Jun 11 2006
O SUICíDIO
As 30 medidas apontadas por Jerónimo de Sousa para acabar com o desemprego em Portugal só podem ter um fim: o suicídio de Portugal.
Na mais pura tradição soviética de “estado e mais estado para um melhor estado”, o líder do PCP se mandasse neste País reduziria os “horários de trabalho para 35 horas e aumentava os apoios públicos à inserção na vida activa de jovens qualificados desempregados em pequenas e médias empresas.” Para que o quadro do suicídio fosse mais dramático, Jerónimo propõe “um Estado que antecipa as situações empresariais e sectoriais de crise, que intervém na resposta atempada a esses problemas, que define orientações estratégicas da economia, planifica o seu desenvolvimento, vela e promove pela correcção das desigualdades de rendimento e correcção das assimetrias regionais”.
O “desemprego não é uma inevitabilidade”, mas é inevitável esta tendência comunista de viver num tempo muito remoto. De viver no tempo…… do outro senhor.
imagem in marxists.org
Ler mais: aqui, no Diário Digital e no kontratempos.
11 de Junho de 2006 às 18:39
Dá-me licença?
20 valores para este post!
11 de Junho de 2006 às 18:48
Se o PCP viesse a formar governo e a implementar a sua ideologia, em 6 meses todas as empresas fugiam de Portugal e os Portugueses teriam de partir em debandada por essa Europa fora em busca de sustento tal como o estão agora a fazer os ucranianos, romenos, moldavos, etc.
Era o fim desta choldra!
11 de Junho de 2006 às 20:28
Porque é que não te dedicas só à fotografia? Por acaso sabes quais são os países com maior crescimento e em que existe maior justiça social? São os países nórdicos em que, justamente, o Estado tem um peso preponderante na economia.
Aqui parece que a única política autorizada, a “panaceia” para todos os problemas, é a obsessão pelo défice, com os resultados que se tem visto ao fim de 5 anos de combate ao dito cujo: o défice continua ao mesmo nível, os impostos a aumentar, o produto estagnado, o desemprego a crescer, as maternidades e as escolas a fechar. Parabéns pelos resultados.
Em contraponto com a imagem com que ilustras o teu post, acabei de ouvir hà pouco o Presidente da Câmara de Alcochete na RTP 1 (Dr. Luís Franco)que é justamente o Presidente mais novo deste país. Portanto não te preocupes pois como vês existe muita gente disponível para prosseguir o ideal de um mundo mais justo. E para rematar, fica a saber que existem países da União Europeia em que comunistas se encontram no poder, sem qualquer drama, como deve ser numa democracia completa.
11 de Junho de 2006 às 22:28
@anónimo das 8 e tal – vem-me então dizer que o PCP, caso estivesse no poder em Portugal, iria optar por um modelo social-democrata nórdico. Não baralhe nem confunda as coisas. No caso do desemprego, recordo-lhe, que “os modelos sociais que hoje em dia têm mais sucesso, são os que protegem as pessoas, e não os empregos existentes. Os países escandinavos têm mercados de trabalho, produtos e serviços extremamente flexíveis. Mas ao mesmo tempo que liberalizaram, aplicaram sistemas de protecção dos indivíduos”. Não é isso que o PC propõe. Certo?
E termino respondendo ao seu “Porque é que não te dedicas só à fotografia?”. É que, como sabe, não tenho qualidade suficiente para o exigente mercado bejense, que tem optado por beneficiar os artistas que têm a mesma cor de quem tem o poder de decisão “cultural” cá no burgo. E isto é indesmentível, e você sabe que assim é.
11 de Junho de 2006 às 22:55
Não sei se o modelo seria o social democrata nórdico, mas teria de ser um modelo mais justo e não este em que são os trabalhadores por conta de outrém quem paga os impostos ou em que a taxa efectiva de IRC paga pelos bancos é uma ofensa para qualquer contribuinte. Por acaso no Parlamento Europeu o PCP (e o BE) e a esquerda nordica pertencem ao mesmo grupo parlamentar.
Também não sei se sabes, mas à frente da Junta Metropolitana de Lisboa ( a zona mais desenvolvida do país)encontra-se um comunista (Carlos Humberto Palácios).
