Dez 07 2007

Merecíamos melhor!

Publicado por as 12:00 em Crónicas

Crónica publicada no Correio Alentejo de 7/12/2007

Referi-me na minha anterior crónica ao facto de o actual executivo camarário bejense se ter furtado a fazer um balanço de dois anos de mandato. Curiosamente, dias depois, os jornalistas eram convidados para uma conferência de imprensa onde seria feito o tal balanço. Só que, por razões desconhecidas, a referida conferência foi cancelada e, em seu lugar, marcada uma outra, esta para apresentar o Orçamento e Opções do Plano da Câmara Municipal de Beja para 2008. Apesar de o documento ainda ter que ser objecto de discussão e aprovação na Assembleia Municipal, o actual executivo demonstrou, mais uma vez, a sua arrogância, desta vez com total desprezo pelos deputados municipais, onde se incluem os da mesma força política que gere a Câmara Municipal e que, seguramente, não se incomodam com este tipo de atitudes por parte dos seus camaradas no executivo. O centralismo democrático obriga a manter caladas as bocas e quem arriscar contrariar esta prática sabe que o caminho pode vir a ser o da expulsão, como aconteceu à deputada Luísa Mesquita.
Mas se o executivo se furtou ao balanço, já uma rádio local aproveitou a ocasião para, entrevistando o Presidente da Câmara, poder fazer uma avaliação da obra feita e ouvir o que se pretende fazer nos próximos 2 anos.
E o que se ouviu nessa entrevista?

Já o disse e volto a afirmar: há, em Beja, duas cidades distintas.
Há aquela onde nós vivemos, a que se desertifica, que perde centralidade, que vai perdendo qualidade de vida, uma cidade fechada, desinteressante, paralisada. A outra cidade é aquela que é vista pelos olhos de quem ocupa as cadeiras dos paços do concelho. Para estes, Beja é uma cidade cheia de projectos, em vias de dar o grande salto rumo ao futuro, uma cidade que se desenvolve e onde as pessoas estão felizes e vivem bem.
Foi esta cidade que Francisco Santos, Presidente da Câmara, revelou na referida entrevista.
Projectos e mais projectos, a que se seguirão outros projectos, é a forma como se pode resumir o que nos espera nos próximos anos.
Perguntado sobre o que já havia sido feito, o Presidente da Câmara Municipal apresentou como grande obra a Casa Mortuária (sic!) e, como apoio ao Ensino Superior, a criação da Universidade Sénior (um espaço lúdico e nada mais do que isso). Perante estas grandiosas iniciativas camarárias, a oposição fica sem argumentos e incapaz de propor coisa melhor.
Mas o Presidente disse ter feito muito mais: escreveu uma carta ao Presidente da Região de Turismo a questionar quais são as Câmaras devedoras àquele organismo. Enquanto não receber resposta, a Câmara de Beja não contribui para a Região de Turismo. Espera-se que idênticas cartas tenham sido enviadas à Associação de Municípios (AMBAAL), à AMALGA, à Assembleia Distrital, ao Conservatório Regional e a outras Associações de que a CM Beja faz parte e, enquanto não houver resposta ou houver outras Câmaras devedoras, a de Beja suspenda os seus contributos. Falando claro: estivesse a Região de Turismo na esfera do PCP certamente que as contribuições da autarquia bejense não faltariam.
Igualmente referida como obra, a RuralBeja 2007 faz parte do louros que a Câmara Municipal de Beja arrecada para si. Foi pena que não se tenha perguntado quanto custou aquele fiasco.
Depois ficámos a saber, pela boca de Francisco Santos, que Beja tem um plano estratégico para o desenvolvimento. Se tem, deve estar escondido nalguma gaveta pois aquilo que mais se percebe é que Beja não tem estratégia.
As questões culturais, na óptica ex cathedra do Presidente da Câmara Municipal de Beja, resumem-se ao “presta” e “não presta”. Isto é, a cultura desenvolvida pela autarquia é que é boa, evidentemente. As actividades produzidas pelas empresas que não são apaniguadas, pelos agentes não reverentes, pelos artistas não situacionistas, essas não prestam. É óbvio que nenhuma Carta Cultural ou Conselho Municipal conseguirá inverter esta mentalidade provinciana, pois todos estarão subjugados ao subsídio – seja ele financeiro ou logístico. É por isso que Francisco Santos disse o que disse sobre o Festival do Amor. Incapaz de ver para além do espartilho ideológico em que tem transformado a cultura bejense, Francisco Santos não se coibiu de comentar o que desconhece. Mas ficámos a saber que Soror Mariana, aos olhos do nosso Presidente de Câmara, é uma das figuras mais importantes da Literatura Portuguesa (sic!). Epíteto que, digo eu, a poderia alcandorar ao respectivo Prémio Nobel se a freira, para além de ter escrito as 5 cartas ao cavaleiro francês, tivesse relatado exaustivamente as suas experiências napoleónicas sob os lençóis de linho do seu leito. Talvez aí, em vez de amor romanesco e liturgicamente platónico, soubéssemos de poucas-vergonhas que tornariam sensaborão o tão “escandalosamente” erótico Festival do Amor.
Outras novidades foram reveladas na entrevista radiofónica:
– que o futuro Parque de Campismo será construído entre a Escola de Santiago Maior e as futuras instalações da ESTIG. Isto é, no meio de edificações e no sobrevivente pulmão urbano, sem acessibilidades e, o pior, sem uma ampla discussão pública sobre a futura localização deste equipamento turístico;
– que há a intenção de colocar uma cobertura em parte da piscina descoberta, destruindo-se, assim, uma obra ímpar na região e que, por desleixo/falta de vontade da autarquia, se tem vindo a deteriorar e a deixar de ser um verdadeiro espaço de lazer;
– que o Mercado Municipal tem os dias contados e que a culpa é das grandes superfícies;
– que o futuro pertence aos financiamentos europeus e deles depende o cumprimento do programa eleitoral da CDU; pelo que, se tudo não passar de projectos, a culpa será do Governo, da oposição, do senhor Luís Ameixa e sabe-se lá mais de quem.
A entrevista-balanço revelou muito de como, sem oposição ou contrariedades, se pode praticar o quero, posso e mando. Não se adivinha grande futuro para cidade e para a região, mas tudo passará despercebido, até porque este é um município participado.
Os dois anos que passaram não foram bons e as perspectivas para os próximos dois são as piores.
Merecíamos melhor!

