Set 21 2007
Queria que o tratassem como?
O Presidente da Câmara de Beja afirmou há minutos à Radio Pax que o DN (e nós por cá) trata Chavez, Presidente da Venezuela, como um ditador, como se fosse um déspota, o que está mal, pois ele foi eleito democraticamente.
Obviamente que brevemente teremos em Beja uma delegação venezuelana que nos irá explicar a democracia e a liberdade num país onde as mesmas só existem na imaginação de comunistas ortodoxos.
Este Dr. Santos de facto……
21 de Setembro de 2007 às 16:25
O facto de ter sido eleito, não lhe dá direito de fazer o que tem feito. Do que é que vale ser eleito se, na prática, ele é um ditador?
22 de Setembro de 2007 às 17:54
Ricardo, já agora explicite lá porque é que ele é um ditador. Diga quanto presos políticos existem na Venezuela, quantas eleições ele já ganhou e …já agora de quantos golpes de Estado já foi vítima. Depois não se esqueça que neste nosso país:
– foi aprovada uma lei de imprensa que permite a um chefe de redacção censurar o que o jornalista escreve;
– existe um partido que, numa região autónoma, de um dia para o outro fez aparecer 8 mil novos militantes com capacidade eleitoral para as directas desse partido, sem que qualquer um tenha pago as quotas;
– um Presidente da Câmara (que até é do PSD) tem que mandar os seus doentes para Cuba (outra ditadura) para serem tratados, porque aqui na democracia correm o risco de ficarem cegos.
É que realmente o vosso “democrómetro” é bastante curioso: a Colômbia, país onde mais sindicalistas são assassinados no mundo, onde os militantes de um movimento que abdicou da guerrilha (m19) foram dizimados pelos paramilitares, é um país democrático e a Venezuela uma didatura, só porque o seu presidente ousou colocar em causa os interesses de uma super potência.
22 de Setembro de 2007 às 20:31
@aldeão:
Já escrevi no meu blog que a nossa democracia passa, na minha opinião, por uma crise grave que pode, a médio prazo, redundar em algo mais grave. Também tenho escrito, repetidamente, sobre a América Latina, defendendo que aquele continente é um autêntico barril de pólvora. Eu sou da opinião de que qualquer ditadura, seja de esquerda ou de direita, é má! É verdade que Portugal e a Europa não têm conseguido dar a resposta adequada aos seus cidadãos (saúde, justiça…), nem morro de amores pela política norte-americana. Em relação ao sr. Chávez, é verdade que foi eleito democraticamente. Mas os sinais que tem dado são muito preocupantes, portando-se como um ditador: veja-se o encerramento compulsivo do canal privado, o querer ser presidente por mais mandatos, alguns ecos de perseguição política, etc… Ele pode afrontar as super potências que quiser, pode discordar do que bem entender, se os venezuelanos lhe dão apoio, ainda bem para ele. Agora, privar a Venezuela de liberdade de expressão ou de alternância democrática…
22 de Setembro de 2007 às 21:15
@ Ricardo,
Para não entrar em mais polémicas, deixo-lhe um artigo recente do insuspeito le monde diplomatique http://www.monde-diplomatique.fr/2007/08/RAMONET/15003 onde poderá ficar com uma ideia mais correcta sobre Hugo Chavez.
22 de Setembro de 2007 às 21:32
@ Ricardo,
Desculpe mas o anterior comentário ficou incompleto. O que eu queria dizer é que as circunstâncias fizeram dele um populista. Mas esse populismo conduziu à troca de petróleo por médicos e professores, à reabilitação de milhões de indígenas que passaram a ser tratados como gente, etc. Ainda agora está a interceder na troca de prisioneiros das FARC com o governo Colombiano, iniciativa que tem o apoio dos presidentes franceses e brasileiro. Poderia ter-lhe dado para pior. Quanto ao encerramento compulsivo do canal de TV privado,o que aconteceu foi que terminou o prazo da concessão da licença o qual não foi renovado. Mas essa televisão continua a emitir por satélite e por cabo. E recordo-lhe o que uma vez disse Mário Soares: na Venezuela existem 5 canais de televisão, dos quais 4 fazem campanha diária contra Hugo Chavez e ainda por cima lhe chamam ditador. Também lhe poderia contar alguns episódios sobre a isenção jornalística dessa estação de televião, mas fica para outra altura. Quanto à perpetuação no poder isso só sucederá se ganhar as eleições e não se esqueça que não existem eleições no mundo mais vigiadas do que as Venezuelanas. Em Portugal existem políticos que ganham eleições há mais de 30 anos e não é esse facto que nos dá o direito de lhes chamar ditadores.
