Fev 14 2005
IRMÃ LÚCIA
A campanha suspende-se em sinal de luto. PSD e PP são os timoneiros desta atitude. O PS embarcou. O governo decreta luto nacional.
A Igreja e o Estado são poderes separados e independentes.
Se algum dos candidatos a 1º Ministro tivesse a mínima noção de Estado, respeitaria na morte toda uma vida de silêncio, recato e clausura e deixava-se destes teatros eleitorais.
Mas isso seria exigir muito…
14 de Fevereiro de 2005 às 11:45
Terei confundido ou terei ouvido mal… mas o Governo não está a pensar decretar feriado nacional amanhã??!
14 de Fevereiro de 2005 às 11:55
@gotinha – Luto nacional não é feriado.
Bandeira nacional a meia haste e não há cerimónias oficiais (daquelas festivas). Querias mais um dia de festa, não?
15 de Fevereiro de 2005 às 0:30
Pungente!
A sala estava cheia de convivas. Todos aguardavam que o lider do partido chegasse. Alguns, já com o estomago a dar horas, olhavam para os relógios impacientes.
Sentados á mesa, sentiam o desconforto da impaciencia quando a espera ja passa do razoável. A um canto, os srs da TV aguardavem. Sem pressas, sem vagares. Afinal, tanto é trabalho aquí como alí mais á frente. No comício dos outros ou neste jantar vai dar tudo ao mesmo no recibo do fim do mês.
Nisto a reporter olhou para o relógio. Se fosse para um Telejornal, ela juraria que a todo instante o lider estaria a entrar pela porta dos fundos da sala. “Just in time” para entrar em directo para todo o país, pensou ela. No entanto, algo de muito importante entrara no combate politico. Alheio ao fenómeno em si, era porém um valor de peso absoluto. A força aglutinadora que representa fé e a crença, fazem mover montanhas. Todo um povo pode correr atrás duma quimera. Cegos a raciocínios, surdos a argumentos, mudos a tudo que desdiga a sua fé, a luz que os guia é mais forte que o Sol. Bendito povo que crê!
O lider acabou de chegar! Os presentes, de repente dispertos da sua modorra e aborrecimento, levantam-se. Esticam os pescoços, apontam na direcção que mais lhes pareçe.
-Ainda não é ele.- dizem umas vozes em surdina. Mas não! Era mesmo. E no meio dumas salvas de palmas e vivas discretos, (era tudo gente bem) o lider enche a sala.
A sua pose é serena e grave. Os presentes fazem silencio. Um silêncio surdo. Os olhos trazem um brilho de triunfo, mas as expressões facias, misturam tudo num luto. Ao pescoço ele traz a Irmâ Santa pendurada. Preta de pesar e sentimento. Entretanto ele olha para o pessoal da Tv, -Já estao gravando.- Aí, ele assume a pose e diz quanto lhe pesa a morte da irmã na alma. Pede um minuto de silencio em memória. Fala e olha para as camaras da TV, e mostra para todo o povo do País como ele vive os sentimentos Divinos. Por fim, em nítida assumpção da sua messianica predestinação para o sacrificio, resolve ir-se embora sem acompanhar os convivas no repasto. -São os valores, estou comovido!- diz ele em jeito de despedida. -Em profunda comunião de valores cristãos, o nosso partido interrompe a campanha durante dois dias!- Sai com os olhos rasos de lágrimas e faz questão que as camaras apanham em grande plano o beato desempenho.
Na sala os empregados começam a distriuir as virtualhas. Os olhos alegram-se, as linguas soltam-se, os estomagos reconfortam-se. Um quarto de hora depois a sala está cheia de som e alegria. Cá fora, o-da-gravata-preta, regozija-se. As Tv irão passar este momento alto. -Estive bem- Pensa ele, Estive á altura. Sou um homem de Estado!…
Lá para os lados de Coímbra, um corpo começou a viagem em direcção á sua dissolução na Madre Terra. Donde tudo sai, e para onde tudo volta.
No carro, já de viagem, o lider fala com dois acólitos, -Então estive bem?-
Óptimo disseram, Temos aqui já tirada a cassete. -Oh chefe, calhou mesmo bem a morte da irmã- Por esta não esperavam eles. hihihihi
Um pouco incomodado, o chefe riu-se de leve. Sem mostar o rosto, sem se expor, pensou na cara dos seus adversários: Ateus, perigosos esquerdistas e radicais de esquerda….Uma corja! Ah mas hoje! Hoje tudo mudara. Deus é grande. -Estive á altura!Como sempre, mas melhor que de costume!- E terminou o pensamento.
No restaurante, um musica pimba acompanhava já os cafés e os digestivos. “Life must go on.” E os seus votos estão tão certos agora como antes.
-Que idade tinha a irmã?- pergunta um ao seu vizinho.
– A irmã de quem?-
– Então não sabes?-
– Não! o que se passa?
– Morreu a irmã Lucia!.-
– Ah… Pois, não estou a ver-
– Oh homem, a Irmão Lúcia dos tres pastorinhos de Fátima!-
– Mas…então aínda era viva?…..