Abr 17 2005
CADEIA DE LITERATURA – CHARLIE
O Charlie (leitor assíduo da Praça) aceitou o meu desafio. E acrescentou mais um elo à Cadeia de Literatura. Não tem blog, mas isso não o impede de participar. Ficam aqui as suas respostas.
Não podendo sair do Fahrenheit 451, que livro quererias ser?
Estive quase a fazer um mini blog só para esta resposta, mas como não o quero fazer deixo ao nikonman a estopada de colocar a saída do repto.
Ray Bradbury escreveu Farenheit 451 em 1953, e François Truffaut transformou em filme em 1966.
A temática refere-se aos movimentos cíclicos de fundamentalismos e limpezas ideológicas, que tem como acção fundamental a queima de livros. A destruição da Biblioteca de Alexandria (os livros serviram para aquecer caldeiras), os autos de fé na idade Média e até no Renascentismo, com destaque para o Savanarola que queimava pirâmides de livro e quadros, passando pelo Nazismo e a Revolução cultural do Mao Tse Tung, todos conheceram os autos de fé em que a verdade só poderia vir do poder. No tema, Fahrenheit 451, temperatura de combustão do papel, todos teriam de decorar um livro como forma de perpetuar o conhecimento.
Eu seria o livro “Dialéctica da Razão Vital” de Ortega e Gasset, pela interdisciplinaridade que ele tem na arte do pensamento, remetendo para outros pensadores modernos, com elos para a recuperação dos seus pensamentos.
Já alguma vez ficaste apanhadinho(a) por um personagem de ficcção ?
De facto, todos nós incorporamos as personagens, dos livros que lemos.
Mas o leitor é sempre uma alma vadia cujas transfigurações interiores se alteram ao som do fecho da última página para incorpar nova personagem ao abrir da primeira do livro seguinte. A personagem que mais me apanhou, foi na minha juventude mais temperã (sim porque sou um jovem nos tempos que correm) o elemento central do livro “Colmilhos Brancos” de Jack London. Curiosamente não é nem homem nem mulher, mas sim um lobo.
Qual foi o último livro que compraste?
Por acaso não foi comprado mas foi oferecido. Um pequeno livro escrito pelo dr. Francisco Correia das Neves, que vive em Beja, cujo titulo se chama, ” O crime do Guincho” Agradeço aqui publicamente a oferta, que teve direito a dedicatória. De ler!
Os livros que vou comprar a seguir serão o ” No Logo” de Naomi Klein, e o ” Eu hei-de amar uma pedra” do L. Antunes.
Qual o último livro que leste?
O ultimo livro que li chama-se ” A regra de Quatro” de dois autores, Ian Caldwell e Dustin Thomason.
Mas, tal como muitos, tenho feito releituras, nomeadamente” O Processo” e ” A Metamorfose” do incomparável Franz Kafka, além de ler, como todos, horas a fio na net com destaque para blogs de poesia.
Que livros estás a ler?
Estou a ler “Gods of Eden ” de Andrew Collins.
E um livro lindíssimo que tinha ficado a meio e que se chama “Zabiba e o Rei” do decapitado Saddam Hussein, e que retoma de repente uma actualidade metafórica impressionante perante o que se passa no Médio Oriente.
O livro que irei ler de seguida é de uma série que se chama “Os grandes julgamentos” e é ” Oscar Wilde-O escandalo da Condessa”. Tenho tido a oportunidade de interiorizar ao longo da leitura das diversas obras que compõem esta série o quanto as leis, as normas, a justiça enfim, estão sempre do lado da força, e como mesmo nos regimes democraticos a desvirtuação dos conceitos básicos é regra. Como se diz, “a razão das bestas é a sua força”
Que livros (5) levarias para uma ilha deserta?
Levaria um livro que é fundamental nestes casos. Um manual de sobrevivência. Depois levaria um pequeno livro delicioso que se chama ” O velho que lia romances de amor” do Luis Sepulveda. Usá-lo ia como manual de sanidade mental, e tambem como Biblia de sobrevivencia e entrosamento ecológico. Para que eu não morresse de fome destacaria uma frase entre muitas, só para não cometer os mesmos erros: …Os colonos devastam a floresta construindo a obra prima do homem civilizado, o deserto…
Outro livro que levaria seria “A jangada de pedra” do nosso Nobel. Como metáfora do nosso estado actual, este livro com 20 anos de distância espelha bem a ilha em que Portugal se transformou, estando à deriva e desligado do resto da Europa. Releria esse livro esperando que, por estranho sortilégio, as amarras que prendessem a ilha se despregassem do fundo levando-a para paragens onde visse a luz do sol nascer recortando a silueta dum continente no horizonte.
O quarto livro seria um diário. Para escrever as coisas que nos ocorrem quando temos todo o tempo do mundo.
O quinto livro seria o mais importante: Um poema!
Para estar desterrado
numa ilha qualquer
só quero no meu fado
um poema: a Mulher.
E seria com ela e por ela que teria todos os dias uma entrada no meu diário. Estando sós escreveria ; …querido diário, encontrei hoje a mais maravilhosa mulher do mundo….
A quem vais passar este testemunho (3 pessoas) e porquê?
Passo ao nosso amigo do Alvitrando, à Agatha e passaria tambem ao Ma-Schamba.
E os vencedores são:
Quem é o vencedor? Que pergunta…
Todos sabem que a resposta só pode ser uma…
17 de Abril de 2005 às 11:17
meu caro, nem sei se hei-de agradecer a provocação. bi-provocação, outra chegou há dois ou três dias. Está (estava) respondido. Abraço. E gostei muito disto, da resposta ser de alguém que não tem blog (por coincidência, na minha resposta ao inquérito o repto que lancei foi a leitores sem blog) – acho optimo, até porque por vezes tenho a sensação que os bloguistas (pelo menos eu e os restantes de pouca audiência, não digo os blogporta-aviões) escrevem em circuito fechado, lidos apenas por outros bloguistas.
E finalmente, muito gostei desse centramento no lobo de london
17 de Abril de 2005 às 14:10
Gostei muito das respostas:)
17 de Abril de 2005 às 14:38
Prontinho, Charlie..já está! Beijo Nikonman!!
17 de Abril de 2005 às 15:21
levarias ctg o livrito que ando a ler agora… 🙂 muito bom, estou a adorar!
e gostei da tua primeira resposta, talvez nem todos soubessem o que era o Farenheit 451…
17 de Abril de 2005 às 18:44
Ai…não ias mal acompanhado não…um poema…pois sim!
deixo um beijo, BShell