Set 28 2007
O Olhar de… Mário Nogueira
foto: joão espinho
O processo de apreciar uma fotografia não é algo unívoco e universal. Cada um segue o seu método, condicionado pela sua sensibilidade e conhecimento; os critérios variam, os resultados diferem. Existem, no entanto, determinados elementos cuja análise é um pouco mais simples, imediata e consensual.
A técnica é uma delas: a focagem e a exposição valorizam o sujeito?
A composição também tende a seguir determinadas regras que facilitam (ou não) a sua aceitação pelo observador.
Passando esta parte mais formal, entramos no domínio da subjectividade. O tema é interessante? Transmite-nos alguma mensagem? Aqui está presente uma forte componente pessoal, já que cada fotografia pode evocar memórias ou sentimentos num determinado observador, fruto da sua experiência passada ou sensibilidade.
Respondendo ao amável convite do João, percorri o “Praça da República” em busca de uma imagem que me inspirasse, e que decidi que deveria ser da sua autoria. Esta chamou-me a atenção. Tecnicamente, sem falhas. A composição seguia as “regras” clássicas: divisão por terços (zona da porta à esquerda, parede à direita, degraus até um terço da altura, novo patamar até dois terços de altura) e diagonal (a ruela).
Tendo a minha atenção, passo a observar mais cuidadosamente os elementos. Estes fazem-me relembrar realidades onde já estive. Estou a viver a cena, que existe. Não é uma fotografia de uma ruela; é uma ruela, por onde eu já caminhei. O facto do autor não colocar uma “legenda” ajuda à divagação, a este criar de cenários.
A fotografia, como a Arte em geral, é pessoal, e depende de quem a recebe. Esta é, para mim, a melhor fotografia do João neste último ano de publicações.
Mario Nogueira ( link )
28 de Setembro de 2007 às 9:25
[…] texto foi publicado hoje, e está neste link. Inicialmente eu tinha escrito um artigo consideravelmente mais longo, mas por motivos editoriais […]
28 de Setembro de 2007 às 9:41
Espectacular Mário.
Muito bonita a forma como entraste na foto.
28 de Setembro de 2007 às 12:13
Obrigado, Mad 😉 O mérito está no artista… 🙂
29 de Setembro de 2007 às 0:58
Eu gostava muito desta fotografia de João Espinho, mas não sabia porque gostava. Aprendi com Mário Nogueira e passei a gostar mais. Não será por acaso que quem tem cultura musical tira da música maior prazer, que quem tem cultura artística, designadamente pictórica, aprecia melhor a pintura. E muito embora não haja qualquer competição entre a pintura e a fotografia, como formas de arte, a verdade é que acredito que o gosto por ambas, na perspectiva do observador, que talvez não na do artista, se tem zonas distintas, específicas, tem sem dúvida uma importante interface comum a ambas.
29 de Setembro de 2007 às 14:44
@hf: concordo completamente. Por isso se aconselha a quem se interessa por uma (ou qualquer) das artes que investigue, que veja, ouça e sinta vários “exemplos”. Só através deste conhecimento/cultura se tira maior prazer da fruição das obras… 😉
22 de Março de 2009 às 22:40
as sempre expectaculares ruas de mertola…