Jan 21 2005
CRÓNICA RADIO PAX (21/1/2005)
Termina hoje uma semana que, seguramente, ficará a fazer parte da história conturbada do famigerado aeroporto de Beja. Serão, julgo eu, páginas que alguns tentarão arrancar e destruir, pois elas estão carregadas de linhas tortas, de palavras feias e, o pior de tudo, cheias de atitudes inacreditáveis e sem pudor. A história do Aeroporto de Beja é, hoje, muito mais a narrativa da sua Empresa e respectivo conselho de Administração, do que de aviões ou pistas e terminais de carga.
Já não se fala no projecto, ninguém sabe se há projecto e, quem quis dar o seu contributo para que, de facto, algum projecto avançasse é afastado da Presidência da referida empresa e aqueles que, legitimamente, vêm manifestar a sua indignação são considerados ignorantes, que prosseguem interesses ocultos e que em tudo vêem má fé.
A Empresa do Aeroporto, a tão conhecida EDAB, é palco para que actores de elevado gabarito mostrem que, na verdade, desempenham na perfeição os papéis que escolheram e que estão mais de acordo com as suas aptidões.
Numa ocasião em que o bom senso exigia moderação, a EDAB transformou-se na figura de um só homem, todo-poderoso, a quem ninguém pede contas e que se limita a distribuir, a seu belo prazer, os peões que o possam defender de algum xeque-mate.
Serei provavelmente acusado de estar a falar daquilo que não sei. Acredito plenamente que nem todos os dados sejam de conhecimento público. Mas as vozes que tenho ouvido insurgir-se contra o estado a que chegou a EDAB são de gente responsável, idónea e que tem dado provas do seu desinteresse pelas mordomias que, habitualmente, são oferecidas a quem desempenha funções públicas. Mesmo estes são suspeitos de má fé, seguramente porque aqueles que assim presumem sabem o que é a má fé e como é que se age dessa forma.
Há também à volta desta história da EDAB alguns silêncios que, parecendo desinteressados, se tornam incómodos e ensurdecedores.
Os responsáveis políticos da cidade e do distrito não podem, contrariando o que sempre fizeram em ocasiões anteriores, remeter-se agora a um silêncio que mais parece de consentimento. Se assim é, então que venham esclarecer a opinião pública e os cidadãos de que, afinal, estão de acordo com os que dizem que tudo não passou de uma tempestade num copo de água. Esconder-se atrás de um “nada a declarar” é atitude ligeira demais para quem tantas responsabilidades tem na cidade.
O projecto do aeroporto de Beja é do interesse regional e também nacional. Ninguém pode ficar indiferente ao que se passar na empresa que gere os destinos do projecto, pelo que deixo aqui o meu grito de protesto e digo: “Basta!”.
Não quero terminar esta crónica sem me referir a um assunto que tem mobilizado grande parte dos portugueses.
Refiro-me à solidariedade subitamente manifestada por muitos portugueses ao rapaz indonésio de 7 anos que sobreviveu à catástrofe no sudeste asiático. Aquela criança viveu durante 19 dias o terror. Teve a sorte de uma equipa de jornalistas o ter encontrado. Certamente que não se esquecerá, quando um dia for homem, que, no meio da desgraça, ele foi bafejado pela sorte e que o destino o levou a ser alvo de uma imensa solidariedade de um povo que fica lá longe.
Porquê? Porque na hora da desgraça envergava a camisola da selecção portuguesa de futebol.
Este simples facto faz dele, que não tem culpa nenhuma, o instrumento que põe a nu o quão hipócrita pode ser o Homem.
Escuso-me de referir aqui o rol de dádivas e promessas que atravessaram já os continentes.
Mas não posso deixar de referir que, neste País, neste Portugal europeu do século 21, há muitas crianças que vivem também o horror da fome, do frio, da falta de dignas condições de vida, vítimas inocentes da pobreza e da miséria. Estas crianças, infelizmente, não envergam a camisola das quinas, pelo que não terão direito aos donativos e prendas da Fundação Luís Figo, da Federação Portuguesa de Futebol ou de uma empresa de móveis de Paços de Ferreira.
Apetece perguntar: até onde vai a hipocrisia humana?
21 de Janeiro de 2005 às 11:04
Para que se ponha fim a isto, so vejo uma solução ; Policia!
21 de Janeiro de 2005 às 13:57
Grande crónica. Aplausos.
22 de Janeiro de 2005 às 11:42
@ charlie
Para que se ponha fim a isto só vejo uma solução: Na terça-feira são eleitos novos administradores… vamos deixar trabalhar e criticar, se houver razões, no final!!