Set 21 2005
Um desabafo
De Hugo Lança recebi o desabafo que publico na íntegra, com a devida vénia e agradecimento.
“Quando há meses meditei sobre blogues e expus as minhas conclusões, de muitos quadrantes recebi severas críticas. Mesmo às mais injustas, algumas ofensivas do homem e omissas em relação à obra, optei por nunca responder; entendi e entendo que uma obra científica não se coaduna com uma discussão em praça pública.
Em entrevista sobre o fenómeno dos blogues fiz a profecia – que era óbvia – que a campanha eleitoral para as autárquicas iria ter a lógica consequência de um emergir de blogues com o único desiderato de ofender, achincalhar e caluniar os diversos candidatos, sobre o cobarde manto do anonimato.
Defender, como defendo, a existência de uma verdadeira e operante responsabilidade civil pelos conteúdos publicados em blogues, é impedir essas vis práticas e responsabilizar juridicamente os infractores. E não se diga que procuro silenciar vozes incómodas; desde logo, pessoalmente não sou, nem directa, nem indirectamente, incomodado; por outro lado, o direito constitucional da liberdade de expressão não consagra o direito ao disparate…
Só assim, extirpando aqueles que pretendem transformar o mundo dos blogues num covil de indecências, estes podem desempenhar um papel fundamental na nova democracia, como meio excepcional de aproximação do cidadão ao poder, de democratização do jornalismo sem barreiras, livre de quaisquer influências, mormente financeiras.”
Hugo Lança
21 de Setembro de 2005 às 9:21
“o direito constitucional da liberdade de expressão não consagra o direito ao disparate…” “se acreditas em tudo o que lês, é melhor deixares de ler” …estou a ver que anda muita gente a ler Orwell e a achar graça.
21 de Setembro de 2005 às 10:24
Pois é…
Há por aí blogues bem ofensivos, e falo apenas dos que apareceram por causa das eleições.
Blogues que confundem humor com ofensa, por vezes pessoal e explícita.
Uma questão?
E se os visados decidirem processar os autores das ofensas de baixíssimo nível?
É que os visados são TODOS os candidatos (do BE ao PSD, passando pelo PCP e pelo PS).
Lá que teria piada, disso, não tenho a menor dúvida.
21 de Setembro de 2005 às 14:48
a calunia e maledicencia sempre foram apanagio das mentes pequenas. sempre existiu e continuará a existir, alem disso o desmentido nunca terá o mesmo efeito que a mentira.portanto basta fazer o mesmo que fazemos com as anedotas sobre os alentejanos,ou seja, ignorar, e na altura certa provar o contrario.
22 de Setembro de 2005 às 11:22
epah…já ouvi no cafe coisas bem piores que nos blogs, talvez se devesse escrever um trabalho sobre a “responsabilidade civil da conversa de café”…..boa? axo que isto ai hás 20 e tal anos atrás se fazia….
22 de Setembro de 2005 às 11:22
epah…já ouvi no cafe coisas bem piores que nos blogs, talvez se devesse escrever um trabalho sobre a “responsabilidade civil da conversa de café”…..boa? axo que isto ai hás 20 e tal anos atrás se fazia….
22 de Setembro de 2005 às 23:33
Bom paralelo Gajo do café.
Ter um blog, todos podem ter. Ter um blog com comentários, já não é para todos e há sempre o risco de passar boa parte do tempo a apagar comentários indesejados. Mas a liberdade nos blogs, só se consegue se houver anonimato. Infelizmente.
E todos sabem que se fazem perseguições políticas, e isso é transversal (palavra muito em moda)a todos os partidos, para além de perseguições no trabalho, limitando e prejudicando carreiras apenas porque não se foi políticamente correcto ou simplesmente obediente. Acho que não é nada de novo nem de espantar, pois num país onde casos vergonhoso como o da Fátima Felgueiras, Casa Pia e por aí fora acontecem é normal que qualquer tentativa de “agressão” ao establishement seja logo anulada.
Aguardemos então pela obra científica sobre a “responsabilidade civil da conversa de café”
Manuel
23 de Setembro de 2005 às 11:19
Meu caro amigo Gajo do Café,
(sendo a expressão uma figura de estilo, porquanto não me é caro nem somos amigos), ficará muito surpreso quando compreender que todos os dias são julgados cidadãos pelo que dizem nos cafés.
Explico-lhe, de forma simples, recorrendo a um paradigma: imagine que V. Ex.a entra num café e alguém está a difamar o senhor, a sua esposa a sua filha ou o seu pai; há duas grandes concepções; uma, entende que o justo é salvar a honra, agredindo o caluniador, ao bom estilo do verdadeiro macho latino; outros entende que, em situações destas, deverem recorrer às autoridades competentes e deixar os Tribunais dirimir a questão. Pessoalmente, opto pela segunda, o que não significa só por si, que seja melhor que a primeira, mas tão somente são convicções sobre a forma de viver em sociedade.
Manuel,
Uma breve nota; nada me move contra blogues anónimos, que podem continuar a existir. Se o que dizem é verdade e não colide com nenhuma protecção constitucional (intimidade da vida privada, desde logo) NADA justifica que em Tribunal os ISP sejam obrigados a identificar o Autor. O problema apenas se coloca quando se escrevem em blogues inverdades, calúnias, devassa da vida íntima ou outras ilicitudes.
Sobre as perseguições, tráfico de influências e abusos de confiança na Administração Publica
23 de Setembro de 2005 às 12:15
“O direito ao disparate!”
A constituição protege o direito ao disparate, meu caro. É essa a maior marca da liberdade de expressão, que também permite, veja-se, que tantos disparates moralistas de prescrição reaccionária (o que é a “decência”?)da “nova democracia” (meu deus! eles estão aí…)circulem por aqui impunemente. E ainda bem que os protege! De outra forma nunca saberíamos se seriam disparates ou não, nem os poderíamos atribuir ao seu respectivo dono.
27 de Setembro de 2005 às 13:42
Meu caro HL,
(idem à sua figura de estilo),
Vou lhe deixar uma frase do primeiro comentário a este post: “se acreditas em tudo o que lês, é melhor deixares de ler”.
E acredite,o direito constitucional de liberdade de expressão consagra TAMBÉM o direito ao disparate, como existem outros direitos que “protegem” contra certos disparates, deixa me surpreso e talvez preocupado o sr. não o entender assim.
Espero que tenha a noção CLARA da perversidade que pode gerar o “controlo” de identidade na internet.
Mas não se preocupe que a conjuntura mundial vai fazer com que isso aconteça, depois falaremos….ou não.
Café, Gajo do
27 de Setembro de 2005 às 17:09
Meu caro,
Não pretendo alimentar nenhum tipo de controvérsia, apenas tentar humildemente contribuir para a resolução de um problema.
Se entendeu rude a refereência à figura de estilo, retiro-a com um pedido de desculpas.
Vamos por partes: é verdade que (em tese pura) existe o Direito constitucional ao disparate; mas, a corolário desse direito é o dever de ser responsabilizado pelo mesmo! e é esse, e apenas esse, o sentido das minhas palavras.
Sobre o “controlo” da Internet… escrevi no passado e estou a realizar um estudo neste momento sobre o tema; no entanto, a minha opiniao é clara e está publicada: sou frontalmente contra o monotoriamento! MAs.. não confundamos duas coisas: uma é controlo, outra, bem diversa, é a responsabilização pelos conteudos, perfeitamente compatível com o anónimato!
Sem mais, desejando que possa ter esclarecido.
Hugo LAnça