Abr 15 2005
CONTO DA MADRUGADA -3-
Júlio é um rapaz que anda a frequentar umas aulas de desporto de grupo, pois os pais diagnosticaram-lhe uma timidez que o leva a afastar-se do convívio dos adolescentes da sua idade.
Apesar dos seus 15 anos e do diagnóstico paternal, Júlio é um leitor assíduo da revista do Expresso, gosta de navegar na Internet, colecciona os cd’s dos U2 e olha para a SIC Radical de quando em vez.
O que o torna diferente.
Também o facto de não vestir calças XXL com o cós a roçar as nádegas e de trazer os cordões das sapatilhas Adidas sempre bem apertados, tornam o Júlio uma raridade na C+S que frequenta com bons resultados.
Até o boné com as iniciais de New York é usado com parcimónia, pois passa longas e poeirentas temporadas pendurado por detrás da porta do quarto de estudos.
A única vez que se lhe viu alguma tentativa de integração foi quando participou, embora durante pouco tempo, numa manifestação de alunos do ensino secundário que protestavam com as pilas e rabos à mostra contra, não se sabe bem, o ensino ou os professores. Foi até talvez devido aquelas exteriorizações das partes íntimas, que Júlio abandonou a demonstração.
Não se lhe conhece uma experiência, ou sequer ensaio de relacionamento com as meninas da sua Escola.
Tem sido nas aulas de desporto em grupo que o Júlio evidencia a sua excessiva timidez. É incapaz de se despir em frente aos colegas e deixa-se ficar para último quando chega a altura do duche.
Para os médicos esta situação não é alarmante, pois o diminuto desempenho social do Júlio é normal para a sua idade. Mas a entidade paternal assim não o entende.
O pai, um oficial de cavalaria, habituado a uma permanente solicitação para eventos de carácter social, gostaria de ver o seu filho tornado um cavalheiro, de sorrisos largos e sabendo beijar a mão. A mãe, por sofrer de asma, desempregou-se assim que casou. Habituou-se à solidão das longas ausências em serviço e tinha esperanças que o seu filho fosse o outro lado do diálogo.
Foi por isso com grande estranheza que a mãe lhe descobriu numa gaveta, no meio de revistas duvidosas, uma caixa de preservativos.
O diálogo foi seco e consequente:
“Mãe, a professora de desenho convidou-me para me dar umas explicações no seu apartamento. Como não acredito no amor à primeira vista, vou protegido”.
15 de Abril de 2005 às 12:11
O final está hilariante:)Beijos
15 de Abril de 2005 às 12:53
Espero que ao menos o rapaz, de tão tímido que é, tenha tido a lembrança de experimentar a colocação dos profilacticos…de luz apagada.
15 de Abril de 2005 às 13:04
Esse Júlio… hã… faz pela calada, o sonso.
Ah! “Ganda” Júlio! 🙂