Nov 09 2005
SARAMAGO
José Saramago tem, para com a História de Portugal, uma relação complicada, que lhe tem provocado tiques de arrogância, mais naturais noutros tipos de emigração.
Será, não duvido, o escritor contemporâneo português mais conhecido em todo o Mundo. Também não duvido que esta sua notariedade se deve aos seus livros e ao cobiçado e bem publicitado prémio.
Mas Saramago lida mal com esta sua notariedade. Diria melhor: Saramago sente-se um ser superior, abrigado de críticas e opiniões contrárias à sua. Olha para os outros com uma arrogância pouco característica da alma lusitana e, uma linha escrita em português que não lhe seja de feição é, obviamente, algo que lhe provoca náuseas. A mesma linha, no El Pais ou no Die Welt, será uma crítica literária.
Comecei a ler Saramago muito antes de os seus livros começarem a encher as prateleiras e as mesinhas de cabeceira dos lares portugueses.
Porém, no dia da Festa, no dia do anúncio do prémio, algo me começou a incomodar. Vi taças de bom champagne a tilintarem de euforia, bebidas por gente que odiava “a maneira de escrever de Saramago”. Percebi que a passadeira vermelha da notoriedade tinha que ser aproveitada por tão rara fora das fronteiras lusas.
Este meu incómodo agravou-se quando fui assistir a uma sua conferência, que encheu pelas costuras um anfiteatro da Universidade de Bona. Aí Saramago já não tinha a película de escritor levantado do chão. As respostas já eram mecânicas, quase previsíveis, provavelmente já preparadas. Não quis, ou antes, evitou falar de si. Às perguntas sobre a Revolução, respondeu sempre com as armas que em Abril nunca dispararam. Sobre si e o seu papel na conturbada sociedade invadida de cravos, clamou pelas vanguardas operárias, que um dia esmagarão as burguesias opressoras.
E os seus livros venderam mais ainda, e vendem-se cada vez mais, e esgotam dezenas de renovadas edições.
Mas os seus livros estão ali quietos, parados num tempo, não me acompanham, nem tão pouco comigo dialogam, mesmo quando abro a biblioteca para ali deitar mais uma obra que, essa sim, desejo voltar a tocar.
Saramago saíu do País, odiando quem o mal tratou.
Saramago continua ali na estante. Até que um dia os seus livros também decidam abandonar quem os esqueceu.
9 de Novembro de 2005 às 23:17
pode-se saber ao menos de quem é o texto?
10 de Novembro de 2005 às 0:03
Saramago é um premio Nobel. E a menos que se queira especular sobre eventuais desvios nos critérios de atribuição da comissão, deveremos observar a excelência do prestígio do título. Não é um qualquer que conquista as atenções a ponto de merecer a distinção. Quanto ao feitio do sr Saramago muito há que dizer.
Sim!
Gosto muito mais de ouvir o Lobo Antunes. As entrevistas saem dos nuerónios e em Saramago tudo sabe a trababalho de estudio.
Prefabricado.
As respostas, depois de se ouvir com admiração a primeira vez tomam o gosto a dejá vue nas vezes seguintes.
As leituras sobre os fenómenos mundiais são sempre vistos e dissecados sobre o mesmo prisma.
Não digo que a argumentação seja falha, mas é sempre a mesma, não lhe descortino um fio de pensamento contínuo e evolutivo. Uma ideia brilhante e que me surpreenda, como encontro muitas vezes nos livros.
Não estando de forma nenhuma em desacordo com ele em algumas questoes de conjuntura mundial, dá-me a impressão de estar a ve-lo a vagear numa jangada de pedra perdido num mar de acontecimentos onde o farol para se re encontrar são os clichés de palavras repetidas até ao nivel do cansaço.
Gostaria de me sentir cativado pela maneira nova como se podem abordar as grandes questões do mundo.
Afinal ele é um Nobel, e ele deve-nos, (os que o leem) isso
10 de Novembro de 2005 às 0:14
Por agora cito “Saramago continua ali na estante. Até que um dia os seus livros também decidam abandonar quem os esqueceu”,sim,claro,Saramago não acredita na imortalidade,as pessoas morrem,Saramago afirma que os livros não são imortais,morrem,diria que quase te reconheces em Saramago,apesar de no post teres tentado afirmar o contrário.
10 de Novembro de 2005 às 7:38
Já antes de ser Prémio Nobel, Saramago dava as respostas que dá, escrevia como escreve, relacionava-se com a História de Portugal e os portugueses como sempre. Talvez por isso tenha ganho o Nobel. Porque parece que só no estrangeiro é que ele é reconhecido. Onde as pessoas nao se preocupam com o feitio dele, mas sim com as suas palavras escritas.
