Ago 09 2007

CÉLIA – 52-

Publicado por as 23:50 em Célia

Decido-me por ir a pé. A distância não era muita e ir de carro não me transmitia segurança. E aquele era um momento decisivo nesta geometria de relações encadeadas em mal entendidos e sufocantes dúvidas. Subo a avenida como se o fizesse pela milésima vez, em passo decidido. Hesito entre o cigarro e ligar o telemóvel, e foi neste momento de hesitação que me senti quebrar.
Afinal que iria eu dizer a quem colocava os sentimentos humanos ao nível do esgoto? Que necessidade tinha eu de estar a refazer uma das pontas deste triângulo com quatro peças?
Uma dúvida maior assolou-me no momento: e se Célia tivesse fraquejado no minuto em que saiu de minha casa?
Não, essa hipótese afastei-a de imediato, por me transportar o pensamento para cenários muito escuros.
Decido-me por ligar o telemóvel na busca de caminhos, enquanto afrouxo o andamento.
Percebi que o ímpeto inicial se poderia transformar em algo irreversível.
Sento-me no banco da praceta para ler a mensagem. Olho à minha volta à procura de Célia. Vejo-a encostada mais à frente junto ao muro de escola. Fujo para ela, que me abraça:
conheço-te! sabia que a tua primeira vontade seria esta. ainda bem que desististe”.
Pego-lhe na mão, para regressarmos. Caminhamos em silêncio porque sabíamos que as palavras soariam emocionadas e ruidosas. À porta de casa vejo-a pegar na chave do carro. Convido-a, quase em súplica, para que suba. “Não, João. Agora estou a precisar de me olhar, de ver o que está dentro de mim. Porque sei que é a ti que amo!”.
Ao entrar, a casa pareceu esmagar-me. Mariana havia voltado ao ponto de partida.

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