O concelho para onde se tem canalizado mais investimento estrangeiro é presidido por uma comunista (Ana Teresa Vicente, descobre qual é se quiseres).
Queixas-te do “controlo” do mercado cultural de Beja. Então o que dizer de todos os portugueses que não têm o cartão “rosa” ou “laranja” e que são sistematicamente ultrapassados nas empresas pelos “boys” do partido!
Quanto à grande desgraça que seria se o horário de trabalho caísse para as 35 horas semanais. Então não é esse o horário de trabalho dos bancários previsto no respectivo ACTV? Porque é que outros trabalhadores não terão o mesmo direito!
Sabes porque é que se comemora o 1º de Maio? Porque há mais de 120 anos cinco homens foram condenados à morte em Chigago por conduzirem uma luta que permitiu a jornada de trabalho de horas.
É pena que passados estes anos o neo-liberalismo, tão do teu agrado, esteja a colocar em causa estes direitos.
Aconselho-te a leitura de um livro: “O direito à preguiça”, para que fiques a saber que existem outros autores e pensadores marxistas, para além de Lenine e Staline.
post scriptum: Natruralmente a luta de Chicago conduziu a jornada de trabalho das 8 horas!
11 de Junho de 2006 às 23:04
Jerónimo de Sousa é um político honesto,concordar ou não com Ele é uma questão política,Jerónimo de Sousa não esconde os seus ideais,diz o que pensa com toda a clarividência,eu discordo mas tenho por Ele um imenso respeito.
11 de Junho de 2006 às 23:20
@anónimo das 8 e tal – os regimes comunistas não produziram o bem estar dos seus cidadãos. Não se tratou de desvios, como soe dizer-se para os seus lados. Foi a prova de que o ideal comunista quando levado à prática gera ainda mais pobreza. Não conheço países ricos e prósperos que tenham na sua gene o comunismo. Mas, e este mas é mesmo essencial, o comunismo onde venceu foi-o à custa da liberdade, gerando ditaduras iguais ou piores do que as que os seus dirigentes tanto criticam.
Quanto ao resto, não valia a pena, da forma como o faz, estar a rotular-me, e a sugerir que eu não sei a história do 1º de maio, que não sei isto e mais aquilo. Enfim.
Para rematar: dá-me então razão nesta coisa de só os detentores de cartão vermelho terem direito a um lugar ao Sol na cultura bejense. Para que saiba, e você sabe-o, o meu cartão laranja (que tem 27 anos) nunca me deu acesso a nada. Provavelmente o seu vermelho já lhe permitiu algumas coisinhas, não?
11 de Junho de 2006 às 23:20
Nos países nórdicos não existe Partido Comunista!
11 de Junho de 2006 às 23:24
Re21 concordo contigo, em todos os quadrantes políticos há homens coerentes e honesto mesmo que não concordemos com eles. É para isso que serve o debate político: para assinalarmos e debatermos as nossas divergências. Nem tudo é preto ou branco.
11 de Junho de 2006 às 23:37
@ Nikonman,
Deixe que lhe diga que o único cartão vermelho que tenho é o do Benfica! Aliás, nunca precisei de cartões partidários para nada, quanto mais para arranjar empregos. Fique descansado.
Sou mais livre assim e por isso fico triste quando vejo discutir política com base em “clichés” (que eu saiba o PC há muito tempo que baniu a ditadura do poletariado do seu programa).
Quando vejo empresas a fechar e patrões a fugirem com a maquinaria deixando casas de família sem salários eu pergunto: Porque não há um fundo de regularização salarial para atender a estas situações, se neste país há dinheiro para tudo, até para obras cujo custo muitas vezes deslizam para o dobro! É por isso, que se calhar (e faço a ponte para o outro seu post) José Saramago não deixa de ter alguma razão.
11 de Junho de 2006 às 23:50
@anónimo das 8 e tal – quanto ao Benfica, no melhor pano cai a nódoa.
