16
Também não duvido que esteja concorrida a sessão! Uma homenagem aqueles que “cavaram a própria sepultura”…lol
18 de Junho de 2008 às 19:13
Eu já hoje tinha ouvido esta notícia mas pensei – palavra de honra -, que fosse piada, lapso informativo ou gaffe de algum funcionário do PC que enviara um fax por descuido para a Comunicação Social. Até me belisquei para verificar se estava de facto acordado e a viver no século XXI e não no século XIX. Não costumo opinar sobre iniciativas de quem quer que seja, independentemente de opiniões pessoias que tenha acerca das mesmas, mas esta ocorre – caramba! -, cerca de 160 anos fora de tempo!
É o debate-sessão-palestra mais Jurássico de que lembro; como é que alguém se foi lembrar de desenterrar o manifesto do baú das velharias, numa altura em que até o novo (novo, salvo seja) líder cubano, Raúl Castro, o procura esconder rapidamente na gaveta!
Nesta lógica já prevejo o próximo tema a ser discutido pela DORBE do PCP: “As problemas da agricultura portuguesa na sequência da assinatura do Tratado de Tordesilhas em 1494”
Estamos em 2008, meus amigos!!! Despertem!!!
18 de Junho de 2008 às 19:22
Segurar o poder e dizer ao povo que é para o seu bem, mesmo que inicialmente os detentores acreditem verdadeira e sinceramente estar a cumprir esse objectivo, é como equilibrar um elefante em cima do bico duma agulha.
Por mais que guine para um lado ou para outro no seu parco equilíbrio, acabará sempre por esborrachar-se ao comprido e esmagar tudo.
Não existem ditaduras de esquerda ou de direita.
Há só ditaduras, e todas as ditaduras são o expoente perverso do apego ao poder ao abrigo dum ideal.
Em doutrina, há quem afirme até que todo o poder é de Direita.
Mas como já dei para esse peditório, digo que todo o poder tende para ser ditatorial, travado apenas pela frágil democracia, “que é o pior sistema de Político que existe, excluindo todos os outros”. (Sir Winston Churchil)
Não existe esse eufemísmo trocadilhento da ” ditadura do proletariado” nem outras de sinal contrário e que norteiam conceitos de conteúdo formal idêntico.
Marx é importante ser lido, estudado e entendido.
Não para se fazer da sua obra uma Bíblia e de ele um Messias mas para que se aprenda a entender a inevitabilidade das crises nas sociedades humanas e – baseado na dialéctica e dinâmica dos fenómenos sociais – a forma de as minorar sempre que a Humanidade enfrenta as tormentas no dobrar dos Cabos da História.
Bastante falta faria aos ignorantes e modernos gestores dos modelos do neo liberalismo sôfrego e contraproducente que nos sufoca e que está numa das vertentes mais importantes da actual crise mundial.
18 de Junho de 2008 às 19:34
@Snoopy
Um dos erros mais graves da Humanidade é julgar as coisas passadas, impossíveis….
18 de Junho de 2008 às 21:49
Concordo plenamente com o comentário de Charlie, embora não seja apologista da corrente lenin-marxista.
18 de Junho de 2008 às 22:21
Hoje mais do que nunca vê-se como Marx tinha razão.
Os efeitos perversos do capitalismo selvagem que não olha a meios para escravizar o mundo inteiro com a sua “globalização” hedionda, poder e terivelmente injusta.
Num mundo de pretensa liberdade, (bem sabemos que ela é manipulada por quem lhe convem, veja-se apenas um exemplo a famigerada guerra do Iraque por petróleo valeu de tudo, destruindo de milhares de vidas) o Homem é cada vez mais explorado pelo próprio Homem.
Sem defender as ditaduras pseudo-socialistas que existiram (chamar aquilo de comunismo é um erro enorme, uma deturpação nojenta do ideal comunista), deve-se voltar ao ideal comunista e voltar a debater e a implementar essa ideia mas sempre consciente dos erros do passado.
É acima de tudo urgente procurar novos caminhos para o nosso tempo.
Não faltará muito para este capitalismo nojente, inumano, esclavagista desabar em hecatombe e em explosão social..
18 de Junho de 2008 às 22:39
@ricardo – o grave da questão é que em pleno sec 21 ainda há quem queira implantar modelos gastos, não lhes reconhecendo a inviabilidade, repetindo os métodos, com os resultados que todos conhecemos. Os regimes comunistas mantêm o povo feliz porque este não conhece outro modelo de sociedade, precisamente porque neles não há a liberdade de informação nem a democracia que permite ao povo escolher. Os erros do passado serviram de lição a todos, menos aos próprios comunistas, que tratam as suas utopias como verdades absolutas.
Prefiro viver na brutalidade capitalista a morrer bruto em ditadura comunista.
19 de Junho de 2008 às 0:04
O conceito de modelo é por ele mesmo a antítese da dialéctica evolucionista.
Um modelo político é um conjunto de soluções baseadas em paradigmas e dogmas que tendem a ser vistos com imutáveis, como se as sociedades humanas não fossem a teia complexa e sempre em mutação que todos conhecemos.
É obvio que se vive hoje no mundo da informação em rede, onde existe em simultâneo a informação e a contra informação ao toque dum clique e os operários de hoje já não são os pobres ignorantes da revolução industrial do Sec XIX que trabalhavam de sol a sol por um prato de sobrevivência.
Como o João bem diz, há gente que quer implantar modelos e soluções que estão muito bem guardadinhas na estante da História a criar o pó que os torne provectos
Não sei bem o que os move, mas fariam bem em ler Marx para darem-se conta de quão conservadores e reaccionários conseguem ser os que em seu nome anunciam os caminhos do mundo novo.
É claro que morrer por morrer, discordo do João totalmente pois morrer sim mas de velhote lá para os lados dos 200 anos e de preferência longe dos dois modelos, pois se por um lado os comunistas não tem nada de novo a oferecer, os outros já conseguiram levar grande parte da Humanidade, agora já letrada e com canudo, a recuar para o trabalhar de sol a sol por uma malga de adiar a esperança.
19 de Junho de 2008 às 8:26
great man.
19 de Junho de 2008 às 9:28
Uma das muitas verdades que Marx disse, foi a de que a vida é que faz a ideologia e não a ideologia que faz a vida.
Ora se a vida está em constante mudança (já Camões o disse, “o mundo é feito de mudança”), como quer esta gente que uma ideologia, e bem pior, uma praxis, se mantenha incólume ao cabo de quase dois séculos?
19 de Junho de 2008 às 10:45
É verdade Charamba. Mas os senhores que tanto de ele falam decerto nunca o leram, por isso tanta asneira e fundamentalismo vazio.
19 de Junho de 2008 às 11:42
Mas porque carga de água há-de o comunismo morto-vivo suceder ao capitalismo falido? Nem o Chavéz e o Evo almejam tal coisa! Mas os comunistas alentejanos, ah… os comunistas alentejanos… palavras para quê?