Dez 16 2006

D. LEONOR

Publicado por as 18:00 em Pelourinho

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foto: joão espinho

Para terminar a festa dos pelourinhos, publica-se mais uma estória, escrita por charlie, dedicada à Raínha Dona Leonor.

A noite avizinhava-se já prestes a cair e com passos rápidos subiu a então mui estreita Rua da Torrinha, deixando para trás o largo de Sta Maria. Olhou em seu redor um pouco assustada. Nunca se havia ausentado sem as
companhias que eram devidas ao seu estatuto, mas desta vez soubera-lhe de sobremaneira bem a surtida secreta pelas ruelas da vila medieval de Beja.
Havia já umas semanas que preparara em segredo o encontro com ele. Poemas e pequenos escritos tinham-lhe chegado às mãos, e antes que se desse o desenlace matrimonial com o Fidalgo D. João, cuja união fora preparada pelas famílias, precisava de saber quem lhe rendia tantos tributos e dedicação.
O casamento estava prestes acontecer e já tudo andava em preparos. No entanto, ela não fora ouvida nem achada, na sua condição de mulher, como era uso nessas épocas, pesasse embora o seu estatuto, e por isso mesmo precisava de saber com toda a celeridade quem lhe enchia o coração de poesia e sonhos.
Agora regressava apressadamente e o seu coração batia descompassado, o rosto vermelho e nos lábios a cor da emoção vivida e que lhe tomava toda a alma.
Sim ela sabia agora o que era sentir o fogo a correr nas veias, a saliva a custar a engolir, e a dor intensa de ter a ansiedade como companheira. Agora, uma profunda angústia tomava-a no seu eu mais profundo. Tal como ele
dissera, este seria o seu primeiro e único encontro. Soubera pela boca dele como ele a amava, e ela sentiu de imediato o mesmo por ele. Uma paixão irrompeu sem barreiras naquele coração ainda adolescente. Sentiu repentinamente uma enorme vontade de se lançar pelo mundo, livre dos status e riquezas que tanto tinham limitado a sua infância e que agora amortalhavam o despertar do corpo.
Sentiu um impulso tremendo que a impelia a voltar a Rua da Torrinha abaixo e correr atrás dele.
Atirar-se a ele sem outros bens que não fosse o seu corpo em desejo, sentir o mar dentro de si agigantar-se e viver o amor que todo o seu ser pedia..
Entrou finalmente em casa pelo portão que deixara meio encostado chegando finalmente aos seus aposentos.
Desembrulhou o objecto que ele lhe tinha ofertado. Um rubor tomou-lhe as faces enquanto se compenetrava da força desse símbolo que lhe tinha posto nas mãos.
– Não te esqueças de visitar na primeira ocasião as caldas de Óbidos, meu amor. E se alguém te perguntar a razão de teres guardado tão inusitado objecto, diz que foi uma mera brincadeira, dum familiar, …um primo – Dissera ele, beijando-a enquanto se perdiam no aperto dum abraço e ele se despedia ao seu ouvido dizendo.. – amo-te tanto Leonor.

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2 Resposta a “D. LEONOR”

  1. Trequita diz:

    hehehe! Tá boa 🙂

    Já agora aproveito para desejar um Bom Natal e um Feliz Ano Novo 🙂

  2. ligia evanovich diz:

    ESPERA QUE PINGAR O MEU COLíRIO ALUCINÓGENO.JÁ,JÁ LEIO.

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