Jul 16 2007

Estranha, esta cidade!

Publicado por as 8:40 em Crónicas

(crónica publicada no Correio Alentejo – 13/Julho/2007)

1 – Beja recebeu, durante mais de uma semana, as comemorações do Dia da Força Aérea. Várias iniciativas, abrangendo o Distrito, tiveram na capital do Baixo-Alentejo a sua maior expressão. Foi aqui que, a convite do Presidente da Câmara, a Força Aérea se mostrou, através de concertos, exposições, demonstrações aéreas, etc…
Destas actividades, destaco a Exposição – a Expofap – que teve lugar no Parque de Feiras e Exposições, onde foi possível contactar com as mais altas tecnologias assim como desfrutar das mais variadas experiências disponibilizadas pela FAP. Centenas de crianças são testemunho do que refiro. Mas, a questão impõe-se, onde estavam os pais destas crianças, onde estava o público adulto, sempre tão ávido de tomar contacto com novas experiências?
Provavelmente o engano é meu.
Possivelmente esta nossa cidade está de tal forma adormecida, tendo perdido hábitos de sair à noite para, até, tomar um café numa esplanada, que nem uma exposição deste teor a fez sair à rua, mesmo sabendo-se que a mesma tinha entradas gratuitas e um horário de abertura que convidava à visita.
Também deve ser por causa desta apatia que o concerto pela Banda de Música da FAP, numa noite de temperatura que convidava a sair, deixou a Praça da República com quase tantos assistentes quantos os músicos que brilhantemente actuavam em palco.
Estranha, esta cidade!

2 – O monumento que a FAP ofereceu à cidade representa, nas palavras do respectivo Chefe do Estado-Maior (CEMFA), uma forma de agradecimento pela forma como os bejenses têm acarinhado todos aqueles que servem a FAP e aqui têm passado alguns anos das suas carreiras. A cerimónia de inauguração do referido monumento revestiu-se de singeleza e grande dignidade. A FAP esteve ali representada pelos seus mais altos comandos e a cidade fez-se representar pelo seu Presidente da Câmara.
Numa breve alocução, o CEMFA fez as honras do ramo. Esperava-se do autarca um gesto cavalheiro, simples, de reconhecimento, que poderia ser consubstanciado em meia dúzia de palavras, que revelassem o agrado e orgulho da cidade em acolher no seu seio os homens e mulheres que prestam serviço na FAP, não esquecendo as famílias que os acompanham e aqui se têm estabelecido.
Estranhamente, o silêncio foi a forma mais elegante que o Presidente da autarquia escolheu para retribuir as palavras do CEMFA. Não se percebe esta atitude. Diria mesmo, muito estranho este comportamento.

3 – Beja gabou-se, durante muitos anos, de ser uma cidade arrumada, sem grandes edificações, sem cimento em excesso, com bairros mais ou menos aprazíveis. Apesar de se verificar uma diminuição de habitantes, a construção de habitações parece ter encontrado na nossa terra a sua salvação. Por toda a parte se vê erguerem-se novos edifícios. Se olharmos para aquilo em que se está a transformar a avenida que vai da “Rotunda da Saladeira” (rotunda do Melius, para os mais distraídos) até à zona do Parque de Feiras e Exposições, pergunta-se: mas donde (e para quê) virá tanta gente? Não me pronuncio sobre o edifício que está ali a ser construído e cujos futuros residentes não terão de decorar o nome da avenida, pois se questionados, dirão que vivem na rotunda, dado o edifício está a ser construído mesmo em cima da mesma. Estranho, não é?
Mas, continuando, o crescimento em número de pessoas não tem acompanhado o aumento do volume de betão, pelo que é de prever (será?) o incremento da oferta de casas em 2ª mão. A cidade não se desenvolveu e não criou novos postos de trabalho. Porém, assisto diariamente a um tráfego automóvel a entrar-sair da cidade, logo a partir das 8 da manhã, que me faz crer que muitos dos que residem em Beja vão para outras localidades, onde têm o seu emprego, e muitos dos que aqui trabalham, não residem na cidade. Ao final da tarde, cruzo-me com os mesmos rostos, mas agora circulamos em sentido contrário. Não sei se já alguém se dedicou a analisar estes fluxos rodoviários e tão pouco tento adivinhar se as novas edificações irão albergar os que cá trabalham e aqui não residem. Mas que é estranho, lá isso é!

