Dez 26 2005
A DOR DE TODAS AS RUAS VAZIAS
foto: sam lawrence
(…)
sinto-me capaz de caminhar na língua aguçada deste
silêncio. e na sua simplicidade, na sua clareza, no seu abis-
mo.
sinto-me capaz de acabar com esse vácuo, e de aca-
bar comigo mesmo.
a dor de todas as ruas vazias.
mas gosto da noite e do riso de cinzas. gosto do
deserto, e do acaso da vida. gosto dos enganos, da sorte e
dos encontros inesperados.
pernoito quase sempre no lado sagrado do meu cora-
ção, ou onde o medo tem a precaridade doutro corpo.
(…)
Al Berto – Horto de Incêndio – Notas para o Diário
26 de Dezembro de 2005 às 20:17
Nas ruas vazias, núa, vaiada, pelo comboio que passa. Sinto frio por todo o corpo, que me despiu de roupa, e me descalçou de preconceitos. Livre, núa, numa dessas tantas ruas vazias, que me fazem lembrar velhos tempos. Sozinha, essas ruas foram minhas companheiras, minhas confidentes, minhas amigas, minhas amantes.
Nessas ruas vazias, beijaram-me, despiram-me e assim beberam a vida que tinha, e a que não tinha. Livre, descalça, núa nessas ruas vazias. Dor? Qual dor? Vivi tudo quanto quis, pelo tempo que quis. A dor, enfim…é só minha. Minha, e de mais ninguém.
26 de Dezembro de 2005 às 22:00
Gosto de Al Berto e até já li este livro, no entanto as suas palavras por vezes são cruéis.