Fev 15 2007
Blogs e fotografias
(crónica publicada no Notícias Alentejo – Fevereiro/2007)
Blog que é blog tem que ter poesia, de preferência aquela que espelha a saudade lusa, o amor português, a tragédia de paixões falecidas e enganadas. Poesia e poetas portugueses estão em peso na blogosfera lusitana e citar um homem ou mulher das letras faz parte dos hábitos de muitos bloggers. Dispenso-me de aqui referir nomes que têm visto os seus trabalhos divulgados e há até quem diga que os blogs têm feito mais pela poesia portuguesa do que os 9 anos de escolaridade básica, mais os 2 da secundária e, certamente, alguns de frequência universitária. A bem da poesia e de quem é citado!
Serão raros – diria mesmo raríssimos, os editores de blogs que tentam o plágio, o roubo descarado de letras, apropriando-se das palavras dos outros e transformando-as em suas. O que está bem – e cai bem – é dizer que se lê Pessoa, Júdice, Camões, Florbela, Ary, Sophia, etc… e não cabe na cabeça de nenhum blogger arriscar o plágio. Em cada esquina da rede há sempre alguém que já leu este ou aquele poema e seria uma vergonha para o blogger ver-se “desmascarado” publicamente. Muitos bloggers vão mais longe e sentem a necessidade de ilustrar as suas leituras, para que as palavras dos outros tenham mais força, sejam melhor entendidas, como se o blog fosse uma ferramenta didáctica. Não basta transcrever “teu corpo onde mato a sede desta paixão”; a encimar o poema deverá estar uma fotografia, erótica, sensual, apelativa, que atraia o leitor para o que vem a seguir. Estes bloggers sentem que uma imagem não vale mais do que mil palavras e que as palavras precisam de imagens que as traduzam, as descodifiquem, as tornem legíveis. E se na casa de cada um de nós há, pelo menos, um livro de poesia, ou conhecemos, no mínimo, o nome de meia dúzia de poetas, já na fotografia a coisa se torna mais difícil ou complicada. Resta, pois, ao blogger, percorrer a rede e escolher entre milhares de fotografias aquela que parece melhor ilustrar o poema que vamos publicar. Haverá até quem tenha uma pasta só com fotografias, baixadas da Internet, e onde se vai buscar o “corpo” que falta para que o poema tenha vida. Porém, o blogger esqueceu-se de onde tirou a fotografia, desconhece o nome de quem teve o trabalho de iluminar aquele “corpo” e fazer “click” na máquina fotográfica. O blogger ignora que em cada fotografia há uma assinatura, uma rubrica, um autor, isto é, há um fotógrafo que tem nome e que, muito provavelmente, faz desta Arte o seu sustento. Na blogosfera há milhares de fotografias “roubadas” aos seus autores, há trabalhos que perderam a identidade, só porque os bloggers que assim agem consideram a Fotografia uma Arte menor, apesar de não saberem viver sem ela; há bloggers que não têm pudor em acrescentar “fotografia de autor desconhecido” ou mesmo “foto encontrada na net”. Se na poesia lhes é importante citar o nome do autor, na fotografia já se acham detentores dos direitos de autor, já se julgam donos da obra. Há quem vá mais longe e chegue a assinar com o nome do blog as fotografias que roubou na Internet. Por isso, caro leitor, quando ao navegar pela blogosfera se deparar com um belo poema, que você até conhece, ilustrado por uma bela fotografia de autor desconhecido, saiba que está na presença de um blogger sem escrúpulos, sem pudor, que não merece mais do que o nosso desprezo e a denúncia pública do “roubo”. Para que a blogosfera se torne mais credível!
15 de Fevereiro de 2007 às 14:57
Muito bem!
Não custa nada …
Um abraço
16 de Fevereiro de 2007 às 0:53
Nem mais! Por vezes esqueço-me de indicar a fonte da imagem, mas nunca é por mal. Só que, ainda não entendi lá muito bem se é permitido “roubar” fotos da net, mesmo indicando a fonte. As minhas fotos normalmente vêm da RTP, seria impossível perguntar se posso meter uma imagem desse site no meu blog.
Com os poemas já é diferente. São poemas conhecidos, a maior parte deles do meu poeta favorito, mal-amado pelos autodesignados elites, Miguel Torga. Por falar nisso, há muito tempo que não publico um poema dele. Mas mesmo nesses poemas perguntei à fonte (mail) se posso publicar os mesmos, responderam que não têm nada contra, muito pelo contrário, acham bem que a poesia portuguesa seja divulgada.
16 de Fevereiro de 2007 às 15:57
Se receber uma ou outra foto naquelas colectâneas que chegam por mail, sem qualquer referência ao autor, e que você gostaria mesmo de publicar no Praça como é que faz? Há algum procedimento habitual dos bloggers nestes casos?
16 de Fevereiro de 2007 às 16:26
@luís – se não souber o nome do autor, de forma a podê-lo contactar, pura e simplesmente não a publico.
Contacto sempre os autores das fotografias, apresento-me e ao blogue e peço licença para publicar esta ou aquela fotografia. 95% das respostas têm sido positivas e sem condições.
A prática corrente de alguns bloggers é “roubar” fotografias da internet e publicá-las sem referência.
Há também por aí uns inteligentes que vão às comunidades fotográficas, “roubam” fotografias e depois linkam a comunidade. Como se fosse a comunidade a autora das obras.