Jul 31 2006

“Notas bejenses”

Publicado por as 8:30 em Crónicas

(crónica publicada no “Correio Alentejo”, de 28/7/2006)

“O PCP critica os governos de tomarem decisões puramente economicistas, acusa outros de perseguições políticas, mas é na sua própria casa que pratica os males que só vê na casa dos outros. Bem prega Frei Tomás…”

1 – Quem assistiu à última Assembleia Municipal, no dia 26 de Junho, ou ouviu depois as peças radiofónicas sobre a mesma, terá percebido que o executivo da Câmara Municipal de Beja (CMB), encabeçado por Francisco Santos, sobrevive de oxigénio administrado por uma parte da oposição, neste caso do Partido Socialista, e que vai servindo lindamente para a CDU ir ultrapassando as dificuldades criadas por uma incompetente equipa comunista.
Ouvir um vereador socialista desenrolar um rol de razões negativas no processo de criação da Empresa Intermunicipal Aguas do Alentejo Sul e depois saber que o seu voto permitiu a aprovação, em sede de executivo, dos estatutos da referida Empresa, é, no mínimo, estranho e permite levantar dúvidas sobre o verdadeiro papel da oposição na CMB.

2 – A Assembleia Municipal continua a ser uma verdadeira caixa de surpresas. Questionado pelo grupo municipal do PSD sobre o atraso na abertura da Piscina Municipal de Beja, o Presidente da Câmara apontou os filtros de água como razão principal e proferiu aquela que poderá ser a frase do ano: “Assumo a responsabilidade política e pessoal por este atraso”. Digo que é a frase do ano pois a mesma vai servir para que todos os políticos, a partir de agora, a possam usar, e abusar, sem que nada aconteça, sem que as verdadeiras responsabilidades sejam apuradas. O problema da Piscina de Beja é antigo, esteve na boca de todos os candidatos nas eleições de Outubro de 2005 e apontar uma súbita deficiência nos filtros de água é desculpa de quem sabe que nunca terá que assumir responsabilidades pela falta de planeamento e boa execução das suas obrigações.

3 – Apesar de nessa mesma Assembleia Municipal o PCP se ter insurgido contra “atitudes persecutórias” eventualmente levadas a cabo pelos dirigentes do Centro Hospitalar do Baixo Alentejo, é o mesmo PCP que as põe em prática, afastando da CMB avençados e colaboradores que não seguem a doutrina da Rua da Ancha. Questionado por um munícipe das razões que levaram ao afastamento do Director Executivo da revista Arquivo de Beja, o Presidente da CMB apontou razões pouco transparentes – de forma deselegante sugeriu incompetência – e de imediato desmentidas pelo colaborador agora afastado. O seu lugar será certamente ocupado por quem saiba dizer amén.
Não terá também sido por incompetência que a até agora responsável pelo Gabinete de Informação e Relações Públicas da CMB foi despedida, apontando-se razões de contenção financeira para a rescisão do seu contrato, sem que à mesma tenha sido dada uma palavra ou apontadas as verdadeiras razões. No seu lugar emergem já incompetentes escribas, uns aparecidos de outras paragens, mas todos detentores do cartão que lhes dá acesso às benesses de avenças que, supõe-se, não vão contra a contenção orçamental da Câmara de Beja. O PCP critica os governos de tomarem decisões puramente economicistas, acusa outros de perseguições políticas, mas é na sua própria casa que pratica os males que só vê na casa dos outros. Bem prega Frei Tomás…

4 – Alguém cheio de imaginação baptizou de BAAL 21 esse novel e promissor Movimento “Beja e a Coesão Territorial das Cidades Alentejanas”, esquecendo-se que se deve evitar dar o nome de carnificinas figuras míticas seja ao que for. Espera-se que, tal como na lenda Fenícia, cresça um oásis no sítio onde BAAL for enterrado.
Mas, lendas à parte, tem sido interessante verificar o caminho que este BAAL 21 vai tomando. Tendo como intento principal fixar em Beja as instituições que, naturalmente, vão abandonando a cidade e a região, este BAAL 21 esquece-se do essencial: a região de Beja assiste a uma acelerada desertificação humana e para estancar a saída de pessoas têm que se criar condições para aqui as fixar, para atrair novas gentes, que acompanharão novos investimentos, tem que se valorizar ainda mais o já por si atractivo ensino politécnico e, por último mas não em último, abandonar essa ideia, errada, de que os tais projectos estruturantes, por si só, trarão a riqueza e o desenvolvimento da região. Há muito, mesmo muito a fazer. Gostaria de acreditar no sucesso deste BAAL 21, mas o seu arranque está de tal forma inquinado, que não lhe vislumbro um final feliz.

