Set 06 2006
DA FOTOGRAFIA…
(crónica assinada por mim na edição de Setembro do jornal “Notícias Alentejo“)
O Verão está a chegar ao fim. Pelo menos no calendário, que é coisa em que já poucos acreditam, pois as chuvas de Agosto podem ter estragado as férias a alguns, muitos, que somaram as pingas de água aos azedumes de ter que conviver, mesmo que só por 1 ou 2 semanas, com gentes de pronúncia esquisita e de hábitos estranhos.
Chegados a casa, descarregadas as centenas de fotografias da praia, dos almoços, jantares, sardinhadas, passeios à beira-mar e em apinhadas avenidas, dá-se uma vista de olhos, relembram-se alguns momentos e, depois, ali ficarão elas, as fotografias, a ocupar megabites de um espaço que nunca mais voltará a ser visitado. A era digital ditou a lei e difícil será contrariar esta súbita apetência por “disparar” a torto e a direito, mais naquele do que neste, a avaliar pelos horizontes marítimos a verter água para fora dos monitores dos nossos computadores. Mais estranhas são as fotografias registadas em telemóvel. Quer registar-se um momento único, aponta-se o celular e pimba! Já está!
Depois vamos ver esses momentos únicos e aparecem-nos os concertos de Verão em total desfoque, que atribuímos à agitação dos artistas em palco e das centenas de cabeças que se interpõem entre o obturador e o estrado. As cores deixam de ser vivas, os fumos coloridos transformam-se em noites de nevoeiro e, o mais estranho de tudo, algumas dessas imagens sofreram uma metamorfose e são agora pixéis a preto e branco. E, nestes tempos que correm, é desaconselhável descolorir as garridas paletes cromáticas das bandas que animam os serões estivais.
Já pensou o que seria uma fotografia cinzenta dessa Cinderela dos tempos modernos? A Floribella não vingaria nos tempos das tv’s a preto e branco. Ela é cor e vida e outras tantas coisas cheias de vidas coloridas. Tal como os Morangos e os rapazes que animam com açúcar a banda sonora de adolescentes e respectivos progenitores em tempo de férias. Sem cor não haveria sucesso nem fotografias captadas em telemóveis de gerações adiantadas.
Mas terminada a saison e de regresso ao lar, é tempo de olhar para outras imagens.
Setembro é sinónimo de vindima.
E temos que aproveitar agora, antes que Bruxelas reforme as castas e mande arrancar as vinhas. Serão fotografias documentais, para explicarmos nas próximas décadas, aos nossos descendentes, como eram os campos carregados de uvas e cachos maduros, de cestos de vime e de famílias a labutar nas bagas e nos lagares, a produzir o néctar que irá às mesas, de salões e tabernas, a acompanhar o banquete ou o petisco, a afogar tristezas ou a alegrar corações. E com essas fotografias poderemos recordar que “até ao lavar dos cestos é vindima”.
Aproveite-se agora, porque amanhã não se sabe.
João Espinho
1/9/2006