4 – A última sessão da Assembleia Municipal de Beja foi das mais estranhas em que tenho participado. Não falo da discussão em torno de moções ou de opções deste executivo camarário. Os debates em torno de matérias como o IP8, as greves, as “maldades” dos governos, o Hospital, as Escolas, são invariavelmente fastidiosos, pois não acrescentam nada de novo e inserir uma vírgula ou mais um parágrafo não os torna mais cativantes.
Porém, na última AM, quando um eleito do PS (Rui Sousa Santos), que já nas páginas deste jornal fez o mesmo diagnóstico, se referiu ao facto de a nossa cidade se parecer com um deserto, quando comparada com o bulício que oferece, por exemplo, a cidade de Serpa, onde as pessoas têm uma vasta oferta cultural, onde há pessoas nas ruas, esplanadas abertas, enfim, onde há cidade, quando aquele deputado municipal pôs o dedo na ferida, a reacção do presidente da edilidade foi, no mínimo, estranha. De uma forma intempestiva e irritada, ripostando com surdinas de mau gosto, Francisco Santos não soube aceitar a crítica e, teria sido de mestre, contrapor lançando o repto para que se encontrassem soluções. Não, o presidente preferiu ignorar a realidade, remeteu-se depois a um silêncio à boa maneira de birra infantil, demonstrando pouca habilidade nos confrontos políticos. Disse-o na ocasião, e repito-o agora, o presidente não deve tomar como pessoais os ataques políticos, devendo assumir a humildade democrática de aceitar as contrariedades e optar por uma postura mais consentânea com o cargo que desempenha.
Mas, como digo em título, esta é uma cidade estranha. Muito estranha, mesmo.
João Espinho
13JUL2007

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18 Resposta a “Estranha, esta cidade!”

  1. Bejense diz:

    Na realidade a sua cronica peca por defeito… (como alguem ja lhe tinha dito, no post a anunciar o artigo 😉 percebo que por imposicao de dimensao do texto nao tenha falado tb da zona do bairro dos moinhos, da zona da prisao , etc, etc. quanto à zona q refere e bem conheco, como é possivel nao falar nos predios q DESORDENADAMENTE la se implantam, sem respeitar a lei das cerceas (a ali predios em q o RC NUNCA VERA o sol nem no solesticio de verao), como é possivel ter predios nao alinhados, a cm de uma suposta circular interior…

    quanto ao resto subscrevo quasi tudo o q diz, a excepcao do PCM ter ficado calado perante o monumento 🙂 é pa o homem deve ter feito a cara q qq cristao faz quando a sogra lhe oferece umas meias brancas das raquetes no natal 😉

  2. zig diz:

    Este estado de coisas não é de agora. Lembro-me perfeitamente que “no meu tempo” quando fazia as minhas voltinhas pelo Alentejo dentro (Moura, Mértola, Almodôvar etc.) havia sempre gente na rua durante a noite, até no Inverno. Regressado a Beja, nada….

  3. charlie diz:

    O presidente da edilidade é, e sempre foi, um marco! Um exemplo incontornável para os Bejenses.
    Referência absoluta no domínio da elegância no trato e no uso da prosa escorreita e Urbana. Com mais ouvir que falar, e sempre certeiro e correcto no uso última.
    Um grande bem haja senhor presidente pela sua postura impar. Merece sem dúvida também ser imortalizado num monumento urbano em que palavras parcas mas sábias, lhe façam em rodapé a vez das flores num alegrete.

  4. Anónimo diz:

    eu já me mudei, 200 km de distancia e as vezes ainda parece pouco…

  5. mad diz:

    Charlie, grandioso poeta que tem o dom da palavra escrita como ninguem. Certeiro e verdadeiro.

  6. nikonman diz:

    @mad – vê lá se ainda vem alguma pessoa desqualificada dizer que o charlie sou eu! Não seria a primeira vez, num é?

