Mar 06 2005
intimidade
foto: bernadette
Subiu apressadamente até ao apartamento. Sabia que o telefone iria tocar aquela hora e que do outro lado estaria a voz que a entusiasmava.
Ainda teve tempo para se despir e encher um copo com gin tónico. Pôs um Cd a tocar, sem saber bem porquê, pois quando iniciasse o ritual, deixaria de ouvir a música e nenhum som a perturbaria.
Quando levantou o auscultador sentiu-se preparada.
Mais uma vez ele envolvia-a com palavras ardentes.
Levou a mão até aos peitos e, em toques suaves mas firmes, foi-se deixando excitar.
Olhou em frente e viu o seu corpo espelhado na porta vidrada da lareira.
Gostou do que viu. Também o tom de voz, no outro lado da linha, se tornara mais sensual, onde os adjectivos agora eram substituídos por gestos.
Ele fazia-lhe uma visita guiada pelo seu próprio corpo.
Não quis atingir logo o clímax, mas o desejo de sentir o seu sexo explodir era muito forte.
Com a língua humedeceu os dedos, que conduziu lentamente até aos lábios genitais.
Ela ouvia agora aquilo que mais ansiava. Eram explícitos os termos que a faziam arder de desejo.
Quando deixou cair o telefone, o seu corpo vibrava de prazer e o gemido que lançou foi a forma de abafar o grito que explodiu dentro de si.
7 de Março de 2005 às 9:21
Compôs-se, apressadamente e dirigiu-se ao quarto de banho. Enquanto a água quente amaciava a sua pele pensava naqueles telefonemas que a vinham alimentando o imaginário há já semanas! O seu marido tinha saído outra vez para uma viagem de negócios, e o seu melhor amigo tinha-a convidado para mais uma sessão de jantar e cinema. Mantinha com ele uma relação colorida já madura, e não tinha qualquer problemas de remorsos a esse respeito. O seu marido julgava-a meio tonta mas ela tinha já confirmado as suspeitas que vinha alimentando há algum tempo a esta parte. Por isso, sem mais, fazia o seu papel de esposa extremosa e ingénua. Do seu emprego para casa onde o marido a julgava a fada do lar, enquanto ele passava as noites em tiradas Don Juanescas…
Depois de ter visto confirmadas as suas suspeitas sentiu um certo alívio, e mais dia menos dia, sem que ela forçasse as coisas, dar-se ia o desenlaçe e a separação. Mas isso não estava nos horizontes imediatos e por isso deixava a vida correr, tirando o melhor partido da situação.
Um acontecimento porém havia alterado as coisas nas últimas semanas. Uma noite, em que o seu marido estivera fora, tinha saido para jantar e cinema e algo ocorrera. Levados por uma paixão incontrolavel, tinham consumado a entrega mútua nas casas de banho. Depois durante um pequeno passeio no exterior, um estranho viera-lhe pedir lume. Ela tinha deixado cair os documentos, e ele, o estranho tinha-os apanhado do chão e devolvido. Não tinha visto o rosto devido ao escuro pesasse embora o luar, mas a sua voz…
Era a voz que dia após dia ia conquistando o seu imaginário, alimentado a fogo pelos telefonemas que ele, a voz, ia incendiando….