23 de Setembro de 2007 às 1:51
@aldeão:
Antes de mais, obrigado pelo artigo de Ramonet. Contudo, mantenho algumas discordâncias que passo a explanar:
Repito, é verdade que ele foi eleito democraticamente. Não é isso que está em causa. O que importa é analisar o seu discurso e as suas atitudes políticas. A RCTV não era isenta? Os órgãos pró – Chávez são isentos? As horas de espaço nos Media, a fazer propaganda ao seu trabalho, isso já é justo?
É normalizar ameaçar as escolas privadas com a nacionalização, caso não sigam o modelo “socialista”? O que é que se pretende, lavar o cérebro às pessoas? Onde é que está o respeito pelas liberdades individuais? É a velha lógica do “ou estão connosco, ou estão contra nós”?
Sempre defendi limitação de mandatos, a excessiva permanência nos lugares é prejudicial, não só para o eleito, como para o território que representa. Por ser um suposto defensor do socialismo, já é justo? Importa dizer que a popularidade de Chávez caiu, e muito, nas últimas semanas, à custa do seu objectivo de se perpetuar no poder.
Na minha opinião, Chávez, mais do que um projecto socialista,defende um projecto de poder pessoal, com sinais evidentes de culto da personalidade. Na prática, ele exibe sinais e comportamentos muito preocupantes. A Venezuela pode, a curto prazo, caminhar para uma ditadura.
Só tenho pena que os EUA e a UE mantenham um certo desinteresse político pela América Latina, e fechem os olhos à violação de direitos fundamentais. Veja-se o que aconteceu com Pinochet,ou o que acontece, na actualidade, com a China. Quando cheira a dinheiro…
23 de Setembro de 2007 às 2:24
Ricardo,
Ok respeito a tua opinião, mas filtra bem as mensagens que te fazem passar, porque como é óbvio, num país em que mais de 50% da população tem acesso gratuito à saúde, em que grande parte da população tem direito a alimentos mais baratos (em cerca de 40%) do que os praticados no mercado, isso motiva reacções dos interesses privados que são postos em causa. Agora o que é curioso é que nunca como hoje o comércio entre os EUA e a Venezuela esteve tão activo (em ambos os sentidos) e nunca,como hoje, as empresas estrangeiras ganharam tanto dinheiro na Venezuela, em virtude das altas taxas de crescimento que a sua economia tem apresentado nos últimos anos (12%) o que aliado a uma forte diminuição da taxa de pobreza tem conduzido a um aumento da taxa de consumo (18%). E fica a saber que o salário médio da Venezuela é dos mais elevados da América Latina e que, recentemente, a jornada de trabalho foi reduzida para um máximo de 7 horas diárias.
23 de Setembro de 2007 às 16:13
@aldeão:
Focou um aspecto importante: “…o comércio entre os EUA e a Venezuela esteve tão activo (em ambos os sentidos)..”. É por isto, e outras coisas, que digo que ele não defende o “socialismo do séc. XXI”. Ele pega em elementos soltos (do marxismo-leninismo, capitalismo,…) e usa-os de acordo com as conveniências e interesses.
23 de Setembro de 2007 às 18:29
@ Ricardo,
Ele segue uma lógica muito simples: só importa o que não pode adquirir internamente e só exporta o que não fizer falta para satisfazer as necessidades locais. Por isso, no ano passado registou um saldo positivo de 33 biliões de dólares no comércio com os EUA. O que é curioso é os EUA que no plano político combatem o regime Venezuelano, no plano económico apoiam o regime através da importação diária de 1 milhão de barris de petróleo. São as incoerências da política!