Ago 22 2005

BEJA – DETENTORES DA CULTURA

Publicado por as 11:58 em A minha cidade

Há, por toda a parte, gente que se considera detentora e depositária da cultura.
Desde as folhas de jornal cheias de críticas (literárias, cinematográgicas, etc.) inantingíveis, passando pelos programas de TV para consumo próprio e revistas da especialidade que se dão ares de importância, daquela importância intelectual que bafeja meia dúzia de iluminados, tudo isto são exemplos claros de uma certa forma de estar e fazer cultura.
Beja, a nossa cidade, também a tem.
Aqui, não escrevem, não declamam, não aparecem nos ecrãs.
Mas têm um poder especial: o de decidir sobre a cultura que o cidadão deve consumir.
E como é que decidem? Esvaziando, despejando, desaparecendo. São notados pela ausência: de ideias, de iniciativas, de imaginação.
Repare-se no Teatro Municipal de Beja.
Depois de décadas de portas encerradas, reinaugurou-se a 17 de Junho com pompa e circunstância, para passado um mês voltar a fechar as portas. Com a garantia de em Setembro regressar. Basta dar uma vista de olhos na programação e o que se vê é uma rentrée com um filme (a 13/9) que já havia estado na agenda de Junho/Julho (e retirado sem explicações) e mais um espectáculo previsto para o primeiro dia de Outubro.
Entretanto as portas estão trancadas e os espaços interiores, prometidos para oferta cultural, para nada servem.
Isto é, a cultura foi de férias e com ela os seus responsáveis.
Esqueceram-se das luzes acesas e o Teatro ali continua, como um palco iluminado, mas morto, porque não tem actores nem público.
É, sem dúvidas, um espelho da cidade.
Que também ela vai morrendo.


foto: a partir de original de Zé Espinho

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20 Resposta a “BEJA – DETENTORES DA CULTURA”

  1. Pedro Lameira diz:

    É a dinamica da nossa cidade… Sempre em movimento… 🙁
    Realmente, não há explicação para que, depois de tantas infrastruturas criadas com o tão polémico programa Polis (a grande obra da nossa Câmara e que demorou mais de 20 anos a ser feita), todos esses espaços estejam “mortos”… mais parecem peças de museu, que apenas existem para as vermos sem que tenham alguma utilidade publica.
    Quando será que isto tem fim??? Quando será que veremos uma luz ao fundo do tunel???
    O estado da minha Pax Julia deixa-me triste, ainda mais nesta altura em que fica quase deserta, sem animação, enfim… MORTA!!!
    Já é hora de animar isto. Os espaços já os há. Agora só falta “armar o BAILE”!!!
    VAMO TIRAR O PÉ DO CHÃO!!!!!!

  2. softy susana diz:

    é, de facto, lamentável. Conheço o espaço e é digno de estar aberto, para que possa oferecer aquilo para que foi construído: cultura. Infelizmente conheço mais casos desses do que seria desejável.

  3. M.G. diz:

    Parece que leu o meu artigo de opinião no Diário do Alentejo!

  4. Anónimo diz:

    Esse conceito, “detentores da cultura”, é deveras interessante e digno de discussão.
    Beja é, por assim dizer, um exemplo elucidativo deste fenómeno, diferente do que se passa em geral no resto do País, mas nem por isso menos interessante, antes pelo contrário, uma vez que assume contornos, digamos, “totalitaristas”.
    Os eventos culturais aqui promovidos dirigem-se sobretudo a um público “iluminado” e acima dos gostos dos “comuns dos mortais”.
    Polarizados, elitistas (no mau sentido) e dignos de programas culturais dos tempos do PREC ou de antigas Repúblicas hoje desenvolvidas e livres social e culturalmente.
    O que é intrigante e, no mínimo, contraditório, é que muitos desses “iluminados”, eles próprios, não compreendem os conteúdos desses eventos.
    Eu não percebo, tu não percebes, ele não percebe, nós não percebemos, mas damos todos um ar de intelectual muito compenetrado e sabedor/conhecedor, atiramos uns lugares-comuns e uns “clichés”, e no fim ficamos todos felizes e com fama de eruditos.
    Uma tristeza.
    Mas os tempos mudam, e a palavra “evolução” não é vã!

  5. nikonman diz:

    @m.g. – não li mas vou ler (no último nº?). este meu artigo estava em draft à espera de ocasião. aqui na praça vou programando alguns artigos que vêem a luz do dia quando se apaga a inspiração.
    de qualquer forma obrigado pelo alerta.

  6. nikonman diz:

    @M.G. – na edição online do DA não consegui encontrar nenhum artigo assinado MG nem tão pouco notícia sobre o que refiro no meu texto. Pode dar-me uma ajuda?

  7. lumife diz:

    Notícias destas entristecem-nos. Um local de cultura tanto tempo fechado, aberto há tão pouco tempo e já sem programação ?
    Será mais uma obra de fachada para servir intentos políticos e pessoais ?
    Pobre do meu País cada dia mais pobre.

