Dez 26 2007
homenagem
De repente vejo-me a olhar-te, admirar-te, seco de palavras e gestos
preso pelo fio que me ata à cadeira
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não sais daí sem comer
as sopas que arrefecem
as migas moles e eu não saio dali são horas seguidas
pratos e garfos e copos no lava loiças e eu a admirar-te
para depois sair e regressar sem voltar
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não precisavas de trazer a tua malinha
mas eu queria voltar e regresso de novo agora para mais longe
marchas e botas que me fazem feridas nos pés
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não deixes que te façam mal
e uma e outra carta de desabafo e a vontade de regressar de voltar
e a cada viagem fico mais distante com vontade de me aproximar
o natal à mesa, há festa, música, as delícias todas que nos fazem voltar
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esta é a sopa de que mais gostas
e perdem-se rostos que agora fugiram já ali não estão mas sentem-se
e recordam-se à mesa e na árvore e nas luzes e fujo ainda para mais longe
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mando-te estas cortinas para o quarto
que é junto ao rio e avisto as serras que se enchem de neve
nos Invernos longos da distância da ausência que sinto naquela noite,
a consoada junto ao crepitar do lume,
a consumir as cinzas e sei naquele momento
que partiste sem fugir e
que estás aí.