João Espinho – 28/7/2006

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13 Resposta a ““Notas bejenses””

  1. coerente diz:

    @Nikonman,

    Poderia satisfazer a minha curiosidade. A quantas Assembleias Municipais assistiu a Profª Maria da Grça Carvalho, n.º 1 da lista do PSD à referida Assembleia Municipal?

  2. nikonman diz:

    @coerente – julgo que a 2 ou 3.

  3. coerente diz:

    Nikonman,

    Obrigado pela informação. É que conheço actuais Secretários de Estado que apesar de derrotados e de terem sido anteriores presidentes das suas AM não falham a uma reunião. Só que esses não caíram numa lista de paraquedas!

  4. nikonman diz:

    @coerente – podia aqui partir em defesa da Profª Maria da Graça mas julgo que ela poderá fazê-lo sem necessidade de advogados. Relembro-lhe, porém, que quando aceitou encabeçar a lista à AM fê-lo com a firme convicção de poder assistir a todas as sessões, tendo até um “acordo de cavalheiros” com o Presidente da AM, de as sessões poderem ser marcadas em determinados dias, dado que entretanto assumiu funções em Bruxelas, que lghe permitissem estar presente. Infelizmente esse acordo não tem sido cumprido por quem convoca as Assembleias. Posso também garantir-lhe que se a Drª Maria da Graça fosse a Presidente da AM não falharia nenhuma sessão, à imagem dos Secretários de Estado que refere. Não me parece que, neste caso, se possa rotular de paraquedista, pois MGC é de Beja e tem tido intervenções que prestigiam a cidade e o concelho.

  5. coerente diz:

    O Secretário de Estado a que me refiro (Eduardo Cabrita) é um simples deputado municipal. Quanto à Prof. Graça Carvalho há já bastantes anos que a vejo por Bruxelas (mesmo antes de ser ministra) conhecendo talvez melhor os problemas que afectam aquela cidade belga do que os que afectam Beja.

  6. nikonman diz:

    @coerente – portanto, para si, é uma paraquedista e a sua mais-valia deve ser jogada para o lixo. Assim está esta terra…

  7. coerente diz:

    Nas circunstâncias actuais acho que sim, não colocando em causa a capacidade técnica e científica da Srª Profª, a não ser que me prove o contrário com base nas intervenções dela na AM. Se de facto tiver trazido uma mais valia para a AM e não tiver apenas emprestado o nome para a lista, então terá razão.

  8. nikonman diz:

    @coerente – a expressão “tiver trazido uma mais valia para a AM” é ambígua. Não sei o que é uma mais valia para si. Mas não tenho dúvidas que a Profª Maria da Graça é sempre uma mais valia para a cidade e para a região. Provavelmente até mais do que outros, esse sim paraquedistas, que colocam os interesses partidários à frente dos interesses da região. Estão lá na AM e nunca os ouvi falar. Mas vejo-os sempre de braço no ar. À voz do dono. Esses é que são bons, não é?

  9. @coerente diz:

    Segundo Marx, a mais valia é o valor criado pelo factor trabalho que incorporado na matéria prima dá o valor da mercadoria. Que eu saiba você é que trouxe à colação a questão da mais valia, mas pela sua resposta fiquei a sabe que a mais valia se resume ao nome. Eu sei que este não é caso único, mas eu não concordo com esta prática (veja-se o caso de Nicolau Breyner em Serpa, medidas as distâncias, é claro, favor da Profª Maria da Graça).

  10. nikonman diz:

    Segundo o Padre Américo “não há maus rapazes”!

  11. Anónimo diz:

    “a até agora responsável pelo Gabinete de Informação e Relações Públicas da CMB”

    em 28/7/2006, já há muito que a citada deixara de ser responsável pelo referido Gabinete, tendo sido substituida por um técnico de artes gráficas, também funcionário do mesmo.

  12. mad diz:

    Anónimo ( e ainda colega), que grande calinada. o contrato diz que as minhas funções são muito especifícas e sou, no papel, que é o que conta para efeitos jurídicos, a responsável pelo gabinete.
    Ainda não lhe disseram que não devia dizer isso muito alto?

  13. nikonman diz:

    @anónimo/a – claro que esse “desempenho de funções” está escrito em qualquer lado, certo? E que esse tal gráfico (que até militante do PCP) foi entretanto ultrapassado nessas mesmas funções por outro camarada mais competente, certo? Está tudo escrito em documentos com o timbre da CMB, não está?

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