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3 Resposta a “Merecíamos melhor!”

  1. fm estéril diz:

    boa malha

  2. AMRevez diz:

    Está na mouche sim senhor.

  3. zandre diz:

    João, nesta cidade, por mais que se queira, não se consegue fazer nada. Vou resumir…
    Propus a o S.º Presidente (Francisco Santos), que me cedesse um lugar, onde pudesse criar uma escola DEMOCRATICA, onde pudéssemos juntar e trabalhar todos os pintores e escultores.
    Onde pudesse dar aulas de pintura, onde pudéssemos expor todos aqueles que somos excluídos na casa das artes (Museu Jorge Vieira ), não sei se alguém se apercebe, mas ali só expõe os amigos da dona da casa, alentejanos poucos, e daqueles que vivemos na cidade, creio que nenhum. A propósito, vai até a casa das artes e vê sobretudo o 1º prémio da Galeria Aberta (faz-me um favor, vai ver), por que se não fores ver, não acreditas, não devemos esquecer de que o prémio principal, não é só o dinheiro do prémio, mas tudo o que vem detrás. Este ano ganhou uma tal Alfacinha(não estou a gozar, é o nome da senhora). Esta senhora vai ser promovida pela câmara de Beja. Vão fazer-se livros apresentando a dita e seus respectivos comes e bebes. Isto é feito a todos os que expõem na casa das artes. Para isto, já a câmara tem dinheiro!
    Resumindo, depois de vários meses de empatar, hoje é aqui, amanha é no outro lado, depois de conseguir falar com os srs. DOUTORES, coisa meio impossível pois estão sempre em reunião, disseram-me afinal, não terem sitio. Ou melhor, talvez para fevereiro, talvez ….. . a minha escola democrática morreu antes de nascer.
    Quero lembrar-te que só a casa das artes tem duas casas,
    uma na Rua do Touro e outra na Rua dos Escudeiros.
    É claro, eu não estava a pedir ordenado, mas a câmara prefere pagar ordenados a artistas plásticos com currículos falsos e sem nenhuma obra feita. Para esses já há lugares,
    incluso bem pagos, um saltinho à casa da cultura.
    Logo ouvimos dizer que a C.M.Beja não tem dinheiro, e que Beja esta a morrer!
    Por favor senhores isto não é contra o partido A , B, ou C,
    é pela falta real de democracia, não sei se no resto do país é assim, mas se for, então compreendo a nossa miséria.
    Por favor deixem trabalhar aqueles que querem trabalhar ainda por demais grátis!
    João até uma próxima.
    zandre

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