Set 05 2007

É preciso alternativa!

Publicado por as 22:26 em A minha cidade

Dada a sua importância , e por me rever inteiramente na substância do mesmo, publico, com a devida vénia, artigo assinado por António Revez, na edição de 31/8/2007, do Correio Alentejo.
Refira-se, para os menos atentos, que eu e A. Revez estamos, partidariamente, nos antípodas e discordo de muitas das suas posições políticas. Mas esta, sem hipocrisias, subscrevo-a inteiramente.
Está aberto o debate.

“Chegados praticamente a meio do mandato autárquico bejense, já os mais cépticos podem confirmar as suas negras expectativas, os mais convictos sentirem-se frustrados e os mais iludidos desenganarem-se. Beja permanece prisioneira de uma oligarquia comunista pequeno-burguesa cada vez mais desintegrada partidariamente e mais consolidada na manutenção da “coligação dominante”, o que, ainda traz compensação eleitoral, conseguida pela fidelidade partidária dos idosos, pelas promessas de carreira e oferta de emprego para os politicamente próximos, e pela “jogada segura” de muitas famílias de clientes, fornecedores e prestadores de serviços da câmara, que preferem não arriscar uma mudança partidária no executivo da câmara, de consequências por vezes nem sempre favoráveis para os credores.

Também pouco a pouco se vão denunciando ou sendo denunciadas as subterrâneas ou “petiscadas” relações entre os responsáveis autárquicos e os patos-bravos da construção, os especulativos fundiários, os investidores imobiliários, configurando uma promiscuidade flagrante entre os interesses políticos, económicos e pessoais. Esta situação, que vem do passado, ajuda a perceber por que é que adversários políticos de direita se amansam em engraxamento de polimento ao executivo comunista ou se empinam em estapafúrdia colagem de posições. O que parece absurdo e incoerente politicamente ganha a razoabilidade das vantagens económicas e pessoais quando se descobre que o senhor “A” tem vários terrenos em banho-maria à espreita da urbanização, ou quando o senhor “B” aguarda decisões de licenciamento, ou quando o senhor “C” confia que as múltiplas transgressões urbanísticas cometidas não lhe acarretem penalizações e embargos. E por isso, afinal, não espanta que certos apoios políticos venham donde seria mais improvável virem.
Este quadro evidencia também a incapacidade dos partidos em controlar e fiscalizar politicamente os “seus” autarcas, os quais ganham um protagonismo e um poder de influência que trazem reféns as estruturas partidárias locais e regionais e as condenam ao assentimento político ou, então, a “disparar para o lado”, elegendo como alvos o Governo nacional ou os adversários políticos. Foi neste lance estratégico que surgiu o Movimento BAAL 21, uma extraordinária oportunidade para o PCP envolver muitos daqueles que “serve” e capitalizar a insatisfação geral em torno do “triângulo” mítico do desenvolvimento, desviando as atenções do impasse estratégico e inépcia governativa de muitos dos seus autarcas.
Este quadro também se alimenta de uma inércia impressionante, favorecida pela oposição política, que vem anestesiando ao esquecimento aberrações como a longevidade interina do director do “Diário do Alentejo”, o silêncio face ao grotesco “Beja digital”, o falhanço do “Município Participado”, a anedota do “Beija”, o “flop” da “Colina do Carmo”, o “truque” do empréstimo contraído pela autarquia, a inexistente Carta Cultural do Concelho, a indefinição da Casa da Cultura, a inoperância do Gabinete de Informação da autarquia, o homicídio dos grandes eventos culturais para a juventude, a patetice caricata da “BejaSenior”.
A isto tudo e muito mais deve somar-se um presidente de Câmara com um perfil totalmente desajustado ao cargo que exerce. Uma pessoa de impertinências e birras, impermeável às críticas, capaz de sacrificar o interesse comunitário ou a justeza de um apoio a uma associação ou a uma iniciativa por razão de incompatibilidade pessoal ou antipatia por um promotor. Para além disso, não levou a cabo uma anunciada e esperada reestruturação dos serviços e seus responsáveis, limitou-se a alguns “arranjos” internos justificados, mas manteve vários “intocáveis”, protegidos de vereadores, apesar da continuada incompetência daqueles, e até promoveu figuras que têm levado a associar-se o nome da Câmara Municipal ao disparate, ao arbítrio, e à impunidade. E, mais grave que tudo, não tem a mínima ideia do que seja um “projecto de cidade”, é um esforçado “gestor de contingências”, sem uma visão estratégica para a cidade.
Perante isto tudo encontramos uma oposição política atabalhoada e inconsequente, quer no âmbito da vereação, quer em contexto de Assembleia Municipal, salvo raras excepções mais rebeldes que alinhadas.
Ora, chegados a meio deste mandato autárquico vai sendo tempo de se pensar e construir uma alternativa. Uma alternativa que não pode nascer da aprovação dos aparelhos partidários, nem de alianças pós-eleitorais. Uma alternativa que deve começar agora a ser desenhada e que pressupõe um empenhado investimento de independentes e daqueles que, apesar das suas ligações partidárias, tenham a boa vontade política suficiente para pôr constrangimentos partidários de lado e a sabedoria e sensatez de se unirem em torno de um projecto plural e aberto, especialmente receptivo ao contributo dos cidadãos e das suas estruturas representativas e fortemente motivado para fechar um “ciclo político” unicolor na câmara municipal de Beja, ciclo que está saturado de vícios, desperdícios e cumplicidades e que não pode, a continuar, hipotecar, mais uma vez, o futuro de Beja e das suas gentes.”

