Dez 13 2007
Olhando-se
O espelho enche-se com a tua
imagem; e queria tirá-lo da tua
mão, e levá-lo comigo, para
que o teu rosto me acompanhe
onde quer que eu vá.
Mas sem ti, o espelho
fica vazio; e ao olhá-lo, vejo
apenas o lugar onde estiveste, e
os olhos que os meus olhos procuram
quando não sei onde estás.
Por que não fechas os olhos
para que o espelho te prenda, e
outros olhos te possam guardar,
para sempre, sem que tenham de olhar,
no espelho, o rosto que eu procuro?
Nuno Júdice
15 de Dezembro de 2007 às 3:59
antiga e sem tacto dos homens
este fogo a arder porque arde só
as mãos que se movem como limbos solares
distante é a casa onde te demoras
as flores e as estrelas dançam
e queimam as tuas mãos insónias
as mãos que se comovem anunciam gestos
o caminho é o rosto sobrevoado
sinais e mais palavras sem sombra
quando sorris escondido no país da luz
as mãos essenciais obedientes ao ocaso
o teu pão agreste e o tempo que te foge
as ilhas impensadas todos são libertos do outro sonho
e de quereres saber quando é a vida
as mãos visitadas no teu espelho perseguido
ardem
[a João Ricardo Lopes, sombras interditas]