  8. "cruzes canhoto" diz:

    Acabei de ler os comentários a este post e senti-me impulsionado a fazer um reparo, ou melhor, uma chamada de atenção para um deles.
    Depois hesitei. “Não vale a pena”, pensei para comigo.
    No entanto, atendendo ao tema deste post, “Detentores da Cultura”, lá me decidi e aqui vai.
    Que não me leve a mal o Pedro Lameira, até porque provavelmente o que escreveu não é o que quis transmitir. Mas, algo lhe escapa quando sai em defesa da cultura na cidade de Beja, referindo que, “as infra-estruturas criadas (…) com o programa Polis” são espaços mortos que “parecem peças de museu, que apenas existem para as vermos sem que tenham alguma utilidade publica”. É caso pra dizer que, não bate a bota com a perdigota.
    Vamos em busca do paradoxo.
    Que esses espaços não têm muita vida é uma grande verdade, mas olhe que nos museus há muita vida. E como espaços culturais que são, não podem deixar de se considerar de utilidade pública, que lhes é atribuida pelo facto de exporem o seu espólio, a sua riqueza cultural, aos visitantes. Concordará comigo se disser que não teriam grande utilidade pública se fossem locais fechados que não podessem ser visitados. Bom… alguma utilidade teriam mas não se lhes chmaria museus. Talvez armazéns ou depósitos.

  9. Anónimo diz:

    É visível e notório que com a proximidade das autárquicas as pessoas começam a agitar-se, principalmente aquelas que têm interesses politicos, como são os casos de alguns comentadores de serviço e o dono deste blogue.Quem os lê até parece que são pessoas que interveêm na vida cultural da cidade, que participam nas actividades ou que frequentam os espaços culturais existentes.Quem os lê tem, forçosamente, que descortinar no rol de criticas nao motivações de ordem cultural mas politicaou melhor, politiqueira.Para estes senhores que espero que tenham a idade para ter conhecido a cidade há 10 ou 15 anos, dá vontade de lhes perguntar por onde têm andado, o que têm feito que ainda não viram o papel pioneiro que esta cidade que vcs tanto criticam, tem tido aos mais variados niveis no ambiti cultural.Será escusado enumerá-los, mas se quiserem também lhes posso fazer a vontade.Sobre o Pax-Júlia, é evidente que á semelhança de outros espaços culturais existentes um pouco por todo o país, estamos na época baixa, tempo de férias.No entanto, se pensam que a câmara é uma produtora de espectáculos estão enganados.A câmara no ambito das suas competências tem criado um vasto leque de equipamentos lúdicos, de lazer, aartisticos e culturais que, curiosamente, essses senhores nunca ou raramente frequentam.Já não tenho paciencia para tanto pseudo intelectual.Olhem, por acaso nunca vi o vosso candidato, o paulinho em qualquer iniciativa cultural.Porque será???

  10. mfc diz:

    Está a passar-se comigo uma coisa grave.
    Estou a perder a força de me indignar por força da trivialidade indigente dos poderes, quer autárquico, quer central.

  11. nikonman diz:

    ao anónimo (ou anónima) das 09h54: poderia responder-lhe a todos os comentários que deixou há pouco espalhados na Praça. Não o faço, pois estou farto de gente que, sob a capa do anonimato, utiliza este espaço para dizer aquilo que, provavelmente, não seria capaz de dizer se se tivesse que identificar. Mais facilmente dialogo com pedras da calçada do que com este tipo de gente que, por querer defender sabe-se lá o quê, se acobarda no anonimato.

  12. P .Aleixo diz:

    Caro amigo João Espinho:
    Já nos conhecemos há um bom par de anos, e esse “bom par de anos” vem desde os tempos de liceu, uns tempos mesmo antes de, pelos “abris de 1974”, te ter visto entrar pela minha sala de aula com uma lista de reinvidicações dos “mais velhos”, tais como abolição de obrigatoriedade de bata (para elas), permissão de também circular pelos corredores (para eles), e uma série de coisas que hoje, de tão tão banais, seriam apelidadas de ridículas, tal como alguém que defendesse o seu fim (mas lá que eram pesadas naquele tempo, …). Um bom da liberdade é ninguém precisar de a mencionar… é sinal de que estaria de pedra e cal.
    Da mesma maneira, o bom da cultura será ela estar tão ao alcance de nós e daí também tão enraizada e natural no dia a dia, que ninguém precise de a reivindicar. E todos nós sabemos que isso ainda não se passa; e se (hipòcritamente) alguém defende que ela está aí à mão de semear e para todos é com o fito de aparecer na fotografia ao lado do “mecenas” (não sei se deva dizer “do controleiro”), ou para passear o cachimbo e o livro (que nunca abriu) pelo Luis da Rocha. Se também dou o meu aplauso a quem se decide meter mãos à obra, apenas o faço por vontade própria e não por obrigação, esta sim daqueles que ajudei a guindar-se ao “poleiro”, mediante determinadas promessas .
    Resumindo: que ninguém que se propôs e para isso foi investido pelos seus conterrâneos venha depois apregoar a obra que fez; a confiança de que foi investido apenas o obriga a cumprir a promessa; os louros foram recolhidos ” a priori” no momento da investidura. Também que esses mesmos eleitos não venham defender que a sua obra não tem erros, eles estão bem à vista e continuarão a estar durante bastante tempo, até ao dia em que haja coragem para outros escolhidos, ou os mesmos, meterem a mão na consciência. Também já está mais que gasto o argumento do boicote… está riscado o disco das forças ao serviço do capital estrangeiro.
    Porque sabes bastante bem e (como disse acima) desde há “um bom par de anos” que polìticamente não alinhamos pela mesma bitola, e por ambos sabermos que não há verdades absolutas, é que te solicito que continues a defender a verdade com a coerência que me habituei a conhecer-te desde os tempos de liceu. Deixa lá os comentários anónimos continuarem: o rastreador de endereços apenas confirmará que são quase sempre os mesmos, e quer queiram ou não, um dia desmascaram-se.

