Jun 24 2008

Célia -54-

Publicado por as 1:40 em Célia

Não lhe fiz a vontade. Sabia que aos primeiros acordes, fosse qual fosse a melodia, Mariana não deixaria de me lançar um tentador gesto. E eu queria, naquele momento, mais do que resistir, dissolver todas as intenções, estava decidido em colocar um ponto final no tormento de me repartir em emoções. Procurava qualquer coisa que me ajudasse a não naufragar naquela ocasião, peguei num livro que estava em cima da mesa da sala, folheei-o sem o olhar, ouço Mariana resgatar-me com um “nenhuma das palavras que vais ler te arrancará da solidão em que teimas afundar-te” e pareceu-me que a razão estava ali ao meu lado. Eu não lhe poderia perguntar “vou ou fico?“, pois sabia que a permanência naquele espaço seria o fim.
Mas não era desse fim que eu andava, nos tempos mais recentes, à procura?
Não, tu não queres terminar dessa forma” e ainda a ouvi sussurrar qualquer coisa como “apaga essa página antes que ela te apague a ti“, mas já não a escutei quando a vi levantar-se, ajustar o vestido, compor o cabelo e dirigir-se para a porta da sala.
Desta vez sou eu que te espero no quarto“.
A campainha da porta fez-me despertar do súbito sonho em que me ia lançar.

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