Jul 23 2005
A PUTA
Subi as escadas. Vagarosamente.
A verdade estaria nua, despida e solitária.
À minha frente e sem que eu olhasse.
Um grito. Uma janela que se abre.
Um sorriso malicioso.
Uma boca a escorrer o veneno do outro.
Sem palavras e um abraço forçado.
Um lamento de mentira e humilhação.
Ao toque da mão destapei-me.
Acedi ao teu pedido.
E entrámos nos lençóis. Sujos e enrolados.
De noites de demência.
Quando os corpos jorram prazeres.
Manchados de luxúria a troco de notas.
Os lábios marcam a cadência, ordenada.
Depois desgovernada a boca circunscreve.
Faz crescer a ânsia e encerra-se.
Em círculos e humidade.
Mais uma nota e posso trepar.
Cobrir-te com o meu corpo desejoso.
Do teu sexo que lavas e enxugas.
À espera do freguês que indemnizará.
Com leite e dinheiro a puta de vida
Que escolheste para matar.
Com pão a fome do teu filho.
23 de Julho de 2005 às 20:07
Com muita raiva sinto eu mas, belo poema!
🙂
23 de Julho de 2005 às 20:27
Gostei do vi. Parabens, vou colocá-lo nos meus links. Vou voltar!
23 de Julho de 2005 às 22:05
Terrível!
24 de Julho de 2005 às 13:06
Chegou a casa.
Cansado.
No seu corpo trazia o cheiro daquele quarto imundo. Na sua lembrança vageavam presentes os momentos pagos de prazer. Os gestos que ela fazia com mestria a fingir gozo no que era apenas mais uma golfada de ar que o peixe aflito abocanha à superfície dum charco estagnado em recessão.
Abriu a porta de casa sem fazer por abafar os ruidos.
Com força atirou as chaves para cima da mesa da cozinha.
Abriu uma cerveja.
Sentou-se e bebeu quase tudo num trago.
Cheirou-se e fez uma cara de enjoo.
Resolveu tomar um duche rápido.
Lavou os dentes e com o corpo a evaporar os últimos aromas do banho tomado, deitou-se ao lado da mulher.
Completamente nu.
Ostensivamente.
Fazendo por acordá-la com o seu mexer na cama.
Acendeu e apagou a luz da cabeceira.
Ela rodou o corpo para ele e meio a dormir perguntou-lhe: – Onde estiveste?-
Ele respondeu:- O que queres dizer com isso? Por acaso queres sugerir que andei por aí a vadiar? Bem sabes como tenho trabalhado ultimamente…-
Agora ela estava mais desperta.
– Filho- disse baixinho enquanto lhe deitava a mão ao sexo em repouso.- Há quanto tempo não temos nada um com o outro!? O que se passa contigo?
Uma pausa ficou a marcar a pergunta.
Depois ele em jeito de resposta e rodando o corpo ficando de costas para ela respondeu:
– É do trabalho amor. Ando cansado.Quando acabar esta fase voltarei a ser como dantes….-
24 de Julho de 2005 às 15:38
O quê é que querem, é a profissão mais velha do mundo! E só paga quem lá vai…
25 de Julho de 2005 às 9:38
belo poem, a verdade nua e crua .. pintada de outra forma :-))
26 de Julho de 2005 às 10:33
Espanto pela crueza e admiração pela coragem. Parabéns, João.