Set 24 2007

Soltas e (ainda) quentes

Publicado por as 14:33 em Crónicas

Crónica publicada no Correio Alentejo de 21 de Setembro de 2007.

O período estival é pouco propício a discussões sobre grandes temas. Porém, o Verão que agora está a acabar ofereceu-nos momentos bem quentes, contrastando com a meteorologia, que pregou as suas partidas aos veraneantes, desejosos de muito sol e praia.

Vejamos:

1. O PSD lançou-se na disputa interna pela sua liderança, num processo resultante da derrota sofrida nas eleições intercalares para a Câmara Municipal de Lisboa. O líder fez bem em convocar as eleições, numa tentativa de reforçar o seu poder dentro do Partido e calar algumas das vozes que lhe têm sido mais críticas. O grupo de Santana Lopes (e do seu sub-produto chamado Luís Filipe Menezes) pode agora testar a sua popularidade junto dos social-democratas, porque junto dos portugueses os resultados de 2005 estão ainda bem presentes.
Porém, o que tem Marques Mendes a ganhar com estas directas antecipadas, para além de, previsivelmente, derrotar o seu repetente opositor?
A meu ver, e como militante social-democrata: Nada!
Marques Mendes é, reconhecidamente, o mal menor dos dois candidatos e deve saber que muitos dos apoios que consegue agora granjear são muito efémeros e que lhe pedirão a cabeça após as eleições de 2009. A táctica de ser rápido e surpreender com a convocação de directas antecipadas não faz parte de qualquer estratégia que não seja a de fazer recuar alguns dos que podiam avançar para a liderança. Alguns nomes foram lançados para os noticiários, mas desde logo se apressaram a desmentir a sua putativa candidatura. O calvário é para ser levado até às próximas legislativas, em oração permanente para que a derrota não seja desastrosa.
São conhecidas as divergências que tenho com o santanismo e com os seus fiéis herdeiros. Jamais votaria em Luís Filipe Menezes, pois a credibilidade ainda é um valor que se deve estimar. Mas o que me afasta de Menezes não me faz aproximar de Mendes. Não esqueço as promessas não cumpridas aos alentejanos na anterior campanha para a liderança, não esqueço o imbróglio não resolvido das eleições para a Distrital de Beja do PSD, não esqueço a campanha que fez pelo “Não” no referendo sobre a IVG, onde vergonhosamente quis colar todo o PSD a essa sua posição individual, não esqueço os ziguezagues perante o líder madeirense – “o nosso grande líder”, segundo Marques Mendes, quando o que se lhe pedia era frontalidade contra a boçalidade de Jardim.
Perante este espectro, só me resta a abstenção, não apoiar qualquer dos candidatos, e desejar que o PSD discuta muito mais do que episódios como os debates que se fazem ou não entre ambos os candidatos, que o PSD se saiba reencontrar através de um profundo debate interno sobre o quer para si e para o País.
Não fico mal com a minha consciência assim procedendo. Seguramente que me sentiria mal se, no dia 28 de Setembro, tivesse que engolir um sapo ao votar no “mal menor”.

2. O executivo PCP da Câmara Municipal de Beja vai demonstrando, por actos e omissões, o entendimento que faz democracia. Verdadeiros senhores feudais, não têm receio de se destapar e mostrar-se como na realidade são.
Poupado neste período estival, também nós fomos poupados às intervenções sempre curiosas do Presidente da Câmara. Assim, tivemos que ouvir os vereadores de serviço.
Primeiro sobre a posição que os partidos da oposição tomaram relativamente à intenção do PCP de dotar, sem planeamento, algumas freguesias com campos de relva sintética. Ao vereador de serviço não lhe ocorreu melhor ideia do que dizer que os vereadores da oposição estão agora contra, porque como não estão a tempo inteiro, não têm noção do que está em causa, não estão por dentro dos assuntos. Mas que depois de estudarem o assunto, votarão a favor.
É desta forma que se trata a oposição, chamando-lhe, de forma camuflada, preguiçosa, desinteressada, ignorante. O vereador Caixinha podia ter ido mais longe e dizer abertamente o que lhe vai na alma: “esta oposição é uma chatice, mas com o tempo vai ao lugar”.
O outro vereador de serviço, o inigualável Miguel Ramalho, decidiu que as críticas que lhe foram feitas pelo presidente da Câmara Municipal de Cuba, tinham um cariz pessoal, que eram ataques à sua pessoa. Isto deve ser um tique, alguma maleita, de que sofre este executivo comunista. Não sabe vir a terreiro defender-se com argumentos. Prefere ver fantasmas onde só existe uma contenda política.
E tenta iludir as pessoas, quando afirma que a Festa do Avante é um evento político. Ora, que eu saiba, ninguém paga uma EP (Entrada Permanente) para assistir a um comício. Logo, a Festa do Avante, respectivos pendões e outdoors, que invadiram a cidade de Beja, deveriam ter tratamento idêntico ao que a vereação bejense deu à publicidade do município de Cuba. Ou então o contrário, o que estaria mais consentâneo com os princípios que são o cimento da Democracia.
Mas o vereador Ramalho não sabe o que é isso.

