Jun 09 2005
PALCO DAS ARTES -7-
O meu contributo semanal para o programa “Palco das Artes” (RADIO Pax, 101.4 FM,5ªs 18h-19h00), onde falo de blogs e blogosfera.
Nota: Esta crónica foi escrita para o programa da passada semana, não tendo sido emitida porque o programa não se realizou. Julgo não ter perdido actualidade.
De há uns tempos para cá tenho assistido a um fenómeno nos blogues que me parece indiciar uma doença qualquer.
São os chat-blogues.
O que é um chat-blogue?É simples.
É um blogue que vive não do que escreve o seu editor mas sim do que é deixado nas caixas de comentários dos respectivos blogues.
Eu diria mesmo, que são blogues que sobrevivem da quantidade de comentários que têm e não da substância desses mesmos comentários.
Quis fazer a experiência no meu blog, para tentar avaliar como o sistema funcionava e, em 24 horas, um post que não dizia absolutamente nada teve mais de 250 comentários.
No meu caso avisei que aquele era um post vazio e que, quem quisesse, escrevesse o que entendesse e da forma que lhe apetecesse.
Entretanto fui visitando os chat-blogues que conheço, para ver como é que a coisa funcionava e tentar importar para o meu post vazio a metodologia praticada nesses blogues.
E a coisa é assim.
O sistema funciona em circuito fechado. Com 4 ou 5 amigos chegamos às centenas de comentários. O Zé escreve uma coisa qualquer no seu blogue e o primeiro comentário é da Antónia. Depois vem o Luís que responde ao Zé e à Antónia. O Zé, por sua vez, responde ao Luís e à Antónia. A Francisca, que já chegou tarde, comenta o Zé, a Antónia e o Luís. A pescadinha volta a morder no rabo quando o Zé decide responder à Francisca, à Antónia e ao Luís.
Tudo o que se escreve é para consumo interno, fechado.
O grupo de amigos torna-se coeso, as afinidades são postas a descoberto e o circuito não se abre.
Um forasteiro lê aquilo tudo, tenta compreender do que é que se fala e arrisca dar uma opinião. Tramou-se. Cometeu um grave erro.
As pescadinhas caiem-lhe em cima, dizem-lhe que ele não tem razão e mandam-no porta fora. Mas não podem fechar a porta, pois caso contrário não podem ver ao espelho os seus e os umbigos uns dos outros.
O sistema funciona, é barato e dá milhões (de comentários).
Não sei qual é o futuro da blogosfera se muitos editores de blogues aderirem a esta moda.
Mas estou em crer que isto é mesmo uma moda, um vírus ou, se quiserem, uma mania.
Como todas as modas, esta dos chat-blogues também terá o seu declínio.
Deseja-se que a moda passe depressa, pois um blogue vale pelo que nele se escreve, pela qualidade de um comentário e não pelas manifestações onanistas patentes em centenas de comentários.
9 de Junho de 2005 às 23:41
Zé vive só.
Terrivelmente só.
Tão só que resolve fazer 5 blogs.
Cada blog tem uma indentidade própria.
Uma temática exclusiva.
Parecem ser feitos por gente diferente.
Ele próprio comenta os blogs das entidades. Umas vezes como ele mesmo, outras vezes usando os alter egos que criou.
Nada o assusta mais, que ler um post que fez e não ter um único comentário. Também o deixa terrivelmente possesso, as entradas eventuais que um ou outro curioso faz, quando perdido nos mares da Net, aporta naquelas ilhas desertas e invade a sua intimidade.
Um dia o Zé fez mais um blog. Desta vez um Chat Blog.
O Zé nunca mais sofreu de solidão. Aqueles cinco individuos preenchiam-lhe toda a vida.
– Blog
10 de Junho de 2005 às 0:04
A táctica é boa, sim senhores! Melhor, só mesmo a que o Senhor Charlie sugere… Uma pessoa nem precisa de terceiros, é completamente auto-suficiente 😉
10 de Junho de 2005 às 14:16
É mesmo como escreveste. Um blog tem de valer por si e não por ser um chat-blog. beijos
10 de Junho de 2005 às 14:57
pois é joão. as coisas são mesmo como descreves. e dão direito a dezenas ou centenas de comentários que nada dizem. mas divertem-se, ao que parece. e estão nos tops que é o que é preciso. faz bem ao ego. o charlie levou o exemplo ao extremo mas se ele pensa que isso não existe, tire o cavalinho da chuva. existe sim… abraço.