Ago 15 2007
CÉLIA -53-
“Não estás a precisar de te olhares? Não chegaste já ao ponto onde não querias?”
Mariana tinha o saber de se substituir a Célia sempre que via nos meus olhos uma agitação de questões.
Sento-me e vejo-me cansado mas agitado. Vou à cozinha, encho um copo com gelo, regresso à sala, pego numa garrafa de nem sei o quê e emborco-a para dentro do copo.
“Queres regressar à porta do cemitério onde já estiveste?”
Como uma flecha, aquela frase atingiu-me. Fez-me despertar e recordar um fosso terrível. Não, não era aquele o meu caminho. Abandono a ideia de beber e volto a sentar-me. Olho em redor e vejo as paredes pejadas de imagens e momentos. Cada moldura tem dentro de si uma história, às vezes só de uns breves momentos. São fotografias a preto e branco que revelam corpos e emoções. Sinto-me bem a olhar para elas.
“Para quê essa necessidade de flagelar a tua memória? Não contes comigo”.
Olhei para Mariana. Vi que estava a ser sincera. Subitamente esqueci as últimas horas e vejo-me a perguntar-lhe se quer tomar alguma coisa.
“Preferia que me perguntasses que música quero ouvir”.
15 de Agosto de 2007 às 0:50
gostei. subtil, esvaziada do supérfluo. esculpida. muito bonita esta escrita, nikonman.
15 de Agosto de 2007 às 10:46
@zé – 😉