3. António Revez escreveu aqui, há dias, uma crónica cuja substância subscrevo na íntegra. “É preciso alternativa”, diz o articulista, lançando um repto a quem não se revê na estagnação a que a nossa cidade chegou. Saibam agora os principais actores retirar o essencial do que se escreveu e ouvir as vozes dos cidadãos anónimos. Beja (ainda) merece ter futuro.

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Uma Resposta a “Soltas e (ainda) quentes”

  1. pontapé na lógica diz:

    Mais uma vez gostei da crónica. No entanto, permite-me num reparo.

    Dizes no ponto 3: «António Revez escreveu aqui, há dias, uma crónica cuja substância subscrevo na íntegra. “É preciso alternativa”, diz o articulista, lançando um repto a quem não se revê na estagnação a que a nossa cidade chegou. Saibam agora os principais actores retirar o essencial do que se escreveu e ouvir as vozes dos cidadãos anónimos. Beja (ainda) merece ter futuro.»

    Não me parece que o Concelho de Beja se resuma à sua “cidade”. Bem pelo contrário. Até porque, a haver “estagnação”, ela certamente será mais grave fora dos muros do burgo.

    Talvez porque quem pensa e decide, em regra, vive na “cidade”, temos assistido indolentemente à multiplicação de políticas míopes de aniquilação “da vida em meio rural”: Encerramento de escolas, centralização de serviços, ausência de políticas de emprego, etc, etc. Este fenómeno de ablepsia aumenta proporcionalmente à dimensão da metrópole de onde emergem as políticas – Em Lisboa, ninguém se lembra de Beja, queixam-se os bejenses e bem. Mas, por sua vez, em Beja ninguém se lembra da Cabeça Gorda, replicando os bejenses as políticas de que eles próprios tanto se queixam.

    Desde pequeno que oiço os políticos bejenses choramingarem a sua interioridade sem nada fazerem para a ultrapassar(desabafo).

    Já Caeiros sabia que:

    NA CIDADE AS GRANDES CASAS FECHAM A VISTA A CHAVE,

    ESCONDEM O HORIZONTE, EMPURRAM NOSSO OLHAR PARA LONGE DE TODO O CÉU,

    TORNAM-NOS PEQUENOS PORQUE NOS TIRAM O QUE OS NOSSOS OLHOS NOS PODEM DAR,

    E TORNAM-NOS POBRES PORQUE A ÚNICA RIQUEZA É VER.

    Discutir Beja meramente em função da “cidade” é, a meu ver, não considerar a problemática no seu todo.

    NOVOS POLÍTICOS PRECISAM-SE, COMO DIZ O ANTÓNIO REVEZ, PORQUE DE CAIXINHAS E AFINS ESTAMOS TODOS FARTOS, MAS PARA ISSO É NECESSÁRIO QUE ESSES NOVOS POLÍTICOS SEJAM DIFERENTES.

    SE CALHAR, PRECISAMOS APENAS DE QUEM SAIBA VER “TODO O CÉU” E NÃO APENAS A FRACÇÃO QUE ESTÁ POR CIMA DA SUA CABEÇA.

    Um abraço

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