Relativamente aos cartões partidários, nunca precisei do meu para arranjar emprego ou ser promovido. Aliás, o cartão laranja já me prejudicou. Mas como luto por aquilo em que acredito, continuarei laranja até que me apeteça. E isso não faz de mim um cidadão menos culto ou pior que os outros. (e isto tem a ver com aquilo que antes escreveu)
12 de Junho de 2006 às 0:13
@ Nikonman,
Ficamos esclarecidos. Quanto a cartões, basta ler o seu post das 11.20 (p.m.) para ver quem é que insinuou o quê. Olhe que eu relativamente a si nunca procedi desse modo. Posso dar-me ao luxo de dizer que tenho amigos que vão desde o CDS ao BE. Portanto…
12 de Junho de 2006 às 0:16
O comunismo deu no que deu, a Alemanha p. ex. ainda hoje não recuperou da reunificação. Os da ex-RFA ainda hoje têm que pagar o tal imposto da solidariedade, caso não saibam o que é, posso um dia explicar.
Bem, e essa antigo fóssil o líder do PCP agora vem a defender??? Onde é que ele vive??? Na China, ou no Vietnam? Até aí o sistema antiquado do comunismo já acabou. Ele arrisca-se mesmo a ser o único ainda a defender esses ideais, é um caso para o Guinessbook of Records.
12 de Junho de 2006 às 0:18
@anónimo das 8 e tal – ficamos então esclarecidos e para terminar, recordo-lhe como você começou: “Porque é que não te dedicas só à fotografia?”
12 de Junho de 2006 às 0:43
Caro anónimo é bem verdade,no PCP há mais gente como o Jerónimo de Sousa,alguns até que são meus Amigos de coração,mas se há pessoas noutros partidos que também admiro e são também Amigos do coração pela sua frontalidade e pela sua honestidade e defesa das suas convicções uma dessas pessoas é o João Espinho,e eu apesar de estar pouco próximo politicamente do João Espinho admiro o seu trabalho político em defesa dos seus ideais que tantas vezes até com os seus colegas partidários entre em debate e discordância,mas isto são factores políticos que nunca se devem sobrepor ao respeito pelos ideais dos outros e muito menos à amizade.E digo-lhe até que José Saramago nunca concordou com Vasco Gonçalves,basta conhecer o pensamento político do escritor,foi um momento de emoção quiçá de José Saramago,eram Amigos…
12 de Junho de 2006 às 0:54
Termino com estas palavras,é muito provável que com o PCP no poder Portugal fosse uma desgraça,mas o contrário também é de admitir,até porque quem tem governado o País há 30 anos é o PS o PSD e o CDS sózinhos ou coligados,e pelo que se vê Portugal está uma desgraça,graça a esses três partidos!,verdade ou mentira?.
12 de Junho de 2006 às 0:59
Nikonman,acredita uma coisa,Jerónimo de Sousa não é Estalinista é um Leninista convicto,é Homem de debate,infelizmente há poucos como ele no PCP.
12 de Junho de 2006 às 1:03
@re21 – mal ou bem, tem sido a esses partidos que os portugueses, em eleições, têm dado maiorias que lhes permite governar. E temos que aceitar os resultados, o que não significa que nos resignemos, quando estamos em desacordo com as políticas seguidas. É o que eu faço, também, relativamente aos executivos bejenses, que são do PCP desde que há democracia.
12 de Junho de 2006 às 9:29
Vai muita confusão por estes comentários… Confusões doutrinárias, terminológicas e interpretativas.
Para mim, que sou da esquerda radical, prefiro obviamente um Estado interventivo do que um Estado “ausente” e muitas vezes refém das lógicas corporativas, financeiras e especulativas de grandes grupos económicos.
Contudo, e no contexto do espaço económico em que nos inserimos e dos compromissos políticos e institucionais que vinculam os governos nacionais no quadro comunitário, há uma diferença, que tenho como fundamental, entre reivindicar um “Estado social” e um “Estado planificador”, entre um Estado declaradamente regulador e agente produtivo em diversos sectores essenciais, e um Estado definidor do desenvolvimento e que tutele a economia, asfixiando o mercado em vez de o “socializar e democratizar”.
É também essa a diferença entre a esquerda que defende um socialismo moderno que reabilita um certo providencialismo da matriz originária social-democrata, juntamente com novos paradigmas como o eco-socialismo, e a esquerda nostálgica de um socialismo burocrático e administrativo que enfabuliza o Estado, tomado como protagonista supremo da vida económica.
