Mar 14 2005
LIXO ABUNDANTE
foto: joão espinho
Que se acumula. Resultante do mercado semanal junto da Praça de Toiros em Beja.
Não parece, mas é mesmo na cidade. E serve de cartão de visita, pois quem entra na urbe, logo a seguir ao cemitério, é esta a paisagem a que tem direito.
Espera-se que com a anunciada deslocação do mercado para junto das piscinas*, a zona abandonada seja limpa e que no novo espaço haja regras mais higiénicas. Em prol do bom ambiente.
* O Praça errou: deve ler-se “para junto do Parque de Campismo”.
14 de Março de 2005 às 12:34
O lixo é a marca deste nosso modelo de civilização baseada no desperdício, onde por exemplo, 94% do custo dum sabonete tem a ver com a sua embalagem.
14 de Março de 2005 às 16:56
O problema suscitado pela fotografia não é tanto de o nosso modo de vida produzir muito lixo – embora também o seja -, mas de haver gente que não cumpre regras mínimas. A generalidade das pessoas não gera situações como a da fotografia, felizmente.
Há que reconhecer que há grupos sociais que se estão borrifando para as regras em vigor na nossa sociedade, sejam elas de civismo ou, mesmo, legais. Não cumprem, não querem cumprir e têm raiva de quem cumpre. Consideram-se fora do sistema no que toca ao cumprimento de deveres… embora, quando se trata de reclamar direitos, estejam sempre na 1.ª linha, e com o apoio da esquerda bem pensante.
Portanto, o que eu espero não é que os ciganos, tendeiros e afins comecem a ser pessoas civilizadas – não acredito em semelhante hipótese -, mas sim que as entidades públicas exerçam o seu dever de fazer cumprir a lei. Neste aspecto, como em muitos outros, pois um dos problemas centrais do nosso País é o medo de exercer a Autoridade.
14 de Março de 2005 às 17:43
@ xavier
É claro que é assim. A culpa está no civismo das pessoas. Mas aprendí algo muito importante ao longo da vida. Numa rua onde todos tem cão basta UM não apanhar os dejectos para a rua ficar suja. Dito de outro modo, não se deve nunca deixar certas coisas entregues ás boas vontades. Um modelo de economia que está assente na produção de lixo, cria sempre muito lixo, esteja ele ou não á vista. O que se ve na foto, são as tais malditas embalagens. Onde vão os tempos da minha avó, que teve um talego para comprar o pão que lhe durou os anos da sua vida? Nós hoje vamos aos supermercados e ele é tudo acondicionado em papelões e sacos de plástico e depois nas caixas acabamos por embrulhar tudo em mais plásticos, para depois chegados a casa deitarmos tudo fora. Quando muito, alguns tem o cuidado (é o meu caso) de separar os lixos. Mas sei que sou uma minoria, e muitos olham para os que separam os lixos como uns tipos assim um pouco tontos. Quando nos vem passar com tres e quatro sacos para o ecoponto, sorriem muito condescendentemente enquanto despejam tudo a eito no contentor ao pé da porta.
É a marca dos nossos tempos. Este nojo só seria ultrapassável se a Camara tivesse posto um ou dois pontos para recolher as embalagens. Os ciganos não tem educação mas os sr engenheiros da CMB não podem ser acusados de falta de formação. Ou será que estamos enganados?
14 de Março de 2005 às 18:43
Charlie
Temos de fazer distinções, pois a melhor maneira de branquear o mais grave é metê-lo no mesmo saco que o menos grave. Vejamos.
A foto ilustra uma situação como aquela a que me reportei no comentário anterior. Levanta-se qualquer mercado, seja onde for e com quantos contentores nas proximidades for, e a cena é sempre a mesma: porcaria e mais porcaria. E nem é preciso tratar-se de um mercado: um grupo de ciganos passa por qualquer edifício ou espaço público (hospital, tribunal, jardim, casa mortuária, etc.)e é sempre a mesma porcaria: desde sacos velhos a restos de comida, passando, às vezes, por dejectos, tudo lá fica, mesmo que haja pontos de recolha de lixo ali mesmo ao pé. Isto não é racismo, é uma constatação.
É claro que nem só os ciganos sujam. E nem me fale nos donos dos cachorros, que na minha rua esse problema é bem grave! Mas, apesar de tudo, nada se compara a situações como a do parágrafo anterior.
Num e noutro caso, a minha posição é a mesma: isto não vai lá com apelos ao civismo. Exerça-se a Autoridade Democrática, com coragem e sem complexos. Quem não cumpre a bem, tem de cumprir a mal.
Finalmente, quanto à forma exuberante com que a civilização ocidental produz lixo, concordo consigo. Mas aí, meu caro Amigo, o meu habitual voluntarismo capitula miseravelmente: não vale a pena remar contra tão forte maré. Resta-me o consolo de pertencer ao tal bando de patetas que separam o lixo.
14 de Março de 2005 às 19:05
@ Xavier
Meu caro, estou 100% de acordo com os seus reparos. Fico feliz por saber que pertence tambám ao Glorioso Clube dos Patetas Separadores. Quanto aos ciganos e não ciganos, se tiverem lá os contentores, então pode exercer-se a autoridade democrática sem contemplações. Doutro modo, há sempre um desculpa. Conheço pessoalmente tendeiros, mais jovens (poucos) que são umas ilhas no meio da tradição da porcaria. Quando eles levantam a tenda não se nota que lá estiveram. Decerto que serão uns poucos tristes contaminados pelo nosso Patetismo ecológico.