    Um abração
    P. Aleixo

  13. Anónimo diz:

    Tal como foi amplamente divulgado, o Pax Júlia funcionou, em pré-temporada, nos meses de Junho e Julho, para reabrir em Setembro para mais uma temporada.
    Só quem está de má-fé poderá escrever este tipo de coisas, tentando minimizar o papel da CMB na reabilitação daquele espaço, o mérito de o devolver à cidade, com espectáculos tão ecléticos como o Lago dos Cisnes ou o Levanta-te e Ri. Para agradar a todos os tipos de público, ao contrário do que diz.
    Mas percebe-se, claro…

    (e pode vir com retórica sobre eu ser anónimo s

  14. nikonman diz:

    @isento – explique lá essa do nome falso! Não me venha dizer que eu me escondo sob a capa de um nikname que é perfeitamente identificado com a minha pessoa. isso é areia para os olhos.
    Mas, e isso é o que me interessa, o essencial da minha notícia não é desmentido: a cultura foi de férias e o Pax Julia foi de férias. Não obstante todos os esforços que, afinal, não foram assim tantos, caso contrário a autarquia não desprezaria os cidadãos que cá permanecem, mesmo em férias, e não ignoraria aqueles que nesta ocasião visitam a sua cidade natal.
    Esta é a verdade e custa aceitá-la. Eu sei que custa!!!

  15. zig diz:

    Por falar de autarquias e seus responsáveis. Faço parte do Côro de Camara de Beja (Não é DA Camara) que é subsidiado pela autarquia, claro nem sempre a tempo e montante combinado. Sempre quando organizamos um evento, são convidados os principais responsáveis da autarquia que brilham sempre pela – ausência!!!

  16. Pedro Lameira diz:

    Caro “Cruzes Canhoto”
    Obrigado pelo reparo que fez ao meu post, principalmente, pelo cuidado que teve em reparar que, de modo algum eu quis depreciar a utilidade publica dos museus. Lendo agora com mais atenção reparei que não utilizei a melhor comparação… ou talvez a comparação da melhor maneira… Agora não interessa. Mas agrada-me saber que existem pessoas capazes de acreditar na boa vontade alheia e, de uma forma isenta, efectuarem uma critica construtiva.
    Mas, e de um modo geral, acho que ficou perceptiva a ideia essencial que tento transmitir nesse post.
    Só quero acrescentar mais uma coisa, e vai directamente, para aqueles utentes da praça que em tudo veem motivações politicas (sim vocês que são os anónimos), e que é o seguinte:
    A Câmara Municipal não é, na minha opinião, o unico responsável pelo estado “morto” da cidade… Os comerciantes tem aqui uma cota parte muito grande, neste problema de que sofrem os novos espaços polis, que é de morte à nascença!!!
    Já agora uma sugestão para um melhor funcionamento desta PRAçA:
    ACABAR COM OS POST’s ANÓNIMOS!!!! Quem não deve não teme…

  17. Bicho da Mina diz:

    Grande Palma Aleixo

    A meio do texto já estava a ter a nítida sensação de quem era o autor. Um grande abraço de Aljustrel. Mas olha que o gajo tem razão pá… a cultura foi de férias e não foi só em Beja. Pior

  18. Anónimo diz:

    Assim mesmo é que é, nikoman. Não tenhs medo deles…

  19. gervazio diz:

    prezo em saber que existem muitos interessados na cultura.. pena que quando existem eventos estejam sempre os mesmos 20 gatos pingados…

  20. MJ diz:

    tentando encontrar produtoras de espectaculos ou
    grupos de teatro na zona de beja, vim dar neste
    sitio. deixo o meu contacto e a esperança de que
    me contactem, para trocar ideias sobre teatro ou
    futuros espectaculos a realizar no alentejo.
    obviamente com material inédito. parece uma utopia, porém, com vontade a obra nasce, com
    um grupo de pessoas, a obra faz-se. um abraço.MJ.