Out 18 2005
ternura
foto: alexey naumov
Desvio dos teus ombros o lençol
que é feito de ternura amarrotada,
da frescura que vem depois do Sol,
quando depois do Sol não vem mais nada…
Olho a roupa no chão: que tempestade!
há restos de ternura pelo meio,
como vultos perdidos na cidade
em que uma tempestade sobreveio…
Começas a vestir-te, lentamente,
e é ternura também que vou vestindo,
para enfrentar lá fora aquela gente
que da nossa ternura anda sorrindo…
Mas ninguém sonha a pressa com que nós
a despimos assim que estamos sós!
David Mourão Ferreira
18 de Outubro de 2005 às 12:06
Este poema do DMF é muito bonito e só mesmo uma pessoa com o teu coração para o saber escolher.
Quanto à foto é uma optima componente se bem que tu tens material de tua autoria que poderias ter aqui colocado.
A composição está perfeita.
Um beijo amor…
18 de Outubro de 2005 às 14:03
Também é um dos poemas meus preferidos.
Na agenda consta a ida a Alvito pela Feira dos Santos ?
Um abraço
18 de Outubro de 2005 às 14:24
@Caro Nikonman,
Não quer pôr na sua “galeria” nenhuma pérola do (na minha opinião) maior fotógrafo do mundo: Joel Peter Witkin? Um mago da encenação, do barroco, da transgressão, da composição neo-renascentista, da radicalidade e da recriação técnica, enfim, um génio absoluto.
18 de Outubro de 2005 às 14:32
Para os interessados, podem dar uma espreitadela a um sítio, quase representativo da obra, em:
http://www.correnticalde.com/joelpeterwitkin/
(tributo a um génio)
18 de Outubro de 2005 às 14:44
@dr bácoro – com o maior respeito pela opinião alheia, e neste caso a sua, não considero Witkin o maior fotógrafo do mundo. Aliás, não consigo classificar os fotógrafos por maiores ou menores, assim como não há Fotografia maior ou menor. Para além disso, e se já reparou, raramente divulgo trabalhos em que a manipulação (digital ou não) seja a sua principal característica. Não me incluo em nenhuma linha ou escola de fotografia. Sou um apreciador dos retratistas argentinos e, se pudesse, fotografava como Pedro Luis Raota, a minha maior referência no mundo da Arte Fotográfica.
18 de Outubro de 2005 às 14:47
Já agora, também aconselho:
http://www.raota.com/PLR_PORTFOLIO.htm
18 de Outubro de 2005 às 15:19
@Niconman,
Não relativizo a arte, qualquer que ela seja, dessa forma, pois a ausência de critérios estéticos, mesmo discutíveis, tem conduzido à ultra-subjectivação contemporânea, vulgo: “vale tudo”. De qualquer modo, falando de preferências, as minhas vão mesmo para o surrealismo artesanal de um May Ray, ou para o erotismo cinematográfico de um Helmut Newton.
18 de Outubro de 2005 às 15:21
@Nikonman, desculpe lá isso do nico, foi sem querer.
18 de Outubro de 2005 às 15:33
@Nikonman
Quanto ao Raota, associo-o muito ao realismo “impressivo” de Sebastião Salgado. Nessa linha aconselho o filme “O Sal da Terra”, de Herbert Biberman (1953), que aborda o tema de uma greve de mineiros no México, e onde a fotografia a preto e banco se demora nos rostos da miséria, do desalento e da revolta.
18 de Outubro de 2005 às 15:37
O melhor da foto é mesmo a cor do soalho…Soberbo…
Abraço da Zona Franca
18 de Outubro de 2005 às 15:40
eu não consigo associar Raota a Sebastião Salgado. Enquanto o primeiro retratou momentos únicos, este reproduz encenações que ele próprio cria. Diga-se que de forma exemplar, é verdade. Não sou nada, mesmo nada, adepto da forma como Sebastião Salgado prepara os cenários para depois fazer excelentes trabalhos, que vende a afortunados magnatas da Arte. E isto à custa da pobreza. Desculpe lá, dr. bácoro, mas Sebastião Salgado é assim uma espécie de Centro Comercial Colombo. E eu sou mais do tipo mercearia de bairro.
18 de Outubro de 2005 às 16:00
@Nikonman,
Eu não me apresentei sequer como particular admirador do S. Salgado, que não sou, mas já estive presente em dois colóquios e conferências do autor, tenho os seus livros e também gravados em casa dois documentários sobre ele, e devo dizer-lhe que o seu contributo artístico e teórico (como sabe ele é doutorado em economia)para a denúncia e combate ao flagelo dos “desglobalizados” (como ele refere) é imenso.
Quanto ao seu “modus faciendi” artístico e à “fabricação” parcial de alguns enquadramentos e cenários, é de justiça que se diga que os cenários “reais” não são a preto e branco estilizado, mas com as cores do sangue e das lágrimas. E ele é um artista-político, não é um político sem o sentido da arte…
18 de Outubro de 2005 às 16:14
@dr bácoro – eu não discuto a nobreza dos sentimentos de Sebastião Salgado. E se a pobreza existe deve ser revelada. Mas terá consciência que a Arte se apropriou da pobreza. E a comercializa. Talvez por isso, em determinada ocasião, S Salgado foi impedido de fotografar um grupo de sem-abrigo, tendo um dito: “Eu agora estou a oferecer-lhe imagens que você amanhã vai vender. Mas se eu lhe bater amanhã à porta, você não a vai abrir” (não sei se o diálogo terá sido exactamente assim, mas ele está registado num documentário que passou num Festival de Cinema, curiosamente em S. Paulo).
18 de Outubro de 2005 às 16:26
@Nikonman,
Percebo a sua sensibilidade, mas não quererá S.Salgado (como ele afirma) captar e expor a dignidade da pobreza, com a beleza possível, e dessa forma dar-lhe visibilidade e eco?
E não gostava de ter o sono de um magnata de uma multinacional que pendura no quarto o rosto colectivo de uma família a pedir comida com o seu ohar triste e magoado. Porque, das duas uma, ou sublima assim a sua má-consciência de explorador, ou toma um retrato da miséria como um mero objecto decorativo.
18 de Outubro de 2005 às 17:58
@dr bácoro – aos comerciantes de arte não interessam aspectos éticos e afins, mas sim o valor do que podem ganhar. Exceptuando alguns coleccionadores de Arte, porque a apreciam, muitos são aqueles que a ostentam pelo seu valor comercial. Há muitos magnatas que fazem visitas guiadas pelos salões das suas “casas” e que relatam “esta é do Newton” e “aquele é um Salgado”, mas não se lhes ouvirá dizer “estes são os pobres da favela X a quem ajudo diariamente com Y”. O que mais me custa (não sei se será o termo exacto) é a forma como o mendigo é vendido, supostamente porque se transformou em Arte, ou esta se apropriou do seu estado. Sei que não é “politicamente correcto” apontar o dedo a Sebastião Salgado, pois ele será um dos ícones que uma certa “burguesia abastada mas com tiques sociais” gosta de apresentar como defensor das classes desprotegidas. Mas eu não sou e não estou a prever vir a ser “politicamente correcto”.
18 de Outubro de 2005 às 22:37
@Nikonman
18 de Outubro de 2005 às 22:53
que saudades que tinha de ler David Mourão Ferreira…
bjs de boa semana