Nem toda a gente tem de ser simpática, clara, dar as respostas que se querem ouvir. E ele nao deve nada a ninguém. Apenas a ele próprio.
10 de Novembro de 2005 às 7:41
Tu não te desgraces, Nikonboy!
Fala antes do erotismo… ou da gripe das passarinhas, variante humana da gripe das aves…
10 de Novembro de 2005 às 9:24
Nikonman – Os opostos atraem-se 😉
10 de Novembro de 2005 às 9:25
Anónimo – Não se vê logo que o texto é da Mariana Alcoforado
10 de Novembro de 2005 às 9:30
@anónimo/a de novembro 9, 2005 11:17 PM – sabe, por acaso, o que é um blog?
Ok! Estava distraído/a
10 de Novembro de 2005 às 9:42
@polliejean – com todo o respeito pela sua opinião, devo porém referir-lhe o seguinte: José Saramago trata os seus leitores como se fossem incultos. Sempre que edita um livro vê-se na obrigação de explicar o que escreve. O que me incomoda é que o discurso é invariavelmente o mesmo, deixando pouca margem para interpretações. Lembra-se da polémica à volta do livro “Ensaio sobre a Lucidez”? Ora a polémica não é pelo que Saramago nele escreve, mas sim pelo manual de instruções em que se transformou o seu discurso.
Depois. Depois são as conferências de imprensa onde diz o que quer (e está no seu pleno direito), mas onde a literatura fica nas gavetas. E no dia seguinte o que é importante – os seus livros – é substituído por coisas que nada têm a ver com a obra. Isto, e sou muito sincero, incomoda-me, pois os seus seguidores são-no não pelo que escreve mas pelo que ele diz que escreve.
10 de Novembro de 2005 às 12:51
mad
não não se vê logo que é obra de mariana alcoforado nem se vê ser obra do nikon que tem dias de melhor escrita quando não se mete em intelectualices para quem não vai com o zé saramago homem ao menos podia poupar o prosador
esse que ganhou o prémio do sueco fazedor de pólvora prémio como o da paz com escolha política como se sabe deixem o velho zé espanhol moribundo nos seus oitenta e tal anos ou querem levantá-lo do chão quando o nikon leva sobreleva-se a capa protectora da mad parece a pilar da ilha de lanzarote desculpe a falta de pontuação mas saramago oblige
10 de Novembro de 2005 às 14:08
Irra,arre,urra!
Porquê o centramento centrípeto num gajo tão desinteressante? O seu humor é medíocre, a sua ironia é gasta, os seus recursos estilísticos aborrecidos e entediantes. Porque é que não olhamos para as margens verdejantes da literatura nacional, e recuperamos o Manuel Laranjeira, o Luiz Pacheco, o Camilo Pessanha, o Mário-Henrique Leiria, O Almada Negreiros, o Alface, o Alberto Pimenta, o Lobo Antunes das primeiras obras?
Escritores que inovaram, que foram e são singulares, que não cederam ao estrelato auto-destrutivo, que não fizeram fretes à política e aos dítames “comerciais”.
10 de Novembro de 2005 às 15:08
Che – aqui a Pilar está contigo.
10 de Novembro de 2005 às 22:15
Não gosto do Saramago homem, do saramago ex-director do Diario de Noticias, o comunista Saramago, nem tão pouco me importa o Saramago prémio nobel.
Nunca, mas nunca pediria um autografo ao Saramago escritor, como não o faço a qualquer outro escritor.
Também me estou nas tintas para as opiniões politicas e filosóficas do Saramago, viva ele aqui ou ali, com Pilar ou sem Pilar.
Mas….
Não perco uma obra do Saramago escritor, mesmo que às vezes não as aprecie como ele gostaria ou até as ache desinteressantes.
Ainda por cima já reli livros do Saramago, porque os considero muito bons.
O resto…é provincianismo. O resto…como aquela de que não vai a nenhum encontro com Cavaco e Silva,caso este seja o próximo Presidente da Republica…é piroseira do Saramago…não vá, mas continue a escrever, nós depois iremos todos ao seu funeral com os livros debaixo do braço, insultá-lo-emos,diremos blásfémias, mas continuaremos a lê-lo.
12 de Novembro de 2005 às 0:58
os seus livros continuam e continuarao a fascinar-me, mesmo que digam que ele me trate, a mim como parte do seu público, como inculta. nao acho que seja assim. mas sempre houve muita polémica à volta da sua pessoa/obra. há mais gente que nao gosta dele do que ao contrário. é pena. mas compreendo.