Abr 01 2005

CRÓNICA RADIO PAX (1/4/2005)

Publicado por as 9:11 em Crónicas

Muito recentemente, algumas entidades oficiais, para além de outros organismos e pessoas particulares, receberam uma carta assinada pelo recém eleito deputado pelo círculo do Porto e ex- autarca de Ourique José Raul dos Santos.
Esta carta, que o próprio já afirmou ter sido de sua livre iniciativa e cujas despesas de envio foram pelo mesmo suportadas, numa metodologia ímpar e ridícula, apresenta características que em nada abonam a credibilidade quer da Assembleia da República, quer do próprio Grupo Parlamentar do PSD.
Se não, vejamos:
O carimbo apresentado na carta é dos Correios de Ourique, mais parecendo que se verificou uma súbita descentralização dos serviços da Assembleia da República para aquela vila alentejana;
O brasão da República Portuguesa, que vem na carta e também no envelope, foi feito na mais vulgar das impressoras domésticas, fazendo crer que aquele órgão de Estado não tem papel timbrado e homologado oficialmente;
A referência na carta, e não no envelope, de que a mesma é emitida pelo Grupo Parlamentar do PSD, parece querer esconder a verdadeira proveniência, não fosse algum dos destinatários não estar interessado em receber correspondência social-democrata ou do deputado José dos Santos e fosse jogar a carta para o lixo.

Quem recebeu a carta certamente se terá questionado das razões intrínsecas da mesma, pois de todos é conhecida a eleição de José Raul dos Santos, não pelo Distrito de Beja, mas sim por um outro onde essa eleição estivesse garantida, num processo que, certamente, também terá contribuído para a grande derrota do PSD nas eleições de 20 de Fevereiro.

Mas afinal, o que terá levado José dos Santos a escrever tão urgentemente e de forma tão caricata aos alentejanos?
Julgo que a resposta é simples: dias antes, na cidade de Beja, estivera Marques Mendes, candidato à Presidência do PSD, tendo este afirmado que, caso fosse eleito, destacaria um Vice-Presidente da direcção da bancada parlamentar social-democrata para se dedicar aos assuntos do Distrito e do Alentejo, dado que a região não elegeu nenhum deputado do PSD.
Na assistência estava José Raul dos Santos que, obviamente, se sentiu diminuído, preterido e ignorado.
Ora o ex-autarca de Ourique sentiu a necessidade de dizer, por escrito, que tinha sido eleito deputado da nação e que, apesar de ter concorrido pelo círculo do Porto, se iria debruçar sobre os problemas dos alentejanos.
Há uma expressão que caracteriza este comportamento: é o pôr em bicos dos pés e José dos Santos sentiu uma urgente necessidade de o fazer.
E porquê?
Julgo que a resposta a esta pergunta também é fácil de encontrar: com a saída de Santana Lopes, José Raul sente-se órfão e com a previsível eleição de Marques Mendes é provável que o deputado do Porto venha a perder protagonismo. O que, para quem está habituado aos holofotes e a ser o centro do mundo, é muito mau.
Assim, o deputado encontrou forma de, por uma lado, penitenciar-se pela fuga para o Norte e, por outro, dizer que vai cuidar da vida dos alentejanos.
Da forma como o fez, não conquistou a simpatia de ninguém, expôs-se de uma forma rizível, dando razão mais uma vez, a todos aqueles que dizem que o José Raul ficava bem era lá no Porto!

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