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15 Resposta a “É preciso alternativa!”

  1. DarthLion diz:

    Estamos á espera de quê ?

    Temos de começar a preparar uma candidatura não partidária.

    Há um projecto para criar, nomes para definir.

    Uma lista de candidatura para fazer.

    Digamos presente e combinemos uma reunião (jantar)

    ……..
    Eu, Paulo Nascimento digo:

    Presente
    ……..

  2. AMRevez diz:

    Caro Nikonman,
    Possam as diferenças e as divergências salvaguardarem-se e as convergências construirem-se. Seria sinal de que um projecto bem delineado e com as pessoas certas não dilui as identidades nem atropela as soluções necessárias.
    Abraço e continuação de bom debate!

  3. Mestre Viktor diz:

    Concordo, com o facto de se mudar, pois muitos anos na “cadeira” do poder, faz com que sejam criados vícios. Há que se promover a modernização e o rejuvenescimento dos “governantes” locais, pois há que se apostar em novas ideias, novas formas de dinamismo, novas formas de promoção e novos métodos.
    Digo isto, pois como funcionário público que sou, e conhecendo os meandros das autarquias, vejo que há pequenas coisas que se fossem mudadas podiam fazer grandes diferenças. Quem está nesses locais nunca pode descurar que está lá eleito pelo povo e assim sendo terá de zelar pelos direitos comuns do povo e do município que representam.
    Política é política, trabalho é trabalho, amizade é amizade, isso são valores que os membros eleitos pelo povo de qualquer instituição pública não devem nem podem descorar.
    Um abraço.
    Namasté.

  4. Ze diz:

    offtopic – nikonman, pode pedir aos empreiteiros do site para meter RSS para os comentários? este de certeza que punha nos favoritos!

  5. nikonman diz:

    @ze – pode subscrever seleccionando a caixinha aí em baixo. Mas vou pedir para tratarem do rss!

  6. Ze diz:

    Obrigado pela atenção, mas subscrever no mail nao dá mto jeito aguardo pelo RSS, só assim venho cá mais vezes

  7. Dinis Gorjão diz:

    Concordo também inteiramente com o A.M.Revez.
    Beja necessita urgentemente de mudar o rumo radicalmente.
    Sou jovem e já vou ficando desgastado com truques e estratégias partidárias, talvez a força dos independentes fosse uma óptima solução.
    Pois bem, como em tudo na vida, falta alguém dar o primeiro passo e se assuma como cabeça de cartaz.
    Eu estarei, com toda a certeza, a apoiar.

  8. h diz:

    Com data venia do dono da Praça, deixo link para um texto, relacionado com a discussão: http://ireflexoes.blogspot.com/2007/07/devaneios-meus.html

  9. JH diz:

    O texto em apreço mais não é que o exprimir público de um sentimento há muito partilhado em Beja e por boa parte de Beja, ainda que a maioria prefira não levantar ondas devido a medos e receios a meu ver intoleráveis mas com ele (texto e autor)sou obrigado a concordar.

    Esse sentimento também eu creio que seja de necessidade relativamente a uma inequívoca falta de visão e pior, de qualquer espécie de dinamismo.

    Já nesta praça por vezes expressei que uma solução de independentes desapossada dos normais e mesquinhos interesses partidários, seria, a meu ver, o melhor que poderia acontecer a esta terra/região.

    Também eu sou jovem (ainda não atingi as 30 primaveras) e desligado de qualquer filiação partidária, situação pela qual me posso considerar virgem de política mas sinto e sofro com a falta de ideias que Beja padece e que quem nos governa demonstra não ter. Portanto, também eu me disponho a apoiar um qualquer movimento INDEPENDENTE (semelhante ao que sucede no Alvito) para tentar dar resposta aos anseios escondidos mas cada vez mais notórios das gentes da nossa terra.

  10. h diz:

    JH – muito interessante lê-lo; gostei do paralelismo com Alvito. Nunca escondi a minha particular admiração pelo Dr João Paulo Trindade!

  11. RCataluna diz:

    A crónica de AMR é excelente. Beja precisa, urgentemente, de uma mudança política! Também concordo com JH.

    Abraço!

  12. hpalma diz:

    É lá! Parece-me que começa a nascer alguma coisa!!

  13. Trequita diz:

    É bom ver que ainda há quem acredite conseguir acabar com o compadrio flagrante e continuado. Temo que para isso seja necessário pedir ajuda a algum “Super-Homem” carismático que sobrevoe as redondezas, ao A.M.Revez até lhe ficava bem o papel!

  14. HB diz:

    Já alguém viu ou comprou algum apartamento na colina do carmo? gostaria de algumas informações, obrigado!

  15. João Espinho diz:

    @hb – informações pode obtê-las na Câmara de Beja.

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