Mar 07 2008
PSD à deriva
Crónica publicada no Correio Alentejo de 7/3/2008
Milito no PSD desde 1979, com altos e baixos na actividade partidária, umas vezes de acordo com as linhas traçadas pelas lideranças, outras em completo desacordo.
Apoiei a solução AD fundada por Sá Carneiro, quando muitos manifestavam a sua desconfiança nos resultados dessa solução. Os 45% e os 47% de 1979 e 1980 provaram que, apesar dos contestatários, Sá Carneiro estava no bom rumo.
Manifestei-me, nos locais próprios, contra as lideranças de Pinto Balsemão e Mota Pinto.
Apoiei Cavaco Silva até o seu governo se transformar numa quinta mal frequentada. Não estive ao seu lado quando fez da reeleição de Mário Soares um passeio eleitoral e fez com que alguns meus companheiros de Partido se humilhassem num incompreensível apoio ao candidato da direita. Voltei a apoiá-lo quando se candidatou pela primeira vez a Presidente da República, numa altura em que poucos eram os que queriam dar a cara pela sua candidatura. Fui um fervoroso apoiante de Durão Barroso quando o aparelho do Partido e as inerências o derrotaram num dos mais conturbados Congressos do PSD.
A liderança de Marcelo Rebelo de Sousa foi vista a cerca de 3.000 km de distância e com indiferença.
Quando regresso a Portugal, no final de 2000, já Durão Barroso liderava o Partido, lutando contra uma fortíssima torrente onde desaguavam santanistas, mendistas e outros idolatrados candidatos.
Foi com muito entusiasmo que participei nas Autárquicas de 2001 e rejubilei com a fuga do responsável pelo pântano.
As legislativas de 2002 elegem Durão Barroso como 1º Ministro e este, amedrontado com os 8% de Paulo Portas, estende a mão ao CDS, leva a direita para o governo e dá, assim, início a um processo de deriva dentro do PSD. Os episódios da sua ida para Bruxelas, entregando o Partido a um líder não eleito e a compreensível atitude de Jorge Sampaio em nomear o herdeiro social-democrata como 1º ministro, são episódios demasiadamente recentes para que valha a pena recuperar alguns detalhes, pois só os esquecerão aqueles a quem lhes interessa a memória débil.
A derrota de Santana Lopes, previsível para todos menos aos olhos de casmurros e indefectíveis, trouxe ao PSD um Marques Mendes com credibilidade mas sem a tenacidade que se exige a um líder de oposição a um governo de maioria absoluta. A sua falta de visão estratégica e uma pálida liderança foram-lhe fatais, e o PSD elegeu um primus inter pares dos herdeiros do santanismo e daquilo que menos se deseja dentro de um Partido.
Incompreensivelmente, as ditas figuras de peso, barões e outros actores de renome, remeteram-se à sua ambivalente e hipócrita comodidade, não arriscando uma pronúncia opositora, demitindo-se das suas responsabilidades, deixando o PSD entregue ao desatino, à espera da oportunidade de se apresentarem como salvadores do PSD e, por tabela, do País. Demitiram-se de apontar que o caminho do PSD tem que ser o inverso daquele que Luís Filipe Menezes (LFM) está a trilhar.
E que caminho é este?
É o da pura e insana demagogia.
Quando o País necessitava de alguém que explicasse que as políticas de Saúde, Educação e Justiça deste governo tinham alternativa noutras políticas, o líder do PSD vem propor aos portugueses o fim da publicidade na RTP.
Numa altura em que a contestação invadiu as ruas, o líder do PSD vem também ele para a rua, dizendo aos portugueses que as políticas se combatem na rua e não na apresentação de propostas alternativas.
Depois de compromissos assinados, LFM leva o PSD a representar a ridícula figura de quem não sabe assumir as responsabilidades e de respeitar esses mesmos compromissos, adoptando um infantil e birrento comportamento, sem soluções alternativas ou sequer um esboço de vontades políticas.
LFM não tem uma proposta real e concreta para o País, porque o País não lhe interessa.
Porém, ao País interessa que a este PSD suceda um Partido credível, dinâmico e com sentido de Estado.
Este PSD virou as costas ao País. A continuarmos assim, em 2009, o País virará definitivamente as costas ao PSD.
E a culpa não será só de Luís Filipe Menezes.
7 de Março de 2008 às 11:19
Hoje estamos em total sintonia (com a diferença de não ser militante, nem ter idade para me pronunciar sobre o pré-cavaco)! A única alternativa a Sócrates, é mesmo Sócrates! Apesar, de corrermos o perigoso risco de não ter maioria absoluta e ser assustador pensar com quem o PS irá governar depois de 2009!
7 de Março de 2008 às 21:26
Com o seu contributo, o seu PSD só poderá melhorar! Escreva muitas vezes e se possível em jornais de mais tiragem…
O PS agradeçe, a CDU de Beja nem por isso!…
8 de Março de 2008 às 18:01
Sou militante à muito menos tempo que o Sr. mas uma coisa aprendi, e é referido no seu texto, que o que se tem que dizer disse nos locais certo e não na praça publica.
apoiei o cavaco, e todos aqueles que são eleitos por metodos democraticos, sempre fiz campanha, independentemente de concordar ou não com as inhas que o partido segue.
Sou Social Democrata Puro, e poderá entender isto com quizer
8 de Março de 2008 às 21:34
Sempre votei em partidos à esquerda do PSD.
Mas acho que o actual estado do PSD só pode ser mau para o país. Qualquer governo precisa de uma oposição credível para ser obrigado a governar melhor. A oposição tem que estar sentada no parlamento e não apenas nas ruas ou nos jornais. Esse é o sistema democrático em que era suposto vivermos.
Além disso o PSD está no arco governativo e mais tarde ou mais cedo chegará ao governo. Faz-me confusão que ninguém no PSD arrume a casa, que o pior 1º ministro do Portugal democrático ( e principal responsável pela maioria do PS) tenha sido readmitido no seio da liderança do partido.
E acho que vocês -militantes descontentes com a actual situação – têm mudar este estado de coisas.
9 de Março de 2008 às 0:49
É uma imagem terrível de vazio que se nos espalha pela frente.
Como votante e crente nas virtudes da eleição de grupos de cidadãos com o mínimo de credibilidade para levar os projectos do nosso viver colectivo por diante, vejo-me perante uma situação que dificilmente previria há alguns anos atrás.
Como penso que a politica é algo sério demais para ser entregue a brincalhões tanto de esquerda como de direita e como os partidos do centro do arco estão como estão, deverei pela primeira vez na vida ir ao gabinete de voto e inutilizar o meu boletim com um traço vertical sobre todos os quadrados. – o votar em branco ainda correria o risco de alguém preencher o boletim a seu gosto, e perpetuar uma intenção diferente da minha….-
10 de Março de 2008 às 19:47
Gostei de ler o que escreveu. É óptimo haver no partido quem pensa assim. Pena ser(mos) a minoria.