Jul 07 2006
Coisas da bola!
(crónica publicada no “Correio Alentejo”, de 7/7/2006)
No momento em que estou a escrever esta crónica, a Selecção Portuguesa ainda não defrontou a sua congénere francesa, pelo que não sei se as ruas estão mais engalanadas para a festa da final, ou se, pelo contrário, as bandeiras estarão já a meia haste, em sinal de um outro final, o do sonho de Portugal ser campeão do Mundo de Futebol.
Antes de me entranhar nesta coisa da bola e prosseguir a escrita, quero fazer uma declaração, só necessária para o público que me desconhece, e que tentarei traduzir em brevíssimas linhas: sou completamente inapto para jogos, sejam de azar ou fortuna, não sei jogar à bola, não percebo absolutamente nada de tácticas levadas a cabo nos terrenos relvados e sou alheio ao mundo do futebol, seja ele jogado, escrito, falado ou televisionado.
O futebol, melhor dizendo, a bola, é um jogo que deixei de viver com intensidade, à medida que a adolescência se ia perdendo, e poderei contar pelos dedos das mãos os jogos a que assisti, quase sempre deslumbrado pelos holofotes das noites europeias e pela beleza do verde da relva e do equipamento da minha equipa preferida. Não leio os jornais da especialidade, mas farto-me de rir quando vejo alguém esconder o Record ou a Bola no meio de outras publicações que, supostamente, definirão um perfil mais culto a quem as traz debaixo do braço.
Este meu desafecto às coisas da bola não me impede, porém, como bom português, de viver com alguma paixão o campeonato que está quase a terminar e que tem como palco a Alemanha. Vou seguindo os jogos da nossa selecção, através da SIC e em casa, pois na minha cidade, ao invés de outras, não há essa coisa de ecrãs gigantes, à volta dos quais e de muitas cervejas se juntam multidões, ouço os intermináveis comentários – ou documentários – que diariamente me oferecem os diversos canais de TV e as páginas online dos jornais, já sei o nome de alguns dos jogadores da nossa selecção, porque até os há repetentes de outros campeonatos e, para me ajudar nesta difícil tarefa de não parecer completamente ignorante, até comprei por 1,50€ uma caderneta da GALP onde se colocam os cromos, desculpem, os jogadores da selecção das quinas. Não precisam chamar-me à atenção para esta publicidade descarada à empresa que vende mais cara a benzina, mas estamos a falar de bola, e sem publicidade o esférico não rola.
Adiante.
Os cromos já não são como antigamente, quando vinham a embrulhar rebuçados e fabricávamos uma cola caseira, à base de água e farinha e nos entretínhamos a trocar os repetidos. Não, agora são uns minúsculos rectângulos que têm íman e se agarram a um campo de bola feito caderneta. São os sinais deste tempo. E ainda bem que assim é. Porque ainda não percebi através de que aquisições nos oferecem as saquetas com os cromos. A mim tem-me bastado uma lamúria e lá venho eu carregado com os mágicos jogadores da Lusitânia. Provavelmente são excedentes de quem não liga à bola e muito menos a cromos.
Mas esta colecção tem a vantagem de poder ser eu a fazer a minha própria equipa. De lado ponho aqueles de que não gosto ou que me dizem que não são lá grande coisa. Na verdade, na minha equipa vou fazendo algumas substituições, mas o núcleo duro, aquele que responde sempre, esse, é intocável e mantém-se em excelente forma, capaz de derrotar holandeses, ingleses e outros adversários de igual valor.
Achei curioso como até nestas coisas dos cromos se aprendem coisas importantes. Então não é que um rapaz, de nome Quaresma, faz parte dos 23 cromos da gasolineira? Indaguei e lá me disseram, com ar de bonomia, que esse cromo era para ter ido à Alemanha mas havia perdido o avião. Calculo que, a título de recompensa, tenha a gasolina de borla, até que alguém se volte a lembrar dele.
Bem, com esta coisa dos cromos e da caderneta, perdi o fio à meada e à crónica, onde devia estar a falar da bola e da minha visão sobre o espectáculo, onde deveria estar a dizer que somos os melhores (ou quase) e na qual demonstraria, sem necessitar de equações, o quão inculto sou em matéria de bola.
Não serei o único. Certamente pertenço a uma grande minoria onde a bola não entra, mas ainda sou daqueles que sofre e chama nomes à televisão sempre que a bola não entra onde devia, e salta e rejubila com as mãos de um Ricardo que, esse sim, sei que é do Sporting, o meu clube desde sempre.
Termino com uma nota: caso a selecção portuguesa seja uma das presentes no estádio olímpico de Berlim, no próximo Domingo, ficaremos com a certeza que ela é certamente a melhor do Mundo (ou quase).
Oxalá Portugal lhe siga os passos.
João Espinho
7 de Julho de 2006 às 13:28
Partilho da mesma opinião.
Só não fiz a colecção de cromos.
Também prefiro chamar-lhe “jogo da bola” em vez de futebol.
7 de Julho de 2006 às 15:02
@Nikonman
Já que afirmas que pouco entendes de futebol e que o que te motiva é a questão nacional e, eventualmente, o aspecto estético do evento, eu pergunto: consegues ter o mesmo
7 de Julho de 2006 às 15:12
@pontapé – isto é como as ondas da praia: as grandes são temidas e belas. Se te vês no meio delas és levado pela força da corrente. As ondas pequenas são aquelas que nos dão prazer saltar e cortar, mas não têm a beleza das outras.
Sem metáforas: onde haja a cor de Portugal há uma vontade imensa de vibrar. Principalmente quando essa cor se opõe a outras, mais poderosas, e sem que se veja o Conselho de Segurança da ONU a tomar uma posição.
Será que consegui esclarecer alguma coisa?
7 de Julho de 2006 às 15:53
E na 4ª feira levámos com uma onda das grandes, não foi? Tipo tsunami
7 de Julho de 2006 às 17:02
@pontapé – na 4ª feira continuámos na onda, só que já não foi na crista. Alguns embrulharam-se e vieram dar à costa mais depressa. Eu ainda estou na onda, porque amanhã, Sábado, é o jogo que mais desejava para a final. No Domingo, para retemperar disto tudo, vou mesmo dar uns mergulhos.
12 de Abril de 2007 às 17:24
eu goste de ter no canadar porque eu tenhotis la