Abr 04 2005

Conto da madrugada -1-

Publicado por as 0:15 em Intimidades

(Que escrevi em 2002.
No mesmo espaço de uma casa, muitas histórias.
A mãe, a filha, o ex-marido, o pai, outras mulheres e outros homens. Fui descobrir estas coisas numa disquete esquecida. Começam hoje a apanhar ar
).

Luísa acabara de se levantar. A noite havia sido de transes e esquecimentos. Bebera e fumara, a sua forma de comemorar o Dia da Mulher.
Apesar da fortíssima ressaca, Luísa ainda tinha os olhos cheios dos avultados músculos do sexo masculino que se exibiram nessa noite de streap-tease só para fêmeas.
O cheiro a álcool fermentado, à mistura com o desarrumo de peças de roupa lançadas ao acaso na escuridão da madrugada, faziam-na sentir um mal estar quase à beira do vómito.
Afasta-se do ambiente da cozinha. Nenhum sumo de laranja e nem uma dose de Guronsan a conseguirão fazer sentir-se melhor.
Recusa olhar para o espelho vertical que o ex-marido não quis levar no dia em que assinou o divórcio, mas que a filha única de 18 anos exige que ali se mantenha.
É por ela que não liga a música nem abre as cortinas. Talvez também ela tenha ido comemorar o seu dia.
Sem ter a certeza se valeria a pena, decide-se por um duche que lhe alivie aquela sensação que tem na cabeça e que se assemelha ao bater das asas de uma bando de frenéticas gaivotas que esvoaçam à beira mar em dia de vendaval.
A frescura da água e o aroma do gel de banho levantam-lhe a auto estima. Deixa-se ficar longos minutos envoltos naquele ambiente de ar condensado. Recorda por momentos as horas nocturnas de uma excitação iludida, do lugar e do palco que agora lhe pareceu um talho a vender carne fresca. Preferiu esquecer.
Saiu do banho com uma nova disposição. Ia acordar a Márcia e desafiá-la para um passeio fotográfico às cercas da praia do Guincho. Uma boa salada de marisco, na companhia da filha e do mar, restituir-lhe-iam a dignidade.
Estava decidida quando, ao abrir a porta do quarto, lhe pareceu ouvir um gemido e recordou que também ela se sentira assim há pouco tempo atrás.
Abre as janelas para deixar entrar o Sol, mas aquele cheiro era mais forte e ela conhecia-o. Tal como aqueles gemidos de prazer.
Não quis olhar. Não queria acreditar em inocências perdidas.
De saída, e a fugir, encalha naquela roupa e sapatos de homem, joga-se para o sofá da sala e pega no livro que nunca conseguira acabar:  “Não há coincidências”.

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4 Resposta a “Conto da madrugada -1-”

  1. Mitsou diz:

    Fizeste bem em ir buscar a disquete. Adorei o conto e fico à espera de mais. Beijo 🙂

  2. mad diz:

    Contas-me este conto ao ouvido?
    (Adorei)

  3. charlie diz:

    Perdoem-me! Peço por tudo, que não levem a mal mas assim de repente ao ler o comentário da Mitsou deu-me vontade de cantar a pimbalhiçe do Quim Barreiros.-……oH Lisete, mete a disquete que eu só tou bem na Inter(m)net……
    Já sei. Dei cabo de tudo. Nunca mais me falam…..
    Prometo nunca mais descer tanto….
    ..(pinóquio)….

  4. Stefanie Schmees diz:

    Hallo, i dont know what the text is about, but i have a problem with the fakt that somebody is using my picture in the internet without asken me. I think this page is in spanish, but i dont know. i am from germany, so i dont understand a word in this text. I would be very happy if the person who put my picture on this page would contakt me. e-mail: perdita2001a@web.de
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    Stefanie Schmees

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