  7. mad diz:

    Nikonman, desqua quê?
    ãe!
    Sabes o que é mau? é o facto de terem blogs há imenso tempo, não terem comentadores e dizerem que não ligam nem respondem mas depois fazem posts com dedicatória.
    Usei o plural mas o blog é apenas um e a blogger é apenas uma. A zebra pois claro.

  8. nikonman diz:

    Ò mad, então tu não sabes o que é uma desqualificada?
    Pois, é isso. E tu ficas toda “inchada” quando te dedicam as pérolas que têm em casa.

  9. mad diz:

    Nikonman, se lhe passasse pela cabeça o quanto as suas massagens à minha alma me qualificam…

  10. nikonman diz:

    Ela não sabe mas eu sei. Os teus olhinhos até brilham quando te escrevem aquelas prosas e coiso e tal que não são para ti, ah pois não. A tua frase “queres que eu saia da frente para tu passares” foi na mouche!

  11. mad diz:

    Ui Nikonman, ela agora vai dizer que na frente quem está é ela que é chefe de não sei quê e vai ser directora de não sei quê. Vai ser um fartote.
    E como diria a zebra: ah e tal vou viver a minha vida que n tenho para isto que sou bem mais importantes que as baratas ou carochas ou joaninhas ou lá o que é.
    Já me diverti um bocadinho 😉

  12. nikonman diz:

    Bora mas é levar os moços e beber um café.
    Até já.

  13. RCataluna diz:

    Em relação à crónica tenho duas coisas a dizer:

    Realçar o crescente número de pessoas que prefere residir fora de Beja. As casas são caríssimas e localidades como Cuba ou Serpa oferecem uma boa qualidade de vida. Beja está a perder gente, mas o que é que isso interessa…

    Quanto à oferta cultural e a fazer com que as pessoas saiam de casa, julgo que isso se consegue com a criação de hábitos. Nessa medida, o encerramento do Pax-Julia no verão ou o cancelamento de iniciativas como a Beja Alternativa são péssimos sinais.

    Quando chegar a altura de eleições, as culpas do fraco desenvolvimento da cidade serão dos “suspeitos do costume”. Menos da câmara municipal. Claro.

  14. Anónimo diz:

    Infelizmente verifica-se e muito, em Beja não existe de facto cidade. Em qualquer subúrbio de Lisboa existe mais vida cultural e social que propriamente Beja que deveria ser de facto o centro do Baixo Alentejo e uma referência para o mesmo, mas não o é.

    Beja nem é uma cidade má, o pior é uma certa “maneira de ser bejense” que não vejo em mais lado nenhum, seja em que sítio for de Portugal.

    Aliada à escassa oferta cultural, observa-se uma falta de sentido como comunidade e como cidade das pessoas. Falo por mim, noto em grande parte dos bejenses serem pessoas demasiado fechadas, pouco sociáveis, às vezes demasiado arrogantes e antipáticas e em Beja é difícil conhecer gente e fazer amigos por mais sociável e boa pessoa que se seja, para além de um grupo restrito de gente que temos como amigos, família ou colegas, é difícil socializar com os demais. Já sei que vão dizer que não conheço a realidade, que estou a exagerar mas eu verifico diariamente e desde sempre esses factos.

    Nos bairros quase ninguém se conhece, não se encontra ninguém na rua, a noite bejense é péssima(consumos mínimos ridículos e caros em plenos “cafés” tal e qual), o comércio é cada vez pior e sobretudo os bejenses em si.

    Vai-se a qualquer vila e cidade do Baixo Alentejo e o cenário é bem diferente e bem mais agradável.

    Há muita coisa a fazer para mudar!

  15. Anónimo diz:

    Estranha?!! Esta Cidade?!! Não, o ilustre concidadão não sabe o que diz. Passo a elucida-lo:
    Cidade estranha é aquela onde constroem urbanizações para

  16. bejense diz:

    nikon, apague la o meu ultimo comentario, pois esta cheio de erros ortograficos sff 😉
    Obrigado

  17. nikonman diz:

    @bejense – já está!

  18. bejense diz:

    muchas gracias 🙂

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