12 de Junho de 2006 às 17:02
@Che
Fala como um social-democrata e não como um esquerdista radical?!
12 de Junho de 2006 às 17:47
@pontapé na lógica
E há lá mais esquerdista radical do que ser social-democrata “ab initio”?
Penso que será escusado lembrar-lhe que a social-democracia nasceu do filão marxista. E eu por acaso já li o programa do PPD em 1975-76. Leia-o, e depois diga-me que sentido tem chamar “partido social-democrata” ao actual PSD. Como já escrevi algures, a denominação dos actuais partidos portugueses é ideologicamente equívoca. O PSD dever-se-ia chamar Partido Liberal, ou Partido Liberal-Conservador (para melhor distinção com o actual PS)
12 de Junho de 2006 às 17:51
Constantemente leio nos comentários que o partido A ou B é da esquerda ou da direita.
Para começar, donde é que vem esta diferenciação? Vem do parlamento alemão pós guerra, da primeira legislatura do “Bundestag”. O SPD (Sozialdemokratische Partei Deutschlands) sentou-se mais à esquerda, visto de frente, e a CDU (Christlich demokratische Union) à direita. A partir dessa altura falou-se desta diferença.
Bem, agora o PS português é acusado de fazer políticas de direita, o PSD sempre foi considerado direita. O único partido realmente da direita em Portugal é o CDS/PP, porque internacionalmente o PS e o PSD são considerados de esquerda. Vá-se lá perceber alguma coisa disso….
12 de Junho de 2006 às 18:33
@Che
Sinceramente, do que tenho lido de si (por exemplo, no CA) e apesar da sua contundência, não me parece que seja um esquerdista extremista. Aliás, aprecio a sua capacidade de moderação, que se traduz no
12 de Junho de 2006 às 20:40
@ Caro pontapé na lógica
Tenho todo o gosto em discutir matérias de História das Ideias Políticas (disciplina que já leccionei na Universidade), mas não se fie em “ensinamentos da Wikipédia”.
Também não é aqui o lugar para discutir as razões do sismo ideológico inaugurado pela II Internacional do movimento operário e pela tese da “transição pacífica para o socialismo”, que estaria na base, como sabe, da criação da Internacional Comunista em 1919. Do mesmo modo que o revisionismo doutrinário de E. Bernstein não se deve confundir com a programática do “reformismo” social-democrata de K. Kautsky, e da via “parlamentar”.
De qualquer forma, e reportando-me ao seu post, é muito forçado pôr o F. Engels (mais uma wikipediaztita…) como um dos “pais” da social-democracia. Veja-se a esse propósito o escrito de Engels “Para a crítica do projecto de programa social-democrata de 1891”, as cartas de Engels a Kautsky, sobretudo a de 23 de Fevereiro de 1891, e a obra “O papel da violência na história”.
12 de Junho de 2006 às 21:11
@ Nikonman,
(Peço perdão ao Che mas vou voltar-me para questões mais actuais, a Rosa do Luxemburgo já morreu há tanto tempo).
Quando passas a fronteira e pagas a gasolina 25 cêntimos mais barata, ou verificas que os carros são em média 40 % mais baratos, ou verificas que lá não fecham maternidades (aliás agora as nossas crianças é que têm que ir nascer a Espanha) nem escolas, não te questionas sobre a política económica seguida nos últimos anos, pelo teu partido, isolado ou em coligação, e pelos PS e o CDS? Não achas que essa política é que nos tem conduzido para o suicídio? Porque é que essa tem de ser a única receita?
Porque é que menos Estado terá de ser necessariamente melhor, quando, como já aqui foi referido por outros, são os países que têm mais Estado os que dão aos seus habitantes melhores níveis de bem-estar e de qualidade de vida. É que para mim quando falam em menos Estado já sei o que aí vem: encher a barriga a determinados grupos económicos com os lucros dos serviços a privatizar, aos quais se encontram ligados os ministros que privatizam esses serviços.
Para acabar. Podes criticar as propostas de Jerónimo de Sousa. Está no teu direito. Mas concordando ou discordando tens que considerar que são propostas sérias, vindas de alguém com formação operária (tal como por exemplo esta do José Soeiro http://www.radiopax.com/index3.php?option=com_content&task=view&id=4537&Itemid=1, por acaso queres comparar o trabalho deste deputado com o do deputado eleito pelo PS?). Agora o teu partido que tem aspirações a ser de novo governo o que é que propõe: O Dia Nacional do Cão. Isto sim é ridículo. Eu se fosse a ti ficava calado nem um ratinho durante muito tempo.
12 de Junho de 2006 às 21:22
@ Pontapé na lógica,
Desculpa a ligeireza do comentário anterior mas estava à pressa para jantar.
Retomando alguns pontos:
1. Achei mto pertinente o seu post, mas o PSD sempre tem resistido às alterações estatutárias relativas à configuração ideológica do partido.
2. Quanto ao meu extremismo… bem, respondo-lhe que certo “reformisto radical” pode ser mais extremista (nas suas consequências efectivas) do que certo “revolucionarismo utópico e irresponsável” (inútil nas suas consequências).
3. A questão do partido revolucionário. Sobre o PCP seria demorado falar, mas não encontra no BE, nem estatutaria nem programaticamente a assumpção de partido revolucionário. Aliás, desde o seu documento fundador (“Começar de novo”) que o BE se assumo como um movimento que pugna por reformas profundas e radicais, entre elas uma reforma fiscal (cujo alcance ultrapassaria algumas revoluções caseirinhas…).
Também de acordo com o ponto 3 do art. 1º dos seus estatutos: “3
12 de Junho de 2006 às 23:33
@coerente – se há coisa que não faço é ficar caladinho. Essa seria a vontade de muitos. Não a sua, estou em crer.
Quanto ás questões que coloca: maldita democracia que coloca no poder, invariavelmente, os partidos que têm levado o País à desgraça. Acabe-se com a Democracia ou mude-se de povo, e assim chegaremos à glória final, para bem das classes operárias e desfavorecidas.
Reforço o que escrevi: a luta de classes pertence ao passado e deu os frutos podres que são conhecidos. bater nesta tecla é pura perda de tempo.
13 de Junho de 2006 às 23:35
Nikonman,
Tenho reparado que, ultimamente, várias figuras ligadas ao Partido Comunista Português têm sido um alvo constante dos seus posts (Francisco Santos, Jerónimo de Sousa, José Saramago, etc). Embora não sendo militante do PCP, deixou-me de certa forma incomodado a crítica ao Secretário Geral do PCP, porque ele representa o que há de melhor num regime democrático, ou seja, a possibilidade de um ex-operário debater taco a taco com líderes políticos com muito maior formação académica. Além disso é evidente o carisma daquele homem que conseguiu estancar a tendência de declínio eleitoral do PCP (não é por acaso que ele aparece muitas vezes como o líder partidário com imagem mais favorável junto dos eleitores). Por tudo isso eu admiro Jerónimo de Sousa.
Não sei o que esteve na origem desta sua permanente acção anti-comunista. Mas, permita que lhe diga que muitas vezes ao PCP são apontadas culpas por erros cometidos por outros, nomeadamente por uma certa esquerda hoje muito chic. Para ilustrar o que lhe acabo de dizer, deixe um trecho da recente entrevista do Tenente Coronel Brissos de Carvalho (Governador Civil de Beja no Verão quente de 1975) ao Diário do Alentejo:
14 de Junho de 2006 às 0:14
@coere – vamos por partes. Não tenho dúvidas que o carisma de Jerónimo de Sousa estancou aquilo que poderia ser o fim do PCP. Deu-lhe uma nova alma. Mas pergunto-lhe: esta alma nova foi seguida de sangue novo, novas ideias, ruptura com ideologias que perpetuam ditaduras? Não, mas isso é um problema do PCP. Não podemos é aceitar como verdades absolutas as verdades do PCP. JS, relembro-lhe, vem do operariado e conhece bem aquilo que este quer ouvir, apesar de essa condição (de operário) se ter perdido logo após o 25 de Abril, quando JS entrou no hemiciclo de São Bento. É um político profissional e, perante os seus congéneres, sem mácula.
Agora falemos de Brissos de Carvalho, o coronel recentemente agraciado pela CMB (por mais quem haveria de ser?). Sabe quantas horas passei à sua frente, em que me tentava dissuadir de levar avante uma luta de estudantes, que adjectivava as greves de estudantes como “reaccionárias”, que me dizia que o MFA não iria permitir que “as forças reaccionárias” levassem a cabo uma greve? sabe quem mandou para a porta de um estabelecimento de ensino de Beja uma chaimite e “soldados proguessistas do MFA” para impedirem uma greve de estudantes? Mais: saberá quem permitiu (pela ausência de forças policiais sob a alçada do governo civil) que se boicotassem comícios do PS e do PSD? E que se apedrejassem simpatizantes do PSD à saída de um comício? Poderia contar-lhe mais coisas, mas gente muito mais habilitada poderá um dia fazer a história desses tempos na nossa cidade em que eu, ainda longe do PSD, assinava artigos no jornal “A Ideia”, que acabou por ser selado e proibida a sua divulgação. Éramos rotulados de anarquistas e, pasme-se, de trotskistas.
Tenho no PCP alguns amigos. Temos o bom senso de não deixar que as ideias firam a nossa amizade.
Bem haja!
15 de Junho de 2006 às 12:28
Nikonman,
Vamos lá então por partes (desculpe o atraso, mas eu, por regra, não gosto/nem acho justo usar a Internet para fins lúdicos no local de trabalho):
Quanto ao carisma de Jerónimo de Sousa, ainda hoje uma sondagem publicada pelo CM confirma aquilo que eu disse. Ele e Francisco Louçã são os únicos líderes partidários a receber nota positiva;
Quanto ao facto de não aparecer sangue novo no PCP apenas lhe recordo a série de novos autarcas (Alcochete, Peniche, Barreiro e Vidigueira) que lideraram projectos vencedores nas últimas eleições autárquicas;
Quanto a mudanças ideológicas, você não queria que o PCP de repente se tornasse democrata cristão (PSD é que dizendo-se social democrata pertence no PE à família do partido popular). É que para partidos do centrão já temos o PS e o PSD a ocupar 80% do eleitorado. Deixe ao menos que exista espaço para quem quer ser diferente, seja à esquerda, seja à direita.
Depois não concorda que, por exemplo, a acção do deputado José Soeiro no Parlamento demonstra sentido de responsabilidade na defesa dos interesses da região (por exemplo quando está a defender o montado ou a reunir com o NERBE/AEBAL acha que está pura e simplesmente a defender os interesses do proletariado?). Ou prefere o amorfismo do deputado Pita Ameixa ou do deputado alentejano eleito pelo círculo do Porto?
Quanto ao Coronel Brissos de Carvalho, onde é que você queria que ele foi agraciado se foi na sequência do assalto falhado ao quartel de Beja que ele foi expulso do exército e esteve preso 4 anos, se foi em Beja que ele foi Governador Civil e se ele é natural da Cabeça Gorda? Se calhar também não concorda com a medalha atribuída ao Carreira Marques? Mas tem de aceitar e estas ao menos são atribuídas a gente da terra e que fez alguma coisa pela sua/nossa terra!
Quanto aos momentos conturbados de 75 e aos boicotes aos comícios. Bem, não quer comparar isso com o saque e o incêndio das sedes do PCP no Norte. Não quer comparar as pedradas com o assassinato do Padre Max, pois não. De qualquer forma, eu como na altura era muito novo e não me lembro muito bem, gostaria de perguntar -lhe: quem atirava essas pedras? Olhe que se calhar muitos dos que atiraram as pedras hoje são militantes do seu partido. Conta-se que uma vez aparecerem uns jovens militantes do MRPP na sua sede com um mobiliário retirado da reitoria da Universidade de Lisboa e que Arnaldo de Matos os obrigou a devolver o mobiliário. Você sabe bem a carreira que alguns desses jovens depois prosseguiram e em que partidos!
PS: Tomei ontem conhecimento que quando se dirigia de Elvas para a Portalegre uma parturiente perdeu o seu bebé prematuro. Mas enfim, pouparam-se uns euros no combate ao défice. Assim vai Portugal, uns bem e outros mal.