Dez 31 2004
2004
“Nada é mais difícil do que partilhar um amor”
Natalie Barney
Poderia começar assim o balanço deste meu ano que hoje termina.
Poderia até dizer mais de mil vezes tudo o que senti e vivi.
Mas quem poderia compreender as palavras que tentam dizer tudo aquilo?
Seriam linhas e mais letras, talvez até escrevesse um poema.
Uma fotografia apaixonada seria o remate final. Esperado.
Quem sabe se a letra de uma música, daquela música especial, não seria a tradução ideal desse balanço de final de ano…
E poderia eu falar da Lua, do Sol, do Eclipse, da Terra; seriam as imagens em forma de palavras, seriam o reflexo de um sentimento.
Quantas letras teria que soletrar aqui para que se compreendesse aquilo que quero dizer?
Não, não vou escrever.
Nada é mais difícil do que partilhar um amor.
E é esse o sumário possível!
31 de Dezembro de 2004 às 19:52
No espelho que a água fazia
voltou a olhar intensamente
Estudou como a face envelheçia
Uma lágrima correu de repente
Tantos anos em confissão
o Amor que por ele próprio sentia
E agora sem mais, a traição!
Porquê esta água o faria?
-Jamais assim voltarei
repartir o Amor com alguém
do amor que me tenho sou eu Rei
não o vou mostar a ninguém!-
E assim dizendo fugiu
da água que o atraiçoara
andando nem sequer sentiu
as mãos que afagavam a cara
Dedos rugosos e curvos
gastos por anos a fio
Os olhos continuavam turvos
as ideias, tudo em corropio
-Que bem agora me sinto
bem longe dessa mentirosa
sou belo amo-me, não minto
vou cantar-me em glosa e prosa
E abrindo a boca em pose
para cantar a sua beleza
caiu no chão em tosse
chorando a sua tristeza
-O boca que me traiste
à agua malvada te juntaste
por ti me sinto tão triste
peço que de mim te afastes!-
e fechando de vez a boca
Enquanto no chão gelava
sonhou com a sua beleza
